Capítulo 1

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         ~ Este trabalho contém conteúdo sensível e ,sim, pode despertar alguns gatilhos em alguns leitores, então ,vou logo avisando : Se decidir ler, fica de SUA própria responsabilidade, ok ? Estou fazendo o meu melhor para tratar os tópicos desta história com maturidade e cuidado, então não venham dizer que estou ''romantizando'' algo porque não estou. Deixo meus leitores livres a acharem o que quiserem da história e dos personagens :) De todo modo, boa leitura!


    Não era a primeira fez que Aziraphale visitava um lugar daqueles, mas ,definitivamente, era a primeira vez que estava em um lugar com tantos criminosos reunidos. Fazia-o tremer de excitação só de imaginar quantas provas poderia tirar daquela noite agradável, quantas pessoas poderiam ser expostas a prisão por intermédio seu.
       Não conseguiu conter o sorriso para a expectativa e levou o champanhe aos lábios para disfarçar a animação, recebendo uma repreenda clara dos olhos afiados de sua parceira Anathema. Ele tossiu para se recompor e vagou os olhos para as pessoas ao redor, identificando um a um pelo nome e pelo histórico.
       Aziraphale sabia que aquela era uma brincadeira perigosa, tinha certeza que um erro sequer poderia acabar com uma bala em sua cabeça, porém ele tinha confiança o suficiente para se manter nos eixos, além disso, não era do tipo estúpido que faz coisas impensadas, pelo contrário, era meticuloso e acima de qualquer suspeitas.
       Claro que eles usavam codinomes para fugir da identificação dos bandidos. Ninguém ali jamais poderia saber quem era o responsável pelas prisões repentinas , nem a própria polícia os conheciam pelos nomes reais. Os documentos simplesmente apareciam e polícia estava mais do que satisfeita em tê-los em mãos.
        Ele e Anathema levavam uma vida discreta, longe de qualquer suspeita, mas ,ironicamente, óbvios demais para serem ,de fato, associados as prisões.
Anathema chutou seu pé por debaixo da mesa, fazendo-o olhar bruscamente em sua direção. Ela tinha os olhos fixos em uma figura mais ao fundo que usava um terno branco e caro. Aziraphale apurou rapidamente, lançando um olhar de cumplicidade para a parceira em acordo no instante seguinte.
      Um homem de feições rígidas, cabelos escuros bem penteados para trás ,peito estufado em um ar confiante, personalidade carismática, conveniente para a imagem que mantinha. Gabriel Hamm tinha uma fama positiva na mídia, fazia trabalhos de caridade, era um grande empresário e filantropo , mas aquilo era tudo que as pessoas sabiam sobre ele.
Aziraphale, no entanto, sabia mais.
     Não foi fácil descobrir a associação daquela figura tão bem conceituada com contrabando, lavagem de dinheiro e redes de prostituição. Ele e Anathema cavaram fundo para descobrir as coisas, visitaram lugares que normalmente não iriam e ,por fim, se relacionaram com um círculo social que não fazia parte de seus gostos, mas conveniente para o seus ofícios.
Anathema passou as mãos nos cabelos graciosamente e lhe deu um olhar que há muito já havia se familiarizado, o olhar severo de ''aquele peixe é meu'' e se levantou em direção a figura posicionada em meio a tantas outras. Aziraphale observou tudo de longe.
      De fato, Anathema tinha um dom aguçado de socializar quando lhe era benéfico. Bastou algumas palavras trocadas para que Gabriel estivesse lhe dando a devida atenção, levando todas as perguntas maliciosas e mal-intencionadas como flerte, se exibindo para a doce jovem em sua frente.
       Talvez esse seja o maior defeito de pessoas ricas., Aziraphale pensou. Se expor demais.
- O que está achando do evento, Sr.Fell ?
       Aziraphale engasgou de surpresa, batendo a mão contra o próprio peito contra a bebida mal direcionada em sua garganta. Ele olhou para o lado para encontrar Newt Pulsifer sentado na cadeira que há segundos estava vazia parecendo divertido com a situação do outro.
- Sim. - tossiu novamente, arrancando um dos guardanapos bem ornamentados para pressionar contra os lábios.
- E você ? - se apressou em completar, olhando amistosamente para o rapaz.
