Capítulo 3

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- Anahí, você poderia parar de bater suas unhas na mesa por pelo menos um  minuto, querida? - ela sorriu divertida para mim e eu revirei os olhos.

- Desculpe, Tita. Mas essa comida está demorando muito, não acha? Estou faminta! - Depois do meu encontro desastroso com Alfonso no parque eu fui direto pra casa e me enfiei na banheira. Passei algumas horas dentro da água morna até conseguir me acalmar e depois desabei na cama. Quando dei por mim já eram quase 8 da noite e estava atrasada para buscar Maite em seu apartamento e irmos ao nosso jantar. E agora estávamos aqui, há séculos esperando por essa comida que não chegava. 

- Annie, fizemos nossos pedidos há apenas 10 minutos atrás. - tudo bem, talvez não fossem séculos. - Sabe qual o seu problema? 

- Eu estou com fome? - eu disse irônica e ela riu

- Não. Você está extremamente estressada e isso te deixa impaciente. E não faça essa cara, você sabe que estou certa. - eu bufei

- Pois esse é o seu problema, você está sempre certa! - ela riu gostosamente. 

- Amiga... Eu preciso te ajudar, não agüento mais te ver assim. Isso me mata. Eu sei que está sofrendo... - eu suspirei pesadamente e então encarei minha taça de vinho por alguns segundos.

- Eu só... Eu só não sei como cheguei a essa situação, entende Mai? As vezes paro pra pensar na minha vida nesses últimos meses e me pergunto de quem é a culpa. E principalmente, quando tudo irá terminar. Está insuportável tudo isso. - ela então pegou em minha mão e a apertou como se para me dar forças. 

- Eu não sei de quem é a culpa, mas sei que vocês podem se acertar, Anahí. O grande problema dessa situação é que vocês ainda se amam, querida. - eu tirei minha mão abruptamente

- Por favor, maite! Novamente com isso ! Eu odeio, Alfonso. Você sabe que odeio... 

- Ah, eu sei? - ela riu - tudo bem. Se afirmar isso pra si mesma ajuda, pois bem. O faça. - eu suspirei. Maite era minha melhor amiga. Era a irmã que nunca tive, mas nem mesmo ela entendia o que se passava dentro de mim. Afinal de contas, nem eu mesma entendia, como ela poderia? 

- Vamos mudar de assunto. Me conta como estão os preparativos para o casamento? Christian está animado? - eu abri um sorriso ao ver os olhos de minha amiga brilharem.

- Está animado na medida do possível, você sabe. - Ela deu de ombros - Mas acho que finalmente tudo está entrando nos eixos. Os músicos confirmaram e amanhã estou indo fazer a degustação do bolo. Na verdade...Estamos,certo? - eu sorri 

- Certo. Que horas ? Estou louca para me acabar no açúcar, acho que é isso que vai me acalmar. 

- Pois eu acho que é outra coisa... Tipo um bom sexo, hein? 

- Maite ! - eu peguei o guardanapo de pano e taquei nela que se esquivou rindo. 

- Quanto tempo? Uns 2 meses?  - eu revirei os olhos

- 4... Desde a separação definitiva. Nós tivemos algumas recaídas nesse tempo de crise. Mas foi mais pro começo...

- Eu não acredito ! 4 meses? Então quer dizer que o último homem que transou foi Alfonso? - eu bufei

- Você sabe que sexo pra mim é importante. Não me vejo fazendo algo tão intimo com um desconhecido qualquer... - ela parou pra pensar enquanto eu bebericava um pouco de vinho.

- E se você se envolver com alguém? Vocês já estão separados tem seis meses quase,Anahí. Talvez esteja na hora de você abrir esse coraçãozinho para um novo amor. - ela sorriu amavelmente. 

- Eu não sei, Mai... Eu não me vejo com mais ninguém, eu... - eu neguei com a cabeça. Era difícil. A verdade era que eu não queria me apaixonar de novo. Eu não poderia, pois eu sabia o quanto doía amar. 

- Ei..- ela me chamou e eu a encarei - só não diga “não” assim, de cara. Dê uma chance para o destino - eu ri. 

- “Uma chance para o destino”? Ok, você tem que parar de ler essas revistas de quinta categoria que vendem nas bancas de jornais... - ela riu

- Se sou essa ótima conselheira amorosa, é graças a essas revistas, ta? Sua ingrata ! - ela devolveu o guardanapo, tacando- o em mim novamente. Enquanto brincávamos e riamos, nossa comida finalmente chegou e pude matar minha fome e acalmar um pouco do meu estresse com aquela massa deliciosa. 

