Na segunda feira eu cheguei dois minutos atrasada, e obviamente encontrei um olhar nada contente de Erik ao me ver passar pela porta com meu copo de café na mão, o que por acaso foi o motivo do meu atraso. O que eu posso fazer? Meu café matinal é o que começa o meu dia.
- Atrasada.
- Foram só dois minutos – me aproximo dele com cautela.
- Não é desculpa – ele responde e desce o olhar para o copo na minha mão. – Esse foi o motivo do seu atraso?
- Foi – dou um sorriso amarelo e aproveito para pegar o café que comprei para ele. Trouxe por precaução caso eu levasse uma bronca pelo atraso. Vejo que fiz bem. – Toma, comprei um para você também.
Estendo o copo e ele me olha desconfiado, mas no fim aceita.
- Está tentando me comprar? – diz e eu rio.
- Funcionou?
- Não – diz mas não está sério do jeito que estava quando cheguei.
- O que vale é a tentativa – pisco para ele que aperta os lábios, segurando um sorriso. Eu sabia que estava amolecendo aquele coração congelado aos poucos.
Vou até os fundos da loja para deixar as minhas coisas, como de costume, e volto para a entrada, encostando no balcão.
- Não tenho visto a Dona Fabiana – digo.
- Ele vem a noite fechar a loja – responde sem me encarar. Desde o meu primeiro dia de trabalho eu não tinha mais visto a mulher. Me lembro dela ter comentado sobre o marido doente, mas eu não podia perguntar nada ao Erik. Já notei que ele não gosta de conversas pessoais, então é melhor nem tocar no assunto para que ele não se feche novamente comigo.
- Entendi.
E silencio. Era preciso ter muito cuidado sobre o que eu falava com ele, tinha medo de tocar em algum assunto perigoso. Mas para a minha surpresa, é ele quem pergunta algo.
- Por que sempre compra café? – questiona e eu o encaro. - Não é mais prático tomar em casa? Assim evitaria atrasos e custos - ele dá ênfase em ''atrasos'' e eu rio.
- Eu adoraria poder tomar café em casa, meu bolso agradeceria. Mas é proibido.
- Proibido? – ele diz interessado e eu apoio os cotovelos no balcão, para poder me aproximar para contar.
- Meu irmão tem alergia a café – começo e ele franze a testa. – Sim, isso existe. Um dia ele trocou as xicaras e acabou tomando meu café por engano em casa. Tivemos que levar ele no hospital porque ele ficou muito mal, desde então minha mãe decidiu que não compraríamos mais café.
- Foi uma decisão meio drástica, não? – ele diz ao final da minha história e eu suspiro.
- E injusta – completo. – Eu nem ligaria se não gostasse tanto de café, mas eu amo! Toda vez que eu quero tomar, preciso comprar escondido para não gerar confusão. Não era mais fácil meu irmão prestar mais atenção para não pegar o copo errado?
- É irmão mais novo? – ele pergunta.
- Mais velho. Por que?
- É que geralmente as mães são mais protetores com os filhos mais novos, por isso pensei que ele fosse o irmão mais novo – ele responde.
- Você tem irmãos? – pergunto curiosa. A mãe dele não tinha comentado nada.
- Não, sou só eu – responde sem fazer qualquer expressão, pelo menos não tinha ficado chateado com a pergunta pessoal.
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Me deixe ser seu (conto de natal)
RomanceMaria Eduarda é uma jovem maquiadora que consegue um emprego temporário em uma livraria, com o objetivo de ganhar um dinheiro extra e passar o menor tempo possível em casa com a família. E claro, tem um detalhe: ela ama o Natal. Mas ao conhecer...