- Ah, sim, sim. Ótimo. - respondeu, sorrindo graciosamente. - Como está a cobertura do evento ? Suponho que escreverá coisas boas, huh ?
        Aziraphale ergueu ligeiramente as sobrancelhas em reconhecimento, bebericando a bebida antes de responder.
- Naturalmente. - assegurou. - Você está em boas mãos jovem Newt.
- Você sabe... Eu sou quase da sua idade. - ele pegou a taça de Anathema e bebeu um pouco do vinho. - Não precisa me tratar como se eu fosse seu sobrinho ou algo do tipo.
Aziraphale deu uma risada curta em resposta.
- Ah, eu sei, querido. Não é minha intenção soar dessa forma, pode ter certeza. É apenas um... - buscou a palavra cautelosamente no ar antes de dar prosseguimento. - ..hábito.
- Claro. - Newt concordou, ainda que parecesse levemente decepcionado. - Você já -- Oh, Crowley!
        Newt colocou-se de pé rapidamente quando notou a figura em terno escuro se aproximando. Tinha cabelos castanhos avermelhados solto nos ombros, postura ereta e inflexível, feições pétreas e um ar agressivo, ainda que possuísse uma sutileza elegante. Aziraphale conhecia aquela pessoa, embora nunca tivesse, de fato, falado ou se encontrado pessoalmente uma vez sequer, mas ele sabia que Anthony J. Crowley era tão sujo quanto qualquer um dalí.
Na verdade, um dos mais sujos.
      Aziraphale nunca conseguiu coletar nada sobre o envolvimento daquela pessoa com crimes, pois tudo que a mídia tinha eram coisas positivas - talvez algumas polêmicas aqui e alí, mas eram tão insignificantes que rapidamente eram esquecidas, afinal, quem se importa que Anthony Crowley nadou nu com a namorada em um resort ? Aparentemente grande parte das pessoas. -. O jornalista, no entanto, estava ansioso para um dia poder colocar as mãos nas provas que precisava.
        Filho herdeiro de uma família rica, de extrema boa aparência que ostentava um número exagerado de casos amorosos e que prosperava os negócio da família com uma número exorbitante de admiradores ao seu redor, como uma celebridade, Crowley tinha a imagem perfeita de um filho prodígio. Além de tudo já mencionado ,ele também fazia projetos de caridade, ajudava ONGs e diversos outros órgãos sociais que inspiravam simpatia nas pessoas ao seu redor. O quão adorável era um ser humano como ele ceder parte de sua fortuna àqueles que precisavam? Aparentemente, era um perfeito ser humano! Tinha caráter, tinha aparência! O que mais restava?!
        Ainda não., Aziraphale se censurava. Ainda aquele fosse seu ofício, não podia se dar o luxo de escolher quem derrubar à dedo. Ele tinha que avaliar , precisava digerir, coletar evidências incriminadoras antes de sequer pensar em dar um passo.
       Ele não se levantou da cadeira para cumprimentá-lo, fingiu estar particularmente interessado em sua bebida e desatento a todo o resto. Foi só quando Newt aproximou-se com o homem em questão que ele ergueu-se, deixando a bebida de lado.
- ...e este aqui é o Sr.Fell. - Newt o apresentou, lançando Crowley em sua direção. - O jornalista que contatamos para fazer cobertura sobre o evento.
Crowley sorriu em reconhecimento, olhando-o por cima, contudo, algo em sua expressão denunciavam o quão indiferente ele era em relação a informação. Soava até como desprezo.
- Suponho que não preciso me apresentar, Sr.Fell. - murmurou, dando um aperto firme na mão do outro mais forte que o esperado, o que fez Aziraphale franzir o rosto. - Eu soube que você e sua equipe vem escrevendo coisas muito bondosas ao meu respeito.
         Ah, claro. , Aziraphale sorriu aliviado.
- Trabalhos de caridade e bons investimentos merecem reconhecimento. - justificou, mesmo que sentisse que não precisava. - É um prazer conhecê-lo.
         Aquilo não teve efeito nenhum em Crowley, ele apenas manteve seus olhos fixos no rosto de Aziraphale por um momento, o que o fez o jornalista ficar gradativamente desconfortável com a intensidade misteriosa que aqueles estranhos olhos âmbar expressavam.
         O aperto de mão se fora, e agora Crowley mantinha as mãos presas ao lado do corpo, deslizando os olhar do rosto do jornalista para o corpo, onde se demoraram mais em sua meticulosa observação.

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