Capítulo 8 - A loucura começa

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Era difícil acreditar que nós sobrevivemos. Claro, as outras duas duplas ainda estavam feridas, mas saímos vivos e era isso o que importava.

Chico e eu não trocamos muitas palavras depois de voltar pro quarto, estávamos exaustos de toda a perseguição mortal. Tomamos banho e ele deitou direto na cama, mas eu fui me empanturrar na cozinha, por que eu merecia. Lá eu encontrei com André, dos Cinza Rato.

- Flamingo... - ele começou, cabisbaixo. Apoiava a barriga com uma das mãos por causa do ferimento grave que teve - Pode me explicar o que está acontecendo? Que porra é essa que estamos metidos?

Suspirei com dificuldade.

- Colé, Rato... Olha, eu queria muito te ajudar, mas não sei muito bem o que é isso, estamos no mesmo barco - respondi entre uma garfada e outra. A mesa era enorme e farta, tinha de tudo, literalmente tudo o que seja possível imaginar. Era noite e só tínhamos nós dois na cozinha, a Gerente não tinha feito nenhuma declaração desde que chegamos.

Ele sentou ao meu lado enquanto gemia, me segurei pra não rir.

- Você sabe mais que eu, sabia que a gente tava morto, sabia o que fazer no desafio... Você tá escondendo o jogo da gente, diga aí que negócio é esse, véi.

Senti uma gota de suor descer por minha testa. André estava péssimo, os olhos fundos, cara pálida e cabelo seco. Mesmo tendo passado apenas um dia ele aparentava ter perdido muitos quilos e já não tinha a mesma jovialidade de outrora.

Era complicado, Chico me disse pra não dar nenhuma pista a nenhum outro participante ou coisas ruins aconteceriam então o que eu poderia fazer? Também não queria mentir na cara de um dos nossos aliados, era quebra de confiança e isso é veneno pro trabalho em equipe... eu estava dividido.

- André, veja bem... Essa é uma jornada espiritual, pelo que parece, então precisamos fazer nossas descobertas e evoluções sozinhos pro nosso próprio bem - me esquivei.

- Flamingo, eu preciso ver minha mãe, você vai ter que me dar mais informação do que isso. Por favor, ela é doente, não vai conseguir manter a casa sozinha, quem vai cuidar dela? Eu preciso voltar o mais rápido possível.

Era preocupante a situação dele... mas já estávamos mortos, não era mais possível fazer nada. Esse apego dele à vida vai acabar interferindo no desempenho dele na competição e eu não queria que isso continuasse.

- Rato, olha... Eu entendo que você tenha toda essa problemática, mas isso ficou pra trás, não temos mais o que fazer, você sabe que os mortos não voltam. 

- Eu odeio quando você começa a falar difícil.

- Não temos o que fazer, Rato. Essa é a verdade. 

- Não, não pode ser assim. Minha mãe precisa de mim, se os mortos não voltavam, vão começar a voltar agora, eu vou ser o primeiro! O que a gente ganha se vencer?

- Só uma dupla vence.

- O QUE A GENTE GANHA? - parei de comer e o fitei sério.

- A Gerente disse que era um perdão. Uma chance - respondi.

- Uma chance? Tá vendo aí? É a nossa chance de voltar, Flamingo! Minha chance de rever minha mãe, de continuar ajudando ela, de voltar pra minha vida! 

- Rato...

Ele levantou devagar.

- É isso, Flamingo. Você precisa me ajudar a ganhar! Eu preciso!

- Precisa?

- Claro, que outra pessoa tem um motivo tão importante quanto o meu? É a minha mãe! 

- Você já perguntou pra todos? 

Dança dos FlamingosOnde histórias criam vida. Descubra agora