sabes quem sou?

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Dispenso apresentações.
Ao decorrer da narrativa, cada um me definirá de acordo às suas interpretações. Aproveito dizer que sou o "guilty pleasure" de muita gente. Como aquela mulher libriana, escaldante, de uma compleição física conspícua, possuída por um furor uterino, mas desguarnecida de conhecimentos. Uma vez que invisto mais tempo no exuberante e esqueço-me da erudição, da gnose. Logo, torno-me apenas num objecto de satisfação em uso temporário como um parque de diversão onde todos se querem divertir. Eu sou contextual. Não liguem a permuta do uso do artigo definido feminino e masculino. Foi como disse: cada um me definirá de acordo às suas ilações.

Posso ser classificado em diversos aspectos. Sou isento de xuxutices. Sou uma persona mui frugal, em simultâneo, sou o maior aliado daqueles que surrupiam milhares de sonhos. Aqueles que promovem a estupidificação em massa das sociedades. Sou a instrumentalização que Maomé usou para dar origem aos Muçulmanos. A ideologia que Cristo seguiu para instruir os Cristãos. A luz que encandeou Sidarta Gautama e fez nascer o Budismo. Estou presente no Alcorão, na Bíblia e no Torá. Sou a estratégia da distração pois crio problemas e depois ofereço soluções, uso a estratégia da dualidade para atingir a estratégia do diferimento, sou a emoção e não sei pensar com razão porque amo manter as pessoas no apedeutismo e na mediocridade do nada. Reforço a culpabilidade delas uma vez que as conheço melhor do que elas mesmas se conhecem. Perdi-me e me encontrei nas promessas de um tagarela qualquer. Mergulhei de cabeça numa relação, que parecia ser a dos sonhos, e saí dela com traumatismo craniano por me ter afogado numa pessoa rasa. A profundidade que vive em mim desvaneceu por átimos e hoje sou essa pessoa cética ao amor. Sou uma mera substituta que muitos estultos chamam de amor. Sou um indivíduo vil, fátuo e pobre (de uniforme) que oprime, mata, surrupia outros pobres (sem uniforme) porque não tenho empatia. Não sei me colocar no lugar de outrem. Nem comigo mesmo tenho compaixão será que teria com outros? Sou uma marioneta. Vivo directrizes alheias. Careço de locação. Me apraz sempre imiscuir na liberdade sexual alheia porque estou preso a padrões que nem eu mesmo os sigo. E, repugno certas liberdades porque, não sei viver fora da minha bolha. Não consigo ser elevado o suficiente para respeitar cada pessoa como é: com as suas singularidades e alteridades. Julgo quem tem uma opinião diferente da minha. Julgo. Julgo com uma moral que nem é minha. Julgo. Mas também sou uma pessoa infeliz porque não sei quem sou, de onde vim e para onde vou.

