Capítulo 04

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Dirigir com os olhos cheios de lágrimas era difícil, mas Lauren continuou apesar de tudo. Quando chegou em sua casa, tomou remédio para dormir pela primeira vez na vida e, embora seu sono tenha sido sombrio, entrecortado e agitado, foi infinitamente melhor do que permanecer acordada. Ao despertar, a verdade que ela vinha tentando superar pousou sobre o seu peito, tão pesadamente que ela mal conseguia respirar. Camila tinha um sobrenome de peso, e usara isso para atingi-la.

[...]

— Oi, Camila. Podemos conversar um minuto?

— Regina? Nossa, que surpresa! Faz muito tempo que você não vem à minha casa.

— Não vou tomar muito o seu tempo.

— Ora, não se preocupe. Vamos à biblioteca. Camila indicou o caminho e sorriu, mas havia preocupação em seus olhos.

— Você quer beber alguma coisa?

— Não, Camila. Como eu disse, não vou tomar muito o seu tempo.

— Aconteceu alguma coisa? Você parece...chateada.

— Eu não estou chateada. Na verdade, estou decepcionada. Não esperava isso de você.

— Hã? Não estou entendendo.

— Como foi capaz de usar a sua influência para prejudicar Lauren?

— O quê? - uma emoção a invadiu e comprimiu seu peito. — Do que é que você está falando? Eu não usei nada e nem prejudiquei ninguém.

— Ah, não? E como você explica o fato dela ter perdido o emprego porque a "filha do governador" foi se queixar?!

— Eu não me queixei de nada, Regina! Além disso, por que é que você está tão aborrecida? Você nem a conhece.

Não havia por que esconder a verdade, embora Regina sentisse uma necessidade quase instintiva de fazer exatamente isso.

— Conheço mais do que você imagina.

— O que é que você está querendo dizer com isso?

Quando Regina revelou seus laços de amizade com Lauren e sua intenção ao tentar aproximar uma da outra, Camila olhou para ela com tanta frieza que suas mãos começaram a tremer. Havia também uma raiva crua e terrível, diferente de tudo o que ela já sentira. Camila tinha tão pouca experiência com raiva de verdade que ficou assustada. Chegou a temer que, se começasse a gritar, não fosse parar nunca mais. Então manteve suas emoções aprisionadas e ficou sentada em silêncio.

— Desculpa. Eu só queria te ajudar a ser como antes, a conhecer uma pessoa legal. Desde aquele sequestro você se isolou, perdeu a confiança nas pessoas e está com toda a razão. Por isso eu planejei esses encontros com Lauren. Porque ela é uma pessoa maravilhosa e gosta de você.

Camila não reagiu. Após um momento, Regina virou-a delicadamente para si, tomou suas mãos e esperou até que ela a fitasse.

— Você me perdoa? Camila sentiu um aperto no estômago, e quando por fim falou, tinha a voz firme. Mas era possível sentir uma certa mágoa no som da sua voz.

— Tudo bem, não se preocupe.

Regina ficou surpreendida. Não esperava essa resposta, afinal, ela conhecia muito bem a personalidade difícil da amiga.

— Quer dizer que você não está brava comigo?

— Não, Regina. Ainda que eu não concorde com o que você fez. Quer dizer, eu gostei de ter conhecido Lauren, mas...

— Mas?

— Não sei...acho que nos conhecemos em um momento delicado da minha vida.

— Sinto muito. E sobre o que aconteceu...

PenitênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora