França, Lado Norte
Pode parecer estranho isso, mas a primeira coisa pela qual Mikasu Azrael se apaixonou ao ver o homem dos seus doces sonhos, foi pelo traseiro dele.
Até aquele momento, Mikasu, em seu primeiro baile na sociedade, transitava despercebido como um fantasma pelo luxuoso salão como em um sonho, embora não muito agradável. O que ele estava fazendo naquele mundo cheio de pessoas importantes com titulos e Honras? Vá para o Leste e arrume um Alfa, isso sempre vinha a sua cabeça. Satisfaça o último desejo de seu pai.
Como se fosse fácil.
E não deixe aquele incidente ocorrer de novo. Bem, não foi isso que ele queria pensar mas a mensagem veio num piscar de olhos. Precisava manter o decoro, ser formal, sensato e modesto, como havia sido nos últimos anos, e nunca cometer aquele infeliz deslize de novo.
Dispunha de muito pouco para atrair a atenção de um Alfa, porém, suas vestes talvez fossem adequadas para um jovem do campo quando fosse visitar os pobres e doentes do vilarejo ou até mesmo para um baile local, suas roupas eram bem diferentes da rica moda usada pelos ômegas e betas do salão do leste.
Ele tampouco tinha a beleza divina como a de seu primo Elder, ou mesmo do tio, o viúvo Flary. Nunca havia se importado antes com sua aparência, mas tivera mais sorte nesse sentido do que alguns jovens ali. Ao se sentar em uma cadeira da fila extraoficialmente reservada para jovens que não dançariam, seu olhar se voltou para um dos lados do salão onde estava seu outro primo, o tão pouco atraente Eridif Louff.
Arrume um Alfa para você.
Seria a realização de um doce e belo sonho. O que era irônico, pois sua própria mãe se incumbirá de fazer com que Mikasu não mais acalentasse sonhos como aquele.
E aos quatorze anos não poderia haver ninguém mais romântico e sonhador do que ele.
Depois do professor de Transmutação, porém, ele ficará curado para sempre. Como se não tivesse discernimento para diferenciar sonho da realidade - Nem ao menos o certo do errado -, o mais seguro era seguir rigorosamente as regras.
Mikasu suspirou. Eridif parecia não se importar de ficar sentado, mas ele preferia dançar. Não precisaria ser com alguém atraente, ou que tivesse título, bastava que tivesse se banhado recentemente e não pisasse em seus delicados pés.
Foi quando ele avistou rígidas nádegas masculinas que deram um fim a sua melancolia, qual agulha no balão.
O resto dele também não era nada mau. Observando os ombros largos e a cabeça do homem que dançava de costas para ele, Mikasu umedeceu os lábios. Ele jamais pecaria de novo.
Oh, por favor, sim.
Não. Nunca mais!
Era, sem dúvida, o mais belo traseiro que ele já viu, vestindo calças pretas, com a cauda do casaco caindo impecavelmente sobre a bem desenvolvida....
Delicioso.
Ele voltou a cabeça.
A gravata vermelha enfatizava seu queixo quadrado; as maçãs do rosto eram proeminentes e; o cabelo cacheado, um tanto curto e rebelde, caía-lhe sobre a testa e o colarinho, conferindo-lhe um ar meio indomado apesar das roupas finas.
Finalmente ele ficou de frente para Mikasu. O traje caía-lhe ainda melhor. Além disso, ele tinha um sorriso luminoso.
Pai meu! Mikasu sentiu uma onda de calor percorrer suas veias. Ele olhou ao redor, pois não queria que os primos e o tio percebessem seu interesse. Fazia apenas duas semanas que estava no Leste da França e até então tudo havia corrido bem, inclusive na exasperante apresentação aos betas e os raros Alfas.
Não, estava a salvo. Elder, o primo elegante e um tanto moderno, estava cercado por seu usual rol de betas admiradores e parecia não ter atenção para mais nada. Eridif, o primo lamentavelmente alto e desengonçado, continuava do outro lado do salão, muito preocupado em se esconder atrás de uma coluna. O tio Flary, que não se mostrava nem um pouco interessado em ciceroneá-los, nem mesmo o próprio enteado Elder, que entretinha-se em sua roda de homens igualmente poderosos e entediados, com o maldito hábito de fumar.
Então o homem diante de seus olhos riu. Foi uma gargalhada profunda que ecoou por seu corpo, causando arrepios naquelas partes que é melhor nem mencionar e acionando dentro dele um alarme. Ele sabia o significado daquela sensação! Oh, Céus! Nem tão a salvo assim estava.
Estava interessado em um homem - interessado naquele sentido - pela primeira vez desde que caíra de amores pelo professor de Transmutação havia quase nove anos.
E aquele caso não terminará nada bem.
Até então, durante a noite, o beta Hidley Sucks, título de cortesia e não de direito por nascimento, conseguiria circular pelo baile sem incidentes. De maneira habilidosa, ele evitara maridos traídos, três encontros com os betas que jogavam cartas para ganhar de volta o que haviam perdido, e até mesmo passará dançando por seu ex-amante - casado - sem que ele notasse sua proximidade.
Mais um segundo e poderia escapar dali. Mesmo seu meio-irmão Hilves não teria nada a dizer sobre ele estar se evadindo daquela obrigação familiar. Somente a amaeça de ser obrigado a comparecer à parada de virgens, ainda mais maçante, nos salões dos Altos Nobres de Aliran o convencerá de estar ali.
