Alice II

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Eu acordei ainda ao lado de Lucas, eram 5 da manhã e eu o acordei para irmos a faculdade, ele foi para sua casa se arrumar e eu fiz o mesmo na minha, meu pai e minha mãe ainda estavam lá, me olhando com uma cara de que imaginavam o que tinha acontecido naquele quarto ontem a noite, e eu retribui com um sorriso bem grande, acho que eles entenderam o recado, tomei meu café da manhã, aguardei um pouco até chegar a hora certa e fui para a faculdade, o céu estava nublado e cinza, um toró poderia cair a qualquer instante, só deu tempo de chegar na escola, a chuva despencou sobre a velha cidade, coisa que não acontecia a alguns meses já, o cheiro de terra molhada impregnava todo ar da faculdade e me trazia uma sensação de alívio (as coisas que acontecem na faculdade não são nada interessantes por isso é melhor pular essa parte né), na hora da saída, Alice me chamou para ir em sua casa mais uma vez, quando ela disse mais uma vez eu soube que a ida na casa dela pela primeira vez tinha acontecido nesse universo também. Ainda estava chovendo quando fomos para casa de Alice, a casa dela estava diferente, estava pintada de uma cor diferente e era maior, dei um bom dia para sua mãe, mas não vi seu pai, fomos para seu quarto e lá ficamos conversando, fiz uma pergunta inusitada de repente:
— Onde está seu pai?
Ela fez uma cara triste
— Você estranho hoje, te contei que meu pai morreu quando eu nasci, porque não lembra?
Eu fiquei em choque por alguns instantes, essa foi uma mudança brusca desse universo em relação ao meu, não estava preparado, provavelmente não era só o pai dela que teve um destino diferente, de várias outras pessoas também talvez.
— Nesses dias minha memória não está tão boa. Respondi
Dei um abraço nela ao mesmo tempo que pedia desculpas, ela disse que estava tudo e bem e voltamos a conversar, dessa vez conversamos sobre a chuva, uma chuva forte e insistente que não parava de cair, as gotas pareciam balas de tão forte que caiam sobre o chão e sobre os telhados, a última chuva também foi desse jeito disse ela, mas no univero natal, as chuvas sempre eram fracas e não duravam muito tempo. Lembrei de que desde que cheguei nessa Terra, eu ainda não tinha ido no campo, meu lugar de sossego e de pensamentos, então convidei Alice para ir lá comigo, ainda estava chovendo mas não ligamos, fomos até lá nos molhando e o campo era 2 vezes maior do que o do outro universo, eu fiquei maravilhado vendo aquilo, nos sentamos no chão molhados enquanto a chuva nos molhava como um chuveiro milhões de vezes maior, ficamos olhando pro céu enquanto as gotas caiam em nossas cabeças e nossos  olhos, depois nos levantamos e começamos a dançar, sem música, no meio do nada, só dançamos, a nossa energia, a nossa amizade, nos movia, juntos não tínhamos medo da chuva, nós dançávamos nela, eu estava amando aquilo, estava me sentindo feliz, depois nos abraçamos e começamos a rir de nós mesmos e depois voltamos correndo para sua casa, pois a relâmpagos começaram a surgir de repente, e a cada trovão nós sentíamos mais medo.
Eu não sentia uma atração por Alice como eu sentia por Lucas, eu a considerava somente uma melhor amiga e isso já me deixava satisfeito e feliz, eu não daria um bom namorado pra ela, ela é arrumada, inteligente, gentil, já eu sou todo desleixado e grosso, como namorados a gente não combina, mas como amigos a gente é uma ótima dupla, estava quase anoitecendo, quando ela revirou seu armário e encontrou um romance velho, era bem grande por sinal, sentei ao lado dela e começamos a ler, apesar de velho, a história do livro era muito interessante, melhor até que obras atuais, e o fato de ter uma pequena história de um casal gay, um pouco censurado, mas só a presença dele ali já mostrava que o autor já era bem maduro pra entender que não existem só casais heteros no mundo. Quando olhamos o relógio já eram 10 da noite, sempre é assim, quando estamos lendo o tempo passa num piscar de olhos, fomos até a cozinha beliscar alguma coisa e logo voltamos para o quarto e voltamos a ler, estávamos gostando daquele romance, era aquele tipo de livro que quanto mais você lê, mais curioso você fica pra saber o que vem depois, a gente riu e chorou juntos durante a leitura, foi uma experiência única e gostosa. Meia noite fomos dormir, ela em uma cama e eu em outra, ela parecia muito cansada e em minutos já havia caído no sono, eu pelo contrário, fiquei acordado pensando nas coisas que a consciência do Universo Natal tinha me contado, era pra eu ter feito isso a um tempo atrás, mas só resolvi fazer isso hoje, eu estava aflito, sabendo que a qualquer momento tudo poderia começar a demoronar e ser destruído pelo universo de transição, mas eu também fiquei me indagando outra coisa, será que eu fui o primeiro a viajar entre universos? Se sim, por que eu? Acho que tantas pessoas sofreram a mesma coisa que eu, mas porque eu? Será que isso tem uma resposta? Fiquei me perguntando isso pelo resto da noite e estava determinado a tentar falar com a consciência do Universo Natal, eu só não sabia como.

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