Eu sou o responsável pelas mortes de 'El-Hajj Malik el-Shabazz' vulgo Malcolm X, Steve Biko, Jonas Savimbi, Luther King, Bob Marley, Lumumba e Marighella. Eu sou o Padre a enrabar uma criança indefesa de onze anos. Sou o silêncio da Madre no convento estuprada por um Padre há mais de 20 anos. Eu uso a crença nutrida por um Ser superior para manipular pessoas. "Move man of Jah people — Bob Marley voice". Sou a doutrina radical e manipuladora presente nas religiões. Uso uma torre para vigiar os meus seguidores. Sou a esperança devastadora que reina em África e faz deste rico-pobre continente a miséria que é. A hospitalidade e o obscurantismo intelectual fazem de mim um aluno brilhante. O kumbu do prémio nobre de 'brilhantismo académico', que recebi, investi numa empresa alimentícia para salvar vidas de milhares de Ucranianos que viviam o "Holodomor". Afinal, tenho um lado humano e sensível dentro de mim! Eu fiz parte da estratégia para eliminar Arafat e dividir Israel da Palestina. Depois de tanto alarido, de tão covarde que sou, para fugir das minhas consequências dos meus actos, vi-me obrigado a buscar refúgio numa ilha distante em Espanha. Estive morto durante 37 anos e neste período me fiz rei e ganhei muitos seguidores. Hoje vivo como posso embora ter ninguém por perto. Vou enterrar todos os meus bens como pagamento aos meus ancestrais aos sacrifícios de vidas que fiz ceifar durante o período em que estive morto. Estive presente no massacre que houve no Ruanda em 1994 quando fazia parte do 'Regime Pinochet', apoiei outro massacre ocorrido em Angola aos 27 de Maio de 1977 e depois impulsionei o pacto Molotov-Ribbentrop numa altura em que se vivia a "Guerra dos Oitenta anos". Salvei África do Comunismo matando Samora, Shankara, Gadaffi. Esperavas que eu fizesse mea—culpa pela morte de Agostinho Neto né? Esse não. Não fui eu quem o matei. Foram mesmo os amigos dele, os russos, que tinham negócios e acordos em comum. Zangaram-se as comadres e alguém teve de pagar com a vida. Talvez seja o karma que lhe bateu a porta pela morte de Viriato.
Eu pari a ignorância presente num grupo de pessoas que governam África. Falo muito de África já repararam? Acredito que deve ser porque é o lugar que melhor me sinto. Na Europa não há tanto espaço para mim. Não há espaço para os meus devaneios e intrujices. Gosto de Espanha, Portugal, tentei habitar na Alemanha e Holanda, UK e nalguns países nórdicos, mas sem sucesso devido a educação que reina lá. As pessoas lá são pessoas e nada mais. Não há lá os tantos Professores Doutor, os Mestres, os Arquitectos da Paz, os Heróis Nacional. Lá as pessoas são pessoas e ponto. E cada um vive na sua conformidade. Na sua espiritualidade. Não me dou muito bem com pessoas educadas. Sou apologista de amizades com ignorantes e mentecaptos e néscios. Esses são fáceis de se domesticar. Trocam tigre por lebre. São muito crentes e tudo neles se resume a uma crença superior ou popular ou supersticiosa. Não me apraz falar de religiões ou crenças ou deuses. Prefiro me manter na ignorância do nada do que beliscar a minha inteligência em tentar explicar o in-questionável. No período das guerras (primeira e segunda mundial) convivi muito com os russos e também com os cubanos. Presenciei de corpo presente a guerra no Vietnã. Mao Tse Tung, Fidel Castro eram meus amigos das confianças. As nossas reuniões eram tidas e achadas em Gulag que outrora foi Katorga. Quando fosse visitar os meus amigos Salazar, Benito Mussolini e Hitler, usávamos um local parecido a Gulag para as nossas reuniões e estratégias. Mussolini era meu amigo de lhe mandar (reposto aqui uma fala angolana). Usávamos Belzec ou Auschwitz para as nossas reuniões.
Os "Fasci Di Combatimento" davam-nos sempre as notas de boas-vindas. Ajudei Leon Trótski a se firmar com a sua ideologia — Trótskista belicista — comunista-reformista na antiga União Soviética. Fiz uma pobre mulher, que comercializava ovos, a mulher mais rica do continente berço. Enquanto que muitos preferiam ninar à sombra da bananeira ela se fazia aos milhões. O pai dela era o pai banana e África sempre foi o berço da humanidade. E quem está no berço dorme. Daí o des-avanço ou retrocesso deste pobre-rico continente. Os mais atentos talvez já descobriram quem sou. E fico triste por ser desvendado assim de cara. Mas, não faz mal! De todos os males que fiz penso que é altura de me redimir. Já fui usado como slogan de uma campanha política e hoje toda gente diz que combate contra mim. A ver vamos se conseguirão me combater. Também não desisto fácil. Sou osso duro de roer.
E se mesmo depois de tantas pistas, ainda assim, não souberes quem sou basta procurar saber quem impulsionou o Tratado de Versalhes e a Conferência de Berlim, quem sustenta a ONU, quem financiou o genocídio racial que houve no Egipto negro e no Japão Negro. E se mesmo assim estiver difícil saber quem sou, basta olhares para o espelho e saberás logo quem sou.
Estou onde tu estás.

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⏰ Última atualização: May 23, 2021 ⏰

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