Capítulo 03

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O sorriso que Camila recebeu foi tão desconcertante que ela precisou desviar o olhar.

— Bom dia, senhorita... - embora soubesse perfeitamente quem ela era, Lauren fingiu o contrário.

— Camila! Meu nome é Camila. - ela se apressou em dizer.

— Lauren Jauregui. - disse ela, estendendo a mão para cumprimentá-la. O aperto de mão durou mais do que as duas esperavam, e só se desfez quando um membro do staff apareceu oferecendo algo para que elas tomassem. As duas recusaram e em seguida se sentaram.

— Eu...bom...

— Camila começou.

— Estou aqui para me desculpar.

— Se desculpar?

— Sim. Pela noite anterior. A forma como eu e minha acompanhante saímos daqui. Acompanhante no sentido de amiga, só isso. Ela é minha melhor amiga, é como uma irmã para mim, caso esteja pensando outra coisa...

Lauren a analisou, depois deu um sorriso demonstrando que entendera. E perdida diante daquele sorriso, Camila se perguntou o quanto de sua alma aquele olhar intenso esverdeado havia alcançado.

— Tudo bem, Camila. Eu entendo.

— Ah, a conta. Nós não pagamos a conta. É que...eu não me sentia bem...

— Não se preocupe. Afinal, quem se atreveria a importunar a filha do governador por causa de uma garrafa de vinho?

O comentário pareceu não agradar nem um pouco a Camila, e Lauren percebeu, tarde demais, que a brincadeira teve um efeito contrário. Ela tentou pensar em alguma coisa para dizer, mas, sinceramente, não ousou sequer olhar em seus olhos.

— Com licença! - ela exclamou.

Constrangida, saiu da recepção. Na verdade, saiu correndo da recepção. Lauren ficou parada, observando-a com os olhos que não haviam se fechado na noite anterior, em silêncio, enquanto Camila desaparecia.

[...]

— Caramba, Camila. O que foi que aconteceu?

— Aconteceu que eu fui lá, me desculpar naquela droga de restaurante! E sabe o que foi que eu ouvi daquela "Chef" metida a sei lá o que? Que ninguém se atreveria a importunar a filha do governador por causa de uma mísera garrafa de vinho! Camila não sabia se queria rir ou chorar, então fez as duas coisas.

— Bem, até que faz sentido o que ela disse. Então qual é o motivo da sua irritação?

— Exatamente esse! As pessoas me veem como a filha do governador e nada mais. Toda essa cordialidade, educação, aproximação, é só por isso. Nada é sincero ou verdadeiro. - Ela suspirou. Será que Regina ouviu a fragilidade em sua voz? Não sabia, e já não se importava.

— Isso não é verdade, Camila. Eu sou sua amiga e o fato do seu pai ser quem é nunca me importou.

— Eu sei... Com você é diferente... - irritada, desviou o rosto para evitar a censura explícita nos olhos da amiga.

Desde que Regina regressara do exterior, Camila já não se sentia tão solitária. Mas em alguns momentos tinha a impressão de estar à margem de tudo. Como se todas as pessoas próximas a ela estivessem apenas fazendo figuração.

— O que acha de me encontrar as dezesseis em ponto no café da Granny? Porque daqui a meia hora eu tenho uma reunião de trabalho.

— Está bem. Obrigada por me receber e desculpa por...

— Ora, pare com isso. - interrompendo-a, Regina a acompanhou até a porta. — Vá para casa e descanse um pouco.

— Está bem. Nos vemos mais tarde.

PenitênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora