Capítulo 04

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Quando entro em casa observo os gêmeos sentados na escada enquanto aparentemente tentam escutar a conversa que vinha da sala, onde nossos pais estavam com Clint e Laura. Resolvo me juntar a eles e apesar de ser impossível escutar alguma coisa, era mais reconfortante ficar ali e observar o desenrolar de toda essa história. Ninguém falou nada, só ficamos ali, cada um perdido em seus próprios pensamentos, até que o silêncio deixou de ser confortável e passou a ser estranho, nunca ficávamos calados por tanto tempo, felizmente a campainha tocou naquele momento e eu praticamente corro para ir atender.

Uma senhora baixinha com uma expressão zangada e preocupada entra sem esperar que eu libere sua passagem. Os fios de cabelos brancos misturados com os castanhos praticamente bateram na minha cara quando ela se vira ao ouvir Wanda lhe chamar. Aparentemente aquela era Bella Duncan, a avó materna de Laura. Preocupada com a reação da senhora e com medo de que ela também fosse brigar com a neta, abro a boca para reclamar de sua entrada abrupta, mas ela era mais rápida.

- Cadê aquela idiota da minha filha? Quando pegar ela eu vou... – o que ela faria com Heloise Dinkley era um mistério, já que a mesma não conseguiu completar a frase de tanta raiva, mas com certeza não envolvia beijos e abraços – Quem ela pensa que é para desprezar a filha assim, eu não acredito que errei desse jeito na criação dela... Ah, Wanda querida, como você está?

Pietro se encontrava tão assustado quanto eu, mas parecia que Wanda já conhecia e estava acostumada com as mudanças abruptas de humor da senhora. As duas ficam conversando por alguns instantes antes de Laura aparecer ali e correr para os braços da avó. Meus pais observam a cena a distância, a senhora acolhe a neta e repete várias vezes que vai ficar tudo bem, que elas vão dar um jeito. Bella oferece um sorriso triste para meu irmão e a namorada, claro que as coisas não seriam fáceis, mas eles iriam conseguir, tinham o apoio de quem importava e isso seria mais que o suficiente. Laura se despede de todos, demora mais no abraço de Clint e vai embora com a avó.

Lógico que aquela situação estava longe de acabar, mas só o fato de ninguém ter morrido já era considerado um sucesso. Largamo-nos no sofá e poltronas da sala de estar, mentalmente exausto, cada membro da nossa família perdido em pensamentos e repassando tudo o que aconteceu. Meu pai é o primeiro a se recuperar e dirige aquele olhar que faria a Medusa sentir inveja para Clint.

- Não pense que escapou de conversarmos a sós – ele vai levantando e é perceptível o quanto meu irmão luta para não fazer uma careta ao ouvir essas palavras – Vou telefonar para Harry, ele precisa adiar a reunião para a próxima semana, não vou poder viajar até termos resolvido toda essa situação – Ivan da um beijo na minha testa e na cabeça de Wanda antes de sair – Estou te esperando no meu escritório, Clint. Não demore.

- Droga – escuto meu irmão resmungar baixinho assim que meu pai some das nossas vistas.

- Poderia ser pior, o senhor Dinkley poderia ter sua cabeça empalhada na lareira dele nesse momento – Pietro brinca, eu e Wanda seguramos a risada, mas nossa mãe não pareceu gostar muito, pois desferiu uma tapa contra a cabeça dele – Ai!

- Muito cedo para piadas, tente de novo daqui a alguns anos – Susan massageava as próprias têmporas, claramente cansada de todo o estresse que passou e ainda ia passar – Felizmente as mulheres dessa família tem bom senso, porque se a gente fosse depender de vocês...

- Ainda bem mesmo. Eu já disse que amo vocês hoje? Eu amo vocês. Agora com licença, eu preciso enfrentar a fera – Clint sai e pouco tempo depois nós também nos dispersamos, a maioria seguindo para seus respectivos quartos, felizes pela situação está ao menos controlada. 

