Lâmina de guerra: Origem da guerreira

Capítulo 3 - Memórias e histórias

O poder que corria pelo meu sangue era coisa mais incrível que eu já havia sentido na vida. Nada parecia impossível para mim, meu mundo não tinha mais fronteiras e eu nem ao menos usava a TIM no meu celular.

Dei um salto para frente e sai voando. É, isso mesmo, voando! Eu estava voando! Bom, na verdade, acabou não sendo exatamente um voo, mas eu pulei muito alto e muito longe. Como não fazia a menor ideia de que seria capaz disso, acabei acertando a copa de uma árvore durante meu "pouso gracioso". Atravessei troncos de madeira, folhas e teria me esborrachado no chão se algo não tivesse me segurado pela cintura.

Quando dei por mim, estava sendo sendo segurada pelos braços firmes de Luana.

— Calma ai, semideusa. Você acabou de receber poderes e memórias que estavam presos na sua alma, vai por mim é melhor esperar a tontura passar. — Ela disse e eu quase escutei tudo o que ela falou. Posso ou não ter me distraído com a beleza de seus olhos dourados e com a linda curva de seus lábios.

— Que tontura? — Perguntei, deixando os braços dela e ficando de pé.

E foi nesse momento que o mundo girou e mais uma vez o abraço firme de Luana evitou minha queda. Uma série de imagens começou a passar pela minha mente e levei um tremendo susto com isso. Demorei para entender que não se tratavam de meras imagens, elas eram memórias.

Minhas memórias.

— Essa tontura. — Luana riu, então sorriu para mim. — Humanos não lidam bem com as memórias do tempo que passaram em Tir Na Nog, essas lembranças vem aos poucos. Tudo bem, Kelly. Eu já estive no seu lugar, posso garantir que logo você irá recordar de tudo o que te foi escondido.

Olhei bem para ela, ainda estava um pouco assustada com a enxurrada de imagens que invadiam minha cabeça, mas todos meus instintos me diziam que ela e Clio eram amigos. Eu estava segura com ela e isso fez maravilhas para acalmar meu coração acelerado. "Será que ela consegue ouvir meus batimentos cardíacos?"

— Feche os olhos, sinta o fluxo de suas memórias e isso vai tornar tudo mais fácil. — Luana me instruiu.

Decidi fazer como ela disse e logo consegui prestar atenção nos detalhes de tudo o que estava aprendendo sobre mim mesma. Em uma das memórias uma versão minha de cinco anos de idade conversava com três corvos que estavam pousados na janela da sala de minha casa. Mamãe, sentada ao meu lado, também falava com as aves como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

Outra lembrança me mostrou as primeiras aulas que minha mãe me deu sobre defesa pessoal. Eu e ela lutávamos em um campo aberto onde a grama brilhava como se fosse feita de esmeraldas. Mamãe estava exatamente da mesma forma como a encontrei dentro da pedra dos reis e tentava me acertar com sua lança. Eu devia ter oito anos naquela memória, mas desviava dos ataques com habilidade de atleta e quase acertei sua garganta quando arremessei minha adaga na sua direção. Ela sorriu de forma aprovadora para mim, mesmo tendo bloqueado meu ataque sem nenhuma dificuldade. "Muito bem, Kelly. Sempre mire nos pontos vitais." Minha mãe me disse. Só que agora eu já não conseguia pensar nela como Kiara Dantas, a esposa de meu pai. Aquela mulher era uma guerreira, uma Deusa... ela era a Morrigan. E eu era sua filha, uma semideusa do sangue dos Thuata de Danan.

Minha mente vagou para outro momento do meu passado. Uma lembrança que me fez perceber porque sentia que podia confiar em Luana e Clio. Eu estava ao lado deles em uma espécie de festival no interior de uma floresta. Ali eu tinha dez anos, Luana era só um ano mais velha do que eu e Clio tinha a mesma aparência de quando o encontrei no hospital depois do acidente. Pequenas fadas voavam ao nosso redor e estávamos rindo, nos divertindo como só bons amigos se divertem quando estão juntos. Luana tinha pendurado um rabo de cavalo na calça de Clio e ele ainda não havia se dado conta daquilo. Ela segurou minha mão enquanto ríamos e me lembrei de como aquilo me fez sentir no dia. Meu coração pulou como se fosse sair do meu peito.