Capítulo 1

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- Bom, se todos já estão presentes podemos então dar inicio a sessão... - eu olhei aquele homem que estava sentado na ponta da mesa. Ele devia ter por volta de uns 50 anos. Estava bem vestido em um terno cinza escuro que contrastava com seus cabelos extremamente grisalhos. Apenas desviei minha atenção quando escutei uma voz ao pé de meu ouvido.

- Não se preocupe senhorita Portilla, tudo acabará bem. - eu suspirei fortemente após ouvir aquele som sussurrado tentando me tranqüilizar. Pobre homem, a quem ele queria enganar ? A mim não deveria ser, porque eu sabia em cada parte do meu ser que aquilo não acabaria bem. Nenhuma das outras vezes acabou. Na verdade, se pararmos para pensar por alguns segundos, absolutamente nada em minha vida, nesses últimos meses, acabou bem. E tudo graças a ele. Aquele homem sentado bem em minha frente. Aquele homem com o ar prepotente, com sua frieza adquirida com o passar do tempo. Com sua suposta “grandeza” sem limites. Se hoje estou sentada nesta cadeira desconfortável, em meio a essas pessoas que não conheço e nessa posição extremamente desagradável, é graças a esse homem. 

- Bem, sabemos que essa é uma sessão de conciliação, mas deixamos claro, desde o principio, que minha cliente não abrirá mão de absolutamente nada. 

- Já era de se esperar. Por isso, eu e meu cliente trouxemos uma nova proposta pra senhora Herrera.. - ao ouvir esse nome um estalo de raiva me ocorreu 

- Senhorita Portilla, por favor ! - eu disse firme e convicta

- Ainda não assinamos o divórcio, minha querida. Portanto, você continua a ser a senhora Herrera... - como aquele homem tinha coragem de dirigir- se a mim com aquele sorriso arrogante e convencido em seus lábios? Ele só podia estar de brincadeira. Na verdade, ele estava, eu tinha certeza. Se hoje me encontrava nessa situação era graças a ele. Alfonso Herrera Rodriguez. O causador de tudo isso e infelizmente meu AINDA marido. Eu bufei de raiva.

- Em primeiro lugar, não me chame de sua, e muito menos de querida. E em segundo isso mudará em pouquíssimo tempo. Assim que acertarmos tudo o que me deve. - eu cerrei os dentes para não pular por aquela mesa e estrangular aquele homem com minhas próprias mãos. Seu ar debochado e seguro só conseguia aumentar minha raiva a cada segundo. 

- O que te devo ? Anahí...seja razoável. Quem me deve aqui é você ! Me deve, pelo menos 5 anos da minha vida. É claro que não estou contando o tempo de amizade e de namoro, pois tenho certeza que não conseguiria pagar pelos 7 anos, afinal... - eu então, tomada pela raiva me levantei abruptamente.

- É isso, então? Te devo 7 anos da sua vida ? Porque que eu me lembre muito bem,  pelo menos 6 anos e meio foram aproveitados da melhor maneira possível por você, Alfonso. E quem acabou com esses últimos 6 meses juntos de casamento, foi você ! Se vamos cobrar “anos de vida” aqui, sejamos justos ! - E tudo o que eu havia conseguido me controlar, nesse exato momento, havia ido por água abaixo. Eu o vi levantar-se também

- Quem acabou com esse casamento foi você, Anahí ! Você ! Não me culpe por suas burradas... - ele apontava o dedo pra mim de forma autoritária. Então o “senhor segurança” também estava perdendo sua postura fria e rígida, não é ? 

- Esses últimos 6 meses foram um inferno, Alfonso. Um inferno! e você pode até me culpar, mas não fuja da sua parcela de culpa nisso tudo ! - eu já estava descontrolada. Eu não podia mais ficar na mesma sala que aquele homem.

- Senhores, por favor ! Estamos aqui para tentar uma conciliação ! Controlem-se - o homem de cabelo grisalho da ponta da mesa, tentou falar, mas fora impossível. Eu e Alfonso já estávamos de pé, apoiando as mãos na mesa e nos encarando intensamente. Tenho certeza que nossos olhos saiam faíscas e por isso, o conciliador tentou apaziguar a situação.

- É simplesmente impossível ter alguma conciliação com essa daí... Ela sempre foi assim, teimosa e tempestuosa ! - ele bufou

- E você um grosso arrogante ! - ele então debruçou-se sobre a mesa para chegar mais perto de mim. Eu permaneci estática, eu não recuaria, não daria a ele o gosto da vitória sobre mim. Ele sorriu

- Um grosso arrogante que você sempre amou e sempre quis, não é ? - eu o encarei alguns segundos. Encarei aqueles olhos verdes tão hipnotizadores. Não. Não dessa vez, Alfonso.  

- ARGH ! - eu gritei - Para mim já chega ! Já chega ! - eu me afastei violentamente da mesa e dele. Eu não poderia aceitar isso. - Acabou ! Nada de conciliação, mais uma vez ! É sempre a mesma coisa...- eu então peguei minha bolsa que estava em cima da cadeira e coloquei em meu ombro. 

- Dona Anahí, nós temos que resolver isso ! - Meu advogado levantou rapidamente.

- Não Torres, nada que envolva Alfonso Herrera é possível e passível de solução ! Estou indo embora ! - eu encarei uma última vez aquelas pessoas. E principalmente aquele homem que sorria. Eu caminhei até ele e cheguei bem perto de seu corpo. Eu podia sentir seu perfume masculino e amadeirado que representava seu cheiro. Cheiro esse, que sempre fora irresistível pra mim, mas não agora. Eu já estava cheia de me render aquele homem. - eu quero que você vá para o inferno, Alfonso ! Para o inferno ! - eu disse uma ultima vez e então sai pela mesma porta em que havia entrado. Mais uma vez nosso “encontro” não tinha dado em nada. Mais uma vez tudo tinha dado errado, como eu já sabia desde o início. 

Até logo...Onde histórias criam vida. Descubra agora