Talvez diria que sobre a corrupção não sei sobre nada, mas sinto que a conheço de olhos vendados. É um assunto muito falado, comentado e muito pouco, para não dizer nada, sabe-se sobre ela. O que não se pode duvidar é que ela está espalhada nas veias, músculos, ossos, literalmente em todos os órgãos vitais de milhares e milhares de pessoas. Como se de uma espécie de identidade cultural se tratasse. A verdade inquestionável é que a corrupção é como uma cadela no cio. Toda a gente sabe o que acontece quando este mamífero, feminino, encontra-se neste período, certo? Pois bem, ela é um 'acto natural, normalíssimo', como respirar ou dormir. Os políticos amam a corrupção como os padres católicos amam a pedofilia ou como os pastores da Universal amam encher as algibeiras. Os governos reconhecem que há corrupção, combatem-na, combatem-se entre eles. A oposição grita contra ela, mas no fundo, às escondidas, namoricam. Ela é uma óptima amante só não serve para ser dona de casa. Pois que, para além de avarenta e perdulária, é indecisa.
A imprensa denuncia e, quando não tem o que publicar sobre ela, inventa. Isso para vender! Porque todos falam mal, criticam, mas muitos não vivem sem ela. É o sustento de muitas famílias! Comparo a corrupção com as mulheres que injectam anadróle nas nádegas para dar aquele volume exagerado que faz com que os carrões dos chefões, barrigudos, parem e chamem por elas. Muitas mulheres criticam, no entanto, desejam ter algo parecido. Muitos homens criticam, porém, não desperdiçariam uma delas, desnuda, defronte deles e depois saciar os desejos. As pessoas falam sobre a tal corrupção, lamentam, contam histórias sobre ela: conversas em família, discussões entre amigos e colegas de trabalho ou de escola, nos botequins (bêbado e desempregado e desinformado adora falar política), nos óbitos e nas farras. Além de contraditória, é polissémica, a ideia de os governos evitarem, cuidadosamente, tomar medidas concretas contra a corrupção porque estariam a disparar contra os próprios pés. A oposição é uma fantochada, faz papel ridículo, pois aceita subornos (viagens, carros e moradias e envelopes) do governo, pelas costas, quando na Assembleia demonstra querer saber dos mais necessitados, do povo. A imprensa chantageia os alegados corruptos, os cidadãos fazem da corrupção o seu pão de cada dia. A corrupção é como uma grande panela de feijoada onde todos comem. Com talheres de prata, ouro ou até com as mãos. E tem ainda a Quissangua ou o Caporroto para acompanhar.
Então, por que sermos hipócritas uns com os outros quando fazemos exactamente o mesmo que os corruptos? Embora de forma diferente.