Tô nem aí pra tua inconveniência absurda e profusão espiritual escassa
Nem me importo se tu diz que lê minha poesia e se encontra nos versos, nas rimas, nos parágrafos
Não tem verdade nenhuma no que tu diz
Antes te olhava no olho de uma forma tão bonita
Costumava achar que eles pareciam luzes da cidade, de uma Ville Lumineuse, como os franceses diriam
Agora não vejo mais nada, faz tempo que a luz se foi dos teus olhos
Agora são só mais um daqueles tons desinteressantes, tediosos
Nenhuma das tuas palavras me fulminam mais o peito, me atingem como relâmpagos
Faz o que tu quiser, a vida é tua
Cai porre na rua, bebe as próprias lágrimas, se muda de vez pra China
Já te disse que tô pouco me fodendo
Meus olhos não se enchem mais de mar, por ti eles não começam mais tempestades
Pode tentar me ler de novo, pode me falar que tu consegue ver através do meu crânio
Eu sei que eu não sou translúcida
E os deuses loucos que nos amaldiçoaram nem nos olham mais
Aposto que eles conseguem sentir a mediocridade das palavras que tu cospe da boca
Pode ler o que eu escrevi, pode se convencer de que é sobre ti
Eu vou rir na tua cara
Pode se preocupar demasiadamente com a morte, com o aluguel, com o mundo de aço
Pode tentar dizer que eu ando fazendo muito por aí, falando muito por aí, dormindo com muita gente por aí
Pode tentar me fazer acreditar nas tuas liturgias imbecís
Por ti não sinto nada: nem remorso, nem vingança, nem dor, nem culpa
Não precisa comentar no quanto eu ando fumando demais, no quanto isso mata
E aquela tua lista idiota de todos escritores que acabaram em tragédia
Ou se jogando no rio, ou se asfixiando com monóxido de carbono, ou se atirando na cabeça
Eu nem li, por mais que tu saiba que eu nunca tive medo da morte
O que sempre me assustou foi a vida
Tô nem aí pra tua hipocrisia diluída, pra tua extravagância ridícula
Fala o que tu quiser, só não me dirija a palavra
Nada aqui te pertence, nada aqui nunca nem foi teu
Sei que tu nunca vai perder a fé nessas teorias absurdas
Só quero que tu saiba que nada no que tu lê de mim é sobre ti
Pode procurar nas entrelinhas, pode fazer um escândalo
Faz muito tempo que eu te matei na poesia.
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tudo o que a boca não diz
Poetry[um tributo a todas as coisas que me fazem querer cuspir sangue e chamar isso de poesia]