Só quando estava bem tarde da noite me lembro da ligação da Hill e o quanto a mesma parecia nervosa

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Só quando estava bem tarde da noite me lembro da ligação da Hill e o quanto a mesma parecia nervosa. Que bela amiga eu era, simplesmente havia ignorado minha amiga. Tento me lembrar de que eu estava ocupada resolvendo problemas sérios também, mas minha mente traiçoeira tinha a mania de gritar as coisas que eu fazia de errado, fazendo com que eu me sentisse mais culpada do que deveria.

Com o aparelho celular em mãos espero que Maria retorne minhas ligações, mas isso não acontece. Provavelmente a mesma já estava dormindo, afinal amanhã era o primeiro dia de aula e com certeza Hill não iria querer parecer um zumbi no primeiro dia de aula. Sorri lembrando-me das vezes que nós levamos bronca da última integrante do nosso trio: Pepper Potts. Ela estava sempre especificando a importância de dormir cedo e se ter uma boa noite de sono, e sim, eu sabia que a Pepper estava certa, mas que culpa tinha se minha mente às vezes parecia não querer desligar?

Essa seria uma das noites que pareciam não ter fim. Eu encarava o teto do meu quarto, contando e recontando as diversas estrelas que tinham sido coladas nele, até que desisto de conseguir dormir, pelo menos sozinha é que não ia ser. Fecho a porta do quarto com cuidado para não fazer muito barulho e sigo na ponta dos pés até o quarto de Wanda, que felizmente não tinha a mania de dormir com a porta trancada.

Assim que entro no quarto, desvio de algumas coisas que tinham espalhadas pelo chão que provavelmente minha irmã arrumaria amanhã antes que nossa mãe visse e tivesse uma síncope. Deito na cama de casal ao lado dela, cutucando levemente seu braço.

- Você está dormindo? – era uma pergunta idiota, mas precisava quebrar o gelo para não ser expulsa dali.

- Eu estava até ter minha cama invadida por uma intrusa – ela resmunga ainda com a cabeça virada para o outro lado e os cabelos completamente desgrenhados.

- Não consigo dormir – sussurro olhando para cima.

- Foi um longo dia. Quer conversar sobre isso? – apesar de estar claramente com sono, ela vira na cama para me encarar, murmuro um "não" e ela fecha os olhos – Ainda bem, agora deita aí e dorme.

A mesma segura minha mão e nós ficamos assim, deitadas em silêncio, até sua respiração ficar pesada de novo, indicando que a mesma voltara a dormir. Nós sempre fomos próximas, desde quando éramos somente primas que se viam de vez em quando. Wanda e Pietro eram filhos da tia Magda e do tio Adam, irmão de Susan, mas quando eles tinham sete anos um acidente de carro tirou a vida dos pais deles e assim os gêmeos vieram morar conosco, afinal minha mãe era a guardiã legal no caso de algo assim acontecer, e após alguns anos meus pais os adotaram legalmente e Wanda e Pietro decidiram que queriam acrescentar o Romanoff ao nome deles e apesar da tragédia, a vida não os deixou desamparados, sabia que meus pais amavam os gêmeos como se fossem seus, e bem, eu e Clint com certeza amávamos os dois como se eles fossem nossos irmãos, até por que... eles eram.

Aos poucos o sono foi chegando, entretanto eu deveria ter entendido que começar o ano letivo desse jeito não seria realmente um bom sinal, mas preferi ignorar, na verdade existem diversas coisas que eu ignorei durante a minha vida. Infelizmente, elas voltaram com força para mim e eu realmente não poderia fingir que não via dessa vez. Tão ingênua e tão estúpida. Se eu soubesse o que aconteceria no dia seguinte, com certeza não teria saído da minha preciosa cama.

 Se eu soubesse o que aconteceria no dia seguinte, com certeza não teria saído da minha preciosa cama

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O Mundo Segundo Natasha Romanoff - HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora