- Kelly? - O irmão de Ricardo toca no meu ombro de leve. Continuo olhando para a rua através da janela do carro, distraída, e ele insiste mais alto: - Kelly?!
- Oi - murmuro, desviando os meus olhos para ele. - O que foi?
- O shopping. - Ele aponta para o lado e abre a pasta para guardar os papéis que estava lendo durante o caminho. - A gente chegou.
Faço que sim com a cabeça e espero o motorista abrir a porta para descermos. Juliano sai primeiro, estendendo o