...

Cheguei em casa por volta das 11 da noite e estava me sentindo um pouco mais leve, talvez devesse culpar as taças de vinho que bebi durante o jantar. Tirei meus sapatos de salto enquanto ainda caminhava dentro do meu apartamento. Eu gostava do meu apartamento. Era a primeira vez que estava morando sozinha.

Morei com meus pais até os 18 anos, entrei para faculdade e dividi um quarto com Maite até os 22, só nos separamos quando terminei a faculdade e resolvi me casar. Me casei com 22 anos de idade, inacreditável. Eu ainda estava saindo da “suposta” adolescência e entrando na maior idade quando resolvi me casar com Alfonso. Nos conhecemos quando eu tinha acabado de completar 20 anos em uma festa de fraternidade da universidade. Alfonso era super amigo de Christopher, um dos meus melhores amigos na faculdade de publicidade. Uma coisa levou a outra e quando vimos nos tornamos inseparáveis.

Tínhamos um grupo fechado de amigos. Maite, minha melhor amiga namorava Christian um cara incrível e que eu adorava. Christopher, meu melhor amigo que se enrolava com Dulce, uma ruiva com um temperamento do cão, mas extremamente cativante. E por fim, eu e Alfonso. Nós tentamos ser apenas amigos durante um tempo, mas a atração entre nós era inevitável e a paixão que nos cercou, mais ainda. Foram 2 anos de amizade e namoro até decidirmos nos casar. Eu tinha conseguido um bom estágio na empresa que trabalho até hoje e conseguia ganhar um bom dinheiro, especialmente depois de uma promoção. Alfonso era um excelente aluno em marketing e logo conseguiu um ótimo cargo em uma empresa de nome aqui em Londres. Tudo não poderia estar melhor.

Tínhamos um bom salário, muito amor e uma vontade incrível de estarmos juntos. Foi o que fizemos. Nos casamos, muito novos, eu diria hoje, mas naquele momento parecia a decisão certa. Os primeiros anos foram maravilhosos. Só crescíamos profissionalmente e mesmo assim tínhamos um amor inabalável. Éramos o casal invejado por todos. Éramos felizes. Companheiros, cúmplices, amantes. Até que em metade de um ano tudo mudou. O céu passou a ser o purgatório, ou como nós mesmos dizíamos, o próprio inferno. Os motivos para isso foram variados, mas eu diria que houve um estopim.

Alfonso recebeu uma proposta grandiosa do trabalho, mas para isso teríamos que nos mudar para a Espanha. Eu disse que não iria. Eu simplesmente não podia abandonar tudo o que tinha construído com meu próprio suor. Mais do que isso, abandonar minha família, meus amigos..minha vida. Alfonso passou a trabalhar mais e mais. Assim como eu. Ele recusou a proposta por mim, mas não adiantou muito porque eu sei que a magoa sempre ficou no coração dele. Ele saiu da empresa a onde trabalhava, e então foi chamado para trabalhar na mesma empresa que eu,mas em um setor diferente já que seguíamos carreiras diferentes.Demorou um pouco para ele crescer, mas como Alfonso sempre foi muito talentoso conseguiu atingir um alto cargo de chefia. Entretanto,por incrível que pareça, isso nos afastou mais.

Como os dois tinham altos cargos, trabalhávamos dia e noite e mal tínhamos tempo para nos encontrarmos.Chegávamos exaustos e não conseguíamos nem ao menos conversar. As coisas passaram a esfriar. Para completar, começamos a tentar termos um filho, mas não conseguíamos. E em determinado momento, ainda no nosso casamento, eu passei a realmente desejar que aquilo não acontecesse por conta de tudo o que estava acontecendo com nós dois.

As coisas já não eram como antes. Alfonso chegava tarde do trabalho. Fedia a bebida e nunca ficava com o celular ligado. Nós nos afastamos. Nós nos magoamos. De repente, não nos falávamos mais. Até que houve o grande ponto final, a gota d‘água tinha acontecido...mas quando o ponto final chegou tudo já tinha desmoronado de qualquer forma. Eu fechei os olhos pensando em tudo isso e deixei minha cabeça cair no encosto do sofá. E ali, em meio as lembranças e ao álcool que se juntava a elas, eu dormi. 

Até logo...Onde histórias criam vida. Descubra agora