Ninguém merece acordar sozinho

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JAMIE POV

Horas após o acidente.

Caminho calmamente até a porta de saída do hospital, ao passar por ela, sinto meus olhos apertarem inconscientemente pela mudança na claridade. Levo minha mão a minha bolsa e pego meus óculos escuros, colocando-os imediatamente no rosto. Continuo percorrendo o caminho longo da porta de saída ao estacionamento, até o carro.

Por algum motivo que não sei qual, a mulher que deu entrada junto com a criança de madrugada não sai da minha cabeça. Não me apego aos meus pacientes, trato todos igualmente, mas me peguei passando pelo quarto algumas vezes sem necessidade só para ver como ela estava, se o seu quadro havia tido o mínimo de melhora. Eu estava torcendo para que ela acordasse, só não entenderia o motivo de querer isso logo.

Ao ligar o carro, não arranco com ele, tiro o papel amassado com o número de telefone escrito por letras trêmulas da minha bolsa e sou levada a uma lembrança da última noite.

Alguns minutos depois delas darem entrada no hospital, a mãe chegou desesperada procurando pela filha mais nova junto com seu marido. Depois da pediatra responsável pelo atendimento da criança dizer que seu estado era perfeitamente estável, não tirar um sorriso do rosto e dizer ao pai da menina que ela teria alta logo após o resultado da tomografia sair, que isso era apenas um exame para comprovar que tudo estava bem, o homem, que eu descobri depois ser o chefe de polícia da cidade respirou aliviado e virou as costas. O procedimento é deixar apenas um acompanhante entrar no quarto, mas não diriam não para um chefe de polícia, não é?

Depois que a mãe e o pai da criança saíram da sala com ela, fui até a moça falar sobre o estado mais crítico da filha mais velha, pois não a vi perguntando pra ninguém. Falei sobre como a equipe médica estava se empenhando para que ela ficasse bem, mas o homem mal me olhou. O homem mal deixou a mulher me olhar.

Assim que a criança recebeu alta, a mulher e o homem se levantaram prontamente para irem para casa, mas com a desculpa de que havia esquecido algo, a mulher me passou um número de celular e implorou para eu ligar para ela caso eu tivesse alguma novidade sobre o estado da filha mais velha. O pedido veio como em um sussurro, como se o que estávamos falando era algum crime, ela me disse que queria, mas não poderia ficar e eu tentei dizer que esse procedimento geralmente é feito pelo pessoal da recepção, mas ela segurou minhas mãos com os olhos cheios de lágrimas. Tinha algo no olhar daquela mulher que eu não sabia dizer o que era, mas era tão triste. Era impossível não me sentir comovida, pensei em minha mãe, na possibilidade dela ser proibida de me ver. Não consegui dizer não.

°°°

Digitei calmamente os números escritos no papel, e antes de me preparar, Sra. Olivia atendeu na primeira chamada:

- Sim? - Ela diz rápida.

Comecei a bater o dedo no volante com uma ansiedade que geralmente eu não costumava sentir.

- Olá, hmm, Olivia? - Digo com a voz trêmula.

Não gosto do sentimento que isso me dá, me sinto como se eu estivesse fazendo algo de errado.

Noto que o carro continua ligado e desviro a chave. Me arrumo no banco do motorista.

- Diga rápido, por favor. - Ela responde me cortando, parecendo já saber do que se tratava.

Não é possível que isso só seja falta de educação.

- Sra. Olivia, me chamo Jamie. Sou a médica responsável pelo atendimento de sua filha ontem à noite. A senhora pediu que eu avisasse caso tivesse alguma novidade. Bom, eu não tenho. O quadro dela continua o mesmo, mas estamos confiantes de que ela pode acordar a qualquer momento. A situação dela está estável. Sua filha é muito forte, ela se recusa a ir embora.

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