Capítulo 02

4.2K 352 30
                                    


As lágrimas que ela estava segurando arderam em seus olhos. Amedrontada, Camila as limpou rapidamente com as costas de uma das mãos. O telefone celular, a bolsa e o GPS do veículo foram abandonados em algum lugar naquela estrada nunca antes percorrida.

— O que você quer de mim? - foi tudo o que ela se arriscou a dizer sem chorar.

Não houve resposta. Temendo pela própria vida, Camila permaneceu o resto do caminho em silêncio, concentrando-se na paisagem à sua volta onde tudo parecia florescer em perfeita harmonia com a natureza. O sol estava se pondo quando a ordem para que ela parasse o carro açoitou os seus ouvidos. Ela observou a cabana abandonada diante dos seus olhos tentando registrar cada detalhe, mas Christopher pareceu compreender suas intenções e então lhe cobriu a visão com uma venda. De repente, a porta do carro se abriu e ela foi puxada para fora.

— Por favor... - Camila choramingou enquanto era levada para dentro da cabana. — Se é dinheiro que você quer, meu pai pode lhe dar. - disse ela, mas a única resposta que obteve foi o barulho de uma porta se fechando atrás de si.

Ainda que estivesse apavorada, Camila soltou um suspiro de alívio quando percebeu que podia retirar a venda dos olhos. Ao menos poderia circular pelo quarto e estudar uma forma de escapar daquele lugar. Ela analisou o cômodo e para sua tristeza, não havia janelas. Havia apenas um colchão, uma cadeira de madeira e um banheiro minúsculo ao fundo. Camila sentiu vontade de gritar, cair de joelhos e esmurrar a porta até que aquele homem a abrisse, mas estava tão à beira das lágrimas que não ousou se mexer ou falar. Aos poucos, foi tentando se tranquilizar.

Alguns dias depois... As horas iam passando lentamente e do outro lado da porta, Christopher caminhava em círculos, preocupado pela ausência de notícias por parte de Austin, e irritado com os gritos de Camila. Ela implorava o tempo todo para que ele a deixasse ir embora. Foi então que ele se lembrou de Lauren e do que havia lhe prometido. Alcançando a mochila, Christopher pegou um dos celulares descartáveis e digitou o número da irmã.

— Alô? - disse Lauren, enquanto procurava um canal interessante na TV.

— Lauren, sou eu, Christopher.

— Christopher? De onde é que você está ligando? Parece-me que...

— Lauren, depois eu explico. Eu só queria saber se está tudo bem e dizer que, infelizmente, eu não vou poder te encontrar essa noite como havíamos combinado.

— Por que será que eu não estou surpresa?! - ela riu, sabendo que o laço entre os dois era mais forte e maior do que a mágoa e o ressentimento.

— Desculpe, está bem? É que eu estou muito ocupado tentando investir no nosso futuro. E se tudo der certo, você nunca mais precisará trabalhar em uma droga de cozinha de restaurante.

— Christopher, eu sou uma Chef, estudei para isso e gosto do meu trabalho. - ela revirou os olhos, chegando a conclusão de que seu irmão jamais a compreenderia.

— Tudo bem, mas você não me respondeu: como vai? O que está fazendo?

— Eu vou muito bem, irmãozinho. Tirei o dia de folga pensando que você viria. Agora estou aqui, entediada porque na televisão não se fala de outra coisa que não seja o sequestro da filha de um político. As palavras chegaram aos ouvidos de Christopher como pedaços de metal partido, afiados e frios. Suas mãos começaram a tremer e o celular quase caiu.

— De quem você está falando? - indagou ele, tentando disfarçar a preocupação em sua voz.

— Do candidato a governador, Henry Mills. A filha dele foi sequestrada, mas parece que a polícia já conhece o seu paradeiro.

PenitênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora