A filha quase perfeita

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Minha existência
Sempre penso nisso como um erro,
Um erro que foi cometido
E que devia ser corrigido
Em outras palavras,
Apagar minha existência
Infelizmente,
Não é como um erro no computador
Onde você pode reiniciar
Ou simplesmente reformatar
E o erro não vai estar mais ali,
Feliz seria eu
Se fosse tão fácil assim.

Minha existência
Por que eu não posso simplesmente apagá-la?
Por que é tudo tão difícil assim?
Ninguém me avisou que seria dessa forma,
Tudo seria tão fácil
Se apenas estivesse um botão escrito
"The end"
Eu apertaria
E finalmente poderia descansar
E um lugar distante
E silencioso.

Minhas costas doem, apenas para carregar um peso que não é meu.

—Filha. Ô meu Deus, é esse o vestido! Está perfeita nele!–mamãe olha para cada detalhe do vestido fascinada.
—O que achou dele?- Questiona me olhando com brilhos nos olhos.

Rosa. Esse é o nome da mulher que me deu a vida. Rosa teve duas filhas. A Júlia, filha mais velha, e eu.
Não a conheci, partiu deste mundo antes mesmo de mamãe sonhar em ter outra filha.

A odiava por ter sido burra o suficiente por ter falecido, mesmo não tendo culpa alguma de sua própria morte.

Depois da morte dela, Rosa simplesmente resolveu que engravidar de novo seria uma ótima ideia, assim dando a luz a sua segunda filha, no caso eu.
Porém seu intuito não era recomeçar, superar Júlia.
Rosa se negou a superar quem ela mais amava na vida.

Ela queria a volta de sua amada filha, Júlia. Custe o que custar ela a teria.

E acabou que de certa forma mamãe achou que meu nascimento era uma nova chance de ter Júlia de volta para si.

—É.. lindo.- respondo. desanimo. Isso tudo é completamente desgastante.

—Uau Júlia, que felicidade contagiante–responde com ânimo, irônica.

Isso mesmo. Ela me deu o nome da minha irmã falecida, fa-le-ci-da!
o quão problemático e doentio isso é?

—Como pode ficar dessa maneira com um  vestido desses? Você vai se casar. Não pode ao menos ficar um pouco feliz de alguém querer casar com uma pessoa rabugenta feito você?
Bom isso não importa!– rola os olhos. passa por mim, indo para a parte de trás do vestido ajeitando a calda exuberante.

De fato ela não se importa. Não se importa com nada relacionado a mim.

Egoísta. individualista. egocêntrica.

Poderia citar todos os sinônimos possíveis no que se diz respeito a rosa.

Sempre pensou no seu bem estar, em si, nela o tempo todo. Tudo gira em torno dela.

Cadê eu? Cadê o meu eu? Eu não sou nada para ela? Ela realmente me ama ou ama apenas  a versão com a qual ela modelou e criou?

Não sou nada. Ninguém. nada. nada.

Minha cabeça dói, queria estar morta.

O que ela sabe sobre mim? Nada.
Não sei quem sou.
Fui ensinada desde pequena a ser alguém que nunca conheci na vida. Fui ensinada a como me portar, como agir, como pensar e até como falar.
Sou uma boneca que tenta a todo custo ser a filha perfeita, me modelando constantemente para ser a cópia fiel da minha irmã morta para lhe agradar.

É tão difícil me enxergar? De enxergar meu verdadeiro eu?

—Tudo pela sua felicidade mamãe! - A olho através do espelho à nossa frente, colocando meu melhor sorriso no rosto mesmo estando em pedacinhos por dentro.

—Sempre sendo tão boazinha, te ensinei direitinho mesmo minha filha.- Sorriu. Mamãe me vira em sua direção, cara a cara Pega minhas duas mãos e as segura enquanto me olhava com todo orgulho do mundo.

Ficava estampando no rosto de mamãe como isso a enchia de orgulho. Sempre concordando com tudo que mamãe pedisse, não importasse o que fosse ou o quanto doesse em mim, tinha que ser o mas parecida e obediente possível, como a verdadeira Júlia era e seria.

★ ★ ★

Essa é minha primeira estória ambw que tomei coragem de postar, então por favor relevem qualquer erro, prometo que vou melhorando com o tempo.

Beijinhos da ellie🪄

Aos olhos de Júlia | Jung HoseokOnde histórias criam vida. Descubra agora