— Prior, chave de ajuste! — Daymon gritou do fundo, havia ido consertar alguma coisa no maquinário da nave que eu não sabia.
— Aqui — Entreguei a ferramenta, vendo-o deitado no assoalho e com metade do corpo entre cabos e fiações. Ali embaixo o ar estava bastante úmido e a sensação era de que estávamos numa grande fornalha.
— Tem certeza de que é seguro? — Perguntei, ouvindo-o murmurar algo. Seria "totalmente seguro?" — Daymon, sai dai. Cara.
Ele me ouviu, mas não saiu debaixo dos cabos, acima da sua cabeça havia tubos, canos de ferro e metal por onde corriam ar e outras coisas. Bastava um toque para causar na pele uma queimadura profunda e bastante incômoda.
— Se não tomar cuidado pode acabar se... queimando.
Daymon rolou o corpo que estava numa base móvel para baixo, aproximando-se de mim.
— Tá tudo bem. — Disse escondendo o braço. — Consegui estabilizar os pressurizadores, acho que não vamos explodir no meio do espaço.
— Isso seria ótimo, mas você se queimou. Eu poderia ter feito isso! — Vi-o passar por mim e subir as escadas íngremes que levavam para o compartimento de cima daquela pequena nave. Andar dentro dela era como engatinhar por túneis estreitos e escuros sem saber quando o fim chegará.
— Aí você teria se queimado ou pior, nos matado! — Daymon disse, estendendo a mão para mim. Eu a segurei e senti meu corpo ser puxado para cima. Nossos corpos ficaram próximos. Ele continuou, agora um pouco mais baixo:
— Pedi uma chave de ajuste e me trouxe uma de sextavado. Acho que não ensinaram bem na Academia*
— Qual é, chave é chave! E como se virou com a chave errada?
Daymon sorriu, conduzindo-me até a cabine principal onde tínhamos passado a maior parte do tempo durante toda a viagem: Três (3) meses, duas (2) semanas e cinco (5) dias. Dormíamos e conversamos bastante alí, no compartimento cujo teto era alto o suficiente para ficarmos completamente em pé. De pé até quando a gravidade não desligava, como aqueles interruptores de casa que caem e a energia ou a água quente do chuveiro cai junto.
Continuando a conversa após uma pausa, ele respondeu:
— Eu entortei a chave e usei um pouco de força, fiz o metal afrouxar e moldar conforme a necessidade. Apertando-o novamente no ponto específico. Sei que essa nave é uma velharia, protótipo das primeiras tentativas de viajar pelo espaço. Mas é graças a essa tecnologia ultrapassada* que poderemos chegar no nosso destino sem corrermos riscos de sermos interceptados ou traceados.
Revirei os olhos, durante a nossa viagem ouvi aquelas palavras um punhado de vezes em situações diferentes. Estávamos indo para um canto distante da galáxia, esquecido pelos planetas e seus povos. Ou seja, literalmente para o fim do mundo.
— E como saberemos se estamos perto ou no caminho certo, pois pense bem: Se a nave é tão velha quanto os povos que viviam naquele planeta*, como poderia chegar num lugar tão distante e desconhecido por todos? — Perguntei, largando o giz de cera. Havia acabado de desenhar o prédio do Protetorado, Marjorie, Len Len, Damon e a mim mesmo.
— É justamente com base nesse pensamento e por causa dele que estamos protegidos. A tecnologia e a inteligência atual são incapazes de conceber esse acontecimento e seguindo esse raciocínio vou provar para você que chegaremos ao nosso destino ainda com vida. O que fez aí?
Escondi meu desenho embaixo do corpo, estava jogado no assoalho de pernas para cima. Como Daymon fazia boa parte do trabalho, me sobrava muito tempo livre. Ele chegou perto, deitando também no assoalho e ao meu lado, seu braço envolveu o meu corpo até a sua extremidade e, sem dificuldade, retirou o papel do esconderijo. Ele deitou de barriga para cima e esticou o desenho para contemplá-lo:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Primon: Uma Odisséia no espaço
Science Fiction"É, eu não acredito que ele cancelou nosso date por algo tão trivial! Qual é, e daí que ele recebeu um chamado de máxima prioridade? Eu sou a PRIORidade dele. Imortais! " Prior e Daymon tinham um encontro marcado, mas um chamado de última hora leva...