Capítulo 07

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Para Lauren, algumas famílias eram como árvores bem cuidadas, outras, eram como campos de batalha. Ela pensou que o campo minado em que viviam teria se extinguido com o abandono do pai violento. Mas a ilusão de uma vida tranquila ao lado da mãe e do irmão se dissipou quando um acidente na estrada os deixara órfãos. Na época, Lauren estava prestes a completar onze anos. Seria difícil esquecer a sensação de vazio que a envolvera naquele dia. Na mesma noite, fotos do acidente foram exibidas nos noticiários, a vida deles, de uma família que tentava recomeçar, contada em detalhes. Uma dupla de policiais acompanhados de uma assistente social se preparavam para levá-los a um orfanato quando ela apareceu: Cora, a advogada que os criara como se fossem seus filhos; a mãe de Regina.

— Precisamos falar com Regina — disse Lauren, de supetão.

— Ela é advogada e saberá nos orientar. Christopher assentiu e Lauren subitamente ligou para Regina.

Elas ficaram de se encontrar no apartamento da ruiva no final da tarde. De repente, uma lembrança flamejou como um trovão, sem que ela pudesse evitar. Lembrou do seu encontro com Camila e mesmo hesitante, preferiu cancelar. Enviara uma mensagem onde afirmara não se sentir bem, mas que não demoraria para que voltassem a se ver. Camila pareceu preocupada em sua resposta, todavia, deixara claro que compreendera.

— Me perdoe por envolvê-la nisso — a fala embargada de Christopher atraiu sua atenção.

O tremor da voz, o pedido de perdão nos olhos e nas palavras, e a certeza de que o remorso o corroía, dissiparam seus julgamentos. Na noite anterior, enquanto tentava dormir, Lauren dissera a si mesma que ficaria fora daquela história, mas seu próprio conselho soou vazio e sem sentido. Christopher era seu irmão e precisava de ajuda.

[...]

Houve uma batida. Antes que Alejandro autorizasse a entrada, a porta do escritório se abriu. Austin entrou no cômodo, a expressão não era a de quem trazia boas notícias.

— Temos um problema — disse, arqueando uma sobrancelha.

— Aliás, temos dois problemas. Ou três, se levarmos em conta...

— Sem rodeios, Austin — alertou Alejandro, cortando-lhe a fala.

— Lembra do nosso sequestrador? Sua filha está se deitando com a irmã dele. Com tanta mulher no mundo para fornicar, Camila tinha que escolher justo essa — ele riu notando o desconforto de Alejandro.

— Mas isso não é tudo. O filho da puta do Christopher está lá, no apartamento da irmãzinha.

Eles se encararam. O silêncio começou a se acumular, amargo e forte como aroma de café. Então Alejandro ficou de pé, ignorando o comentário do filho, foi até um armário do outro lado e abriu uma gaveta. Com um envelope amarelo nas mãos, ele voltou para sua cadeira e sentou.

— Acredito que seja o suficiente para silenciá-lo — Alejandro atirou o pacote na sua direção. Enquanto observava o conteúdo do envelope, Austin sorriu ironicamente.

— Acha mesmo que Christopher aceitará cinco mil para não abrir o bico?

— Christopher? Não, de forma alguma. Mas o seu carrasco, sim. Agora vá e faça o que tem de fazer.

— E quanto a namoradinha da sua filha?

— Por enquanto dê um jeito em Christopher. Pensamos nela depois.

[...]

Naquele dia frio e cinzento, a cidade fervilhava sob um céu de nuvens escuras. Lauren e Christopher se preparavam para sair quando a campainha soou. Caminhando até a porta, ela viu através do olho mágico que se tratava de Camila. O coração disparou.

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