Meu par de olhos cor de âmbar

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Mare
A brisa suave da manhã entra pela janela do quarto onde dormi, um conforto no meio do caos do meu psicológico. Achei que dormir sobre o assunto me ajudaria a perceber o que fazer em relação aos meus dois grandes problemas, mas apenas aumentou o meu desespero.
Levanto-me da cama e um automático mau-estar abate-se sobre o meu corpo. Náuseas, cansaço. Tento enumerar todos os sintomas que Sara Skonos me falou, e uma forma de diminuir os mesmos. Visto rapidamente uma t-shirt e uns jeans e vou até à janela do quarto, tentando apaziguar as náuseas com a brisa que provém dela. Todas as dúvidas que me apareceram na mente na noite passada voltam em força. Será que eu quero essa criança? Será que Cal a quer?
Ele não me pode deixar sozinha nisto. Não pode. Isso seria cobardia. Ele seria um cobarde. Ele já me abandonou antes, não ficaria surpreendida se o fizesse de novo.
Sou interrompida por uma leve batida na porta, que me faz esquecer tudo por uns momentos. Evangeline não se dá ao trabalho de esperar que eu abra a porta, entrando no quarto rapidamente.

- Por acaso sabes o que são maneiras? Foste uma princesa durante muitos anos, devias saber. - dirigo a ela enquanto tento diminuir o meu desconforto.

- Bom dia para ti também. Vejo que a Mare grávida é muito mais rude do que a normal. - ela encosta-se a porta do quarto de braços cruzados e um sorriso no canto dos lábios.

- Por favor, a última coisa que quero pensar agora é sobre isso. - Viro-me finalmente para ela e pego uma sweat/moleton para vestir sobre a t-shirt. - O que é que precisas?

Ela ri-se com a carranca que faço após o meu cabelo ficar preso por baixo da sweat - Nada, apenas vinha te perguntar como correu a conversa com Cal ontem à noite.

- Eu conto-te tudo, mas primeiro vamos comer. - Ao sair do quarto e dirigir-me para a cozinha com Evangeline sinto as náuseas a voltar novamente, e tenho a certeza que a fome que tenho vai colidir com as mesmas, deixando-me enjoada e de mau humor o resto do dia.
Escrevo uma nota mental para telefonar a Farley e perguntar como diabos ela conseguiu passar pelos mesmos sintomas horrendos da gravidez e ainda ser coronel da guarda escarlate ao mesmo tempo.

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- Ele disse que precisava de pensar no assunto e foi embora? - Evangeline, sentada comigo numa das mesas da antiga cozinha real, olhava para mim estupefacta, com restos do café da manhã na frente.
Apesar de grande parte dos empregados do palácio terem saído após o fim da coroa, muitos ainda ficaram, necessários para a continuação do funcionamento do mesmo. Assim, as principais refeições ainda eram servidas num salão secundário, as 9h da manhã. Com o meu cansaço da viagem e de tudo o que ocorreu nas horas seguintes, dormi até às 11h, faltando ao café da manhã tal como Evangeline.

- Shhh. Olha que não estamos sozinhas, se por acaso não te lembras. - Via-se meia dúzia de empregados em volta das bancadas de metal, preparando o que suponho ser o almoço de hoje. A mistura de vários aromas de alimentos a serem cozinhados deixou-me ainda mais nauseada, e desvio o prato de panquecas de mirtilo que mal toquei desde que chegámos, sentindo que se comer mais uma garfada que seja ainda irei vomitar todo o meu sistema digestivo para fora. - Mas sim. Disse que precisava de um tempo para pensar e virou costas.

- Oh oh, pelo meu sangue, aquele idiota vai sofrer as consequências - ela começa a estalar os nós dos dedos como se tivesse a se preparar para uma luta. Institivamente, paro-a com um sinal.

- Ninguém vai andar à luta. Se ele não disser nada até ao fim do dia, eu própria vou enfrentá-lo. - para o provar, deixo uma faísca percorrer os meus dedos. O pequeno ponto de luz branca e arroxeada De qualquer das maneiras, consigo perfeitamente criar o meu filhe sem um homem a meu lado.

Ela olha perplexa para mim por um momento, e eu fico sem entender o porquê. Apenas uns segundos depois é que percebo o que acabei de dizer, e perco o folêgo por um momento, surpreendida.

Uma escolha - Marecal AuOnde histórias criam vida. Descubra agora