— Daymon o tempo é relativo aqui também? — Perguntei, agora deitado sobre o seu colo. Ele estava sentado e tinha as mãos esticadas para trás. A areia além de rala era fofa, suas mãos afundaram levemente, mas não ficaram presas.
— É complicado pensar nessa definição. Seria fácil dizer que horas aqui poderiam ser minutos lá, como anos, séculos, talvez aqui seja mais devagar. Não temos tecnologia suficiente para determinar. Não vou entrar nos outros âmbitos, deve estar pensando nos nossos amigos em casa, certo?
Concordei e ele continuou:
— Se tomarmos Alterta como exemplo, poderíamos partir de um ponto e buscar coisas comuns. Se lembra de lá?
Semicerrei os olhos e pus-me a pensar, minha mão involuntariamente foi até os fios de cabelos brancos (é, meu cabelo é branco) e comecei a puxar mecha por mecha.
— Um pouco. O tempo cronológico era confuso, parecia velho. Tipo, andar devagar ao ponto que horas, dias, poderiam ser segundos na nossa cronologia convencional.
Daymon pensou durante um instante. Ele, por algum motivo, nunca dava uma resposta pronta. Escutava até o final, pensava e só então respondia:
— Entendi. Como está sua imortalidade? — Perguntou e eu parei de puxar o cabelo.
— Quê? Que pergunta é essa? — Daymon me abraçou, prendendo-me nos seus braços. Girou nossos corpos para o lado — Ei, me solta.
— Quis dizer, sua percepção. Se sente imortal? Ou fatigado? — Sua voz, sussurrada no meu ouvido me fez congelar. (mas não de frio).
— Agora, tipo agora mesmo eu me sinto... esquisito. Day...
Daymon me deitou na areia rala e fofa que eu tinha ranço e, com o seu corpo sobre o meu, me beijou. Quando terminou e tomamos fôlego, respondi:
— Eu não sei, você me carregou o caminho todo! O que isso tem haver com o tempo? Não me sinto cansado, com sede ou fome. Só um pouco aturdido, minha cabeça dói.
Daymon pensou mais uma vez.
— É, eu me sinto assim também. Prior, acho que o tempo parou.
Sabe quando, de repente, tudo parece fazer sentido e aí na cabeça acontece algo como Buum? Pois é, foi quase exatamente assim que aconteceu. Exceto pelo Buum que não aconteceu só na minha cabeça.
A areia fofa sobre a qual estávamos deitados explodiu! Levantou Daymon e a mim no ar e, quando caímos, quicamos algumas vezes sem doer o bumbum. Senti uma terrível sensação de que não estávamos a sós, não mais.
Daymon foi o primeiro a levantar e assumir uma postura protetora, se o traje fosse de outra cor, eu podia até confundi-lo com um Protetorando — só não conta para ele que disse isso pois ele não é chegado nos caras —, mas sabia que estava longe de ser um.
Ele se pôs diante de mim e, mesmo sem armas, cerrou os punhos esperando que algo a mais acontecesse.
— Cê ainda duvida que estamos numa caixa de areia felina? — Disse, colocando-me à sua direita. — Não me afasta. E ô.
— Sim.
Santa literariedade. O que Daymon teve de treinamento de combate, político-econômico lhe faltou em linguagem. Não julgarei.
— Só para avisar que o que nos atingiu veio por baixo, tá? — Continuei, pisando na areia e testando a consistência. Ainda era rala, fofa e gelada. Sabia que era gelada porque não estava quente, simples assim. Da mesma maneira que era noite, por não estar de manhã.
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Primon: Uma Odisséia no espaço
Science Fiction"É, eu não acredito que ele cancelou nosso date por algo tão trivial! Qual é, e daí que ele recebeu um chamado de máxima prioridade? Eu sou a PRIORidade dele. Imortais! " Prior e Daymon tinham um encontro marcado, mas um chamado de última hora leva...