V

1 0 0
                                    

Luís, deixa o caderno na mesa e trás a caixa para mais perto de si. No começo fica com um pouco de medo da moeda, nunca antes na vida tinha visto algo tão brilhante e bonito. Ele estende os braços levantando com as duas mãos e com muito cuidado a moeda, aproximando ela dos olhos e de costas para a luz do sol tenta admirar cada um de seus detalhes.

A moeda tinha mais ou menos o mesmo tamanho e peso que uma moeda comum de dois cruzeiros, de um lado o desenho de um tatu bola enrolado com a boca quase mordendo o próprio rabo mas a armadura que cobria o corpo do tatu era rica em detalhes complexos que um garoto da idade do Luís não conseguiria apreciar ou identificar. Mas era bonito e ele sabe ver quando algo é bonito.

Do outro lado da moeda, uma frase gravada entre linhas curvas e simétricas, o que dava mais destaque ainda para as palavras que estavam escritas em um idioma estranho e engraçado, que Luís tentou ler em voz alta e devagar.

- NI-HIL... DU-RAT... IN... AE-TER-NUM...

Depois de ler ele fecha os olhos, inocentemente esperando que alguma coisa mágica poderia chegar a acontecer como nos gibis que lê com seus amigos na casa Pedrinho Silva.

Mas nada acontece e ele ri sozinho, se divertindo com a própria imaginação que o afasta dos sentimentos tristes de mais cedo.

Ele coloca a moeda de pé na mesa, apoia o dedo indicador da mão esquerda e se aproxima com a outra mão dando um peteleco que faz a moeda girar, a luz do sol encara a moeda provocando um reflexo de luzes na mesa que são acompanhadas com o olhar distraído do garoto que pensa em sua mãe, seu pai e o que vai ser de sua vida agora.

- Pai... onde você foi?

Luís pega o caderno e a moeda e coloca tudo de novo na caixa. Por um breve instante a vontade de jogar tudo pela janela é forte, mas ele muda de idéia. Ele então leva a caixa para seu quarto e mais uma vez pensa em destruir aquilo, talvez com fogo como seu pai sempre fazia quando terminava de escrever. Mas, de novo ele desiste da idéia. Decide cuidar da caixa, agarrando-se à esperança de que o pai ainda poderia voltar.

Ele guarda tudo embaixo da cama, no mesmo instante em que escuta a porta abrir como todos os domingos que eram diferentes daquele.

- Pai!

A MoedaOnde histórias criam vida. Descubra agora