VIII

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Ao escutar o barulho da porta, Luís não pensou duas vezes e saiu correndo do quarto em direção a cozinha, lágrimas sinceras e descontroladas escapavam de seu rosto, uma resposta real e pura ao medo impotente que ele sentia ante a possibilidade de ter perdido seu pai para sempre.

Ele chega na cozinha e para de correr ao ver que era na verdade sua mãe, chegando cansada da feira mas com aquele sorriso no rosto como sempre. Cada braço segurando uma sacola de papel cheia de verduras e um pedaço de carne escolhido a dedo para o almoço do dia.

- O que foi carinho?

- O papai... o papai foi embora.

- Como assim?

- Ele foi embora mãe!

Ana deixou as sacolas em cima da mesa da cozinha e foi ao encontro de seu filho pequeno que imóvel não sabia o que fazer, sua cara toda coberta por uma culpa desnecessária, como se tivesse feito alguma coisa errada, ela levanta a criança em seus braços com aquela força que só as mães sabem achar e enquanto acalmava o filho, fazendo carinho em suas costas, caminhava em direção ao quarto, encontrando tudo bagunçado, faltando uma mala, roupas e um marido que parecia ter ido fugido às pressas.

- Ele foi embora mesmo, né?

- Sim...

- Não se preocupa Zinho. Ele vai voltar. Vai dar tudo certo..

- Promete mãe?

- Claro filho, não chora não...

Ela abraçava seu filho com força, tentando ser um escudo contra a tristeza, já que sabia que a vida ia ficar muito mais difícil e que mais que nunca iam depender um do outro para seguir em frente. Ana sabia ser forte quando era necessário e sabia que não podia deixar o filho ver como tristes lágrimas caiam solitárias por seu rosto.

O almoço demorou a ficar pronto e diferente de outros domingos não tinha aquele encanto especial, quando era servido com muita música e risadas.

Ana e Luís comeram em silêncio, pensando no que fazer e no que foi feito. O garoto notou o vazio no olhar da mãe que com o rosto apontando para a janela parecia estar perdida em pensamentos. Sua boca se mexia discretamente como se estivesse procurando o que dizer ou imaginando o que diria ao marido se soubesse onde ele estava.

O garoto terminou de comer e notou que sua mãe tinha comido pouco, pensou em falar alguma coisa mas decidiu permanecer em silêncio, olhando para aquela mulher bonita de cabelos castanhos claros, torcendo pelo melhor, preocupado pelo futuro.

- Mãe.

- Que foi Zinho?

- Acho que odeio o papai.

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