- Se eu tiver que perder meu precioso tempo caçando um esposo, você tem de ir comigo - Hilves vaticinara com um tom de voz que prometia sérias consequências. Esse seria o segundo esposo de Hilves, uma vez que o primeiro havia falecido após alguns meses de casados.
Aquilo era particularmente injusto, pois não havia a menor possibilidade de Hidley encontrar um primeiro marido entre os respeitáveis e finos da sociedade que ali estavam. Ainda assim, sempre que possível, era melhor evitar a raiva e o humor negro do sucessor Alfa de Le ferri.
Não que Hidley tivesse medo de seu meio-irmão - eles eram iguas no tamanho e tinham a mesma idade, e nenhum dos dois havia saído claramente vitorioso de qualquer desavença infantil -, mas ele tinha algo de interesse particular a propor a Hilves, e não valeria a pena provocá-lo desnecessariamente antes disso. Somente Hilves poderia aprovar os melhoramentos que queria fazer nos territórios de Le ferri, pois ele não tinha poder sobre a honra da família do pai, uma vez que não era filho legítimo.
Naturalmente, a ironia que Hilves não dava a mínima para a propriedade. Sim, ele cumpria sua obrigação. Ninguém passava fome e suas fontes de riqueza continuavam estáveis, mas Le ferri poderia ser muito mais próspera!
Hilves não tinha o mesmo interesse que Hidley. Ele era apaixonado pela suas fontes de riqueza, enquanto a antiga grandeza da propriedade não fazia qualquer sentido em sua mente lógica. Até mesmo os servos, que eram o coração pulsante de Le ferri, ele considerava um bando de ômegas retrógrados.
Ser o filho bastardo de um Alfa tinha suas vantagens e desvantagens. Ter crescido em Le ferri havia lhe assegurado todos os privilégios e educação que Hilves, o herdeiro de fato, tivera. Por outro lado, crescerá sabendo que enquanto Hilves herdaria o título e a Honra, ele somente teria uma luxuosa casa e um título de cortesia - beta - antes do nome, além da reputação escandalosa que se incumbirá de conquistar e da qual agora se arrependia.
Por não ter a tediosa responsabilidade da legitimidade, gastara fortunas com homens, jogos de azar e bebidas.
Mas não adiantava lamentar sua irresponsabilidade juvenil, em tentar justificar-se com Hilves. Somente o tempo e o próprio esforço poderiam provar ao irmão que estava pronto para arca com mais responsabilidades.
E a responsabilidade que desejava era Le ferri.
Naquele momento, ao parar de falar com outro beta, Hidley sentiu uma enorme necessidade de olhar para trás. Tinha uma estranha sensação de estar sendo observado.Aparentemente a sorte não estava conspirando a favor de Mikasu naquela noite, pois bastou decidir que desejava passar o resto da vida com aquele musculoso traseiro masculino, tudo deu perfeitamente errado.
Ele ergueu o rosto, percorrendo o salão com o olhar; então eis que aqueles olhos castanhos detiveram-se intensos em Mikasu.
Mikasu sentiu um choque no coração - e um pouco mais abaixo também ficando duro como uma pedra e atrás sentiu um calor intenso como se colocassem lenha na fogueira - uma atração arrebatadora superou o mero interesse na anatomia dele. Foi tal o impacto que o ar lhe faltou.
O mais embaraçoso foi ter sido pego olhando pra ele.
Sem pensar, Mikasu se levantou e, tentando escapar daquele olhar, ele se precipitou contra um servo Ômega que carregava uma bandeja com aperitivos. A colisão fez com que o pobre homem caísse e tudo o que trasportava voasse sobre os casais que dançavam. Seguiu-se um tumulto generalizado. Ômegas gritavam, betas criticavam. E, enquanto os músicos achavam muita graça, procurando esconder o riso, os demais, muito zangados, tentavam achar o culpado.
Um verdadeiro pesadelo. Mikasu preparou-se para o pior.
Hidley mal acreditava na cena que ocorreu diante dos seus olhos. O pobre ômega caído, todos os aperitivos espalhados por todo lado e o garoto atônito.
Impulsivamente, ele infiltrou-se no meio daquela confusão, pegou o jovem pela mão e se pôs a dançar com ele, no ritmo da música, como se os dois estivessem simplesmente passando por ali.
-O que você está fazendo? - Mikasu perguntou, recuperando-se da surpresa.
-Ora, você preferiria ficar parado para ver o que iria acontecer?
Ele olhou por sobre o ombro dele, empalidecendo ao ver o caos instalado, e desviou os olhos.
-Bem é que... Não fomos devidamente apresentados!
-Se você não dizer a ninguém, também não direi nada - ele propôs ao chegarem a um dos cantos do salão.
Mikasu dirigiu a Hidley um olhar desamparado.
-Meu tio Flary!
Hidley avistou, um pouco mais adiante, um elegante senhor, observando o salão com uma expressão arrogante.
Essa não! Não o terrível Beta Flary.
-Você se importa de sair do salão?
Mikasu quase derreteu de gratidão. Ele era um deus, um herói.[C]╴┄┈┄─────────╯
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Caça Ao Alfa
عاطفيةO único método de Mikasu Azrael ganhar a Honra da família é se ele cumprir a exigência feita por seu pai, de se casar com um Alfa. Mas é só uma parte do problema. Mikasu, que está tentando limpar seu nome após um grande escândalo romântico, ainda te...