- Ele me odeia! – exclamo para a minha amiga.
Já tinha passado três dias desde que eu comecei a trabalhar na livraria, e a situação com o filho da dona não tinha melhorado. Erik não me tratava mal, mas parecia odiar qualquer coisa que saia da minha boca. Não havia um jeito dele esquecer o que aconteceu na cafeteria.
- Você deve estar exagerando, Duda – Bia me responde enquanto eu a maquio.
Hoje era um dos dias em que eu maquiava modelos para sessão de fotos, e a minha amiga era uma delas. Tínhamos sorte de nos encontrar de vez em quando entre os trabalhos, por isso, aproveito o tempo que eu tenho para atualiza-la sobre a minha vida.
- Você precisava ver a cara de desprezo que ele faz toda vez que eu chego.
- Às vezes ele é daqueles caras de mal com a vida e o problema nem é com você.
- Será? – pondero. Eu nunca nem tinha o visto dar um sorriso verdadeiro, talvez ele só fosse amargurado mesmo.
- Vai ver você acabou indo parar lá parar mudar isso, tipo um milagre de Natal – ela brinca e eu não consigo segurar a risada.
- Acha que eu sou o milagre de Natal dele?
- Por que não? Você é toda alegre e tem esse espirito natalino que eu nunca vi em ninguém. Encare como um desafio – propõe.
Com o que a Bia me disse em mente, entro na livraria no dia seguinte com dois cafés na mão: um para mim e outro para o Erik. Era o primeiro passo para começar a apaziguar as coisas entre nós, devolvendo o café que ele perdeu.
Quando chego ele está atrás no balcão, olhando alguma coisa concentrado no computador. Pelo jeito a Dona Fabiana nem tinha vindo hoje.
- Bom dia – digo e deixo o café ali em cima sem explicar nada, chamando a atenção dele.
Caminho até os fundos da loja para guardar minha bolsa e volto até a entrada, encontrando ele na mesma posição tomando o café que eu trouxe. Erik não diz nada e torço para que tenha entendido a minha intenção.
Durante o entra e sai de clientes, aproveito para dar uma olhada nas prateleiras em busca de um livro para me tirar da minha ressaca literária, como o meu pai sugeriu.
- Está procurando alguma coisa? – me surpreendo com a pergunta de Erik que estava parado em pé bem atrás de mim.
- O que você indicaria para alguém que não consegue passar de 10 páginas sem ficar entediada? – digo sem olhar para ele.
- Ressaca literária? – pergunta e eu assinto. – Nesses casos geralmente você precisa de uma leitura fácil para te empurrar.
- Leitura fácil?
- Algo curto e simples. Qual o seu gênero favorito? – eu aperto os lábios antes de responder.
- Romance – digo e ele faz aquela expressão como quem diz: previsível.
- Talvez você goste desse, é muito popular entre garotas adolescentes – ele me entrega um livro. ‘’Perdida’’.
- Está dizendo que o meu gosto é igual ao de uma garota de 15 anos? – indago levantando o livro e ele sorri minimamente me fazendo comemorar internamente por ter arrancado uma reação positiva dele, mesmo que seja para zombar de mim.
- Talvez – diz antes de virar de costas e voltar para o seu posto.
Era um avanço.
Na sexta feira o clima parece mais tranquilo entre nós, por isso decido tirar uma dúvida que não saía da minha cabeça.
- Por que não tem enfeites de Natal aqui?
Ele me olha com a testa franzida, sem entender o porquê de eu estar apontando aquilo.
- Decoração de Natal é importante para criar um clima natalino e confortável para os clientes – explico vendo que ele não faz a menção de falar algo.
- Tem enfeites em todo o shopping, e uma árvore de Natal gigante bem aqui na frente – ele diz apontando para a entrada. Através da vitrine tínhamos a visão da árvore enorme bem no centro e uma fila de crianças para tirar foto com o Papai Noel contratado pelo shopping.
- Mas não tem nada aqui dentro – insisto e ele suspira, impaciente.
- Não tem necessidade.
- Como não? É o melhor feriado do ano, todos tem que entrar do clima.
- Isso é besteira – ele diz me fazendo franzir a testa com seu tom desinteressado.
- Você não gosta do Natal? – pergunto torcendo para estar errada.
- Não acho nada demais – ele dá de ombros e quebra o contato visual.
É oficial, ele estava morto por dentro.
- Por que? – questiono e ele suspira novamente, parecendo perder cada vez mais a paciência.
- Nada especifico – responde seco e eu decido encerrar aquele assunto.
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Me deixe ser seu (conto de natal)
RomanceMaria Eduarda é uma jovem maquiadora que consegue um emprego temporário em uma livraria, com o objetivo de ganhar um dinheiro extra e passar o menor tempo possível em casa com a família. E claro, tem um detalhe: ela ama o Natal. Mas ao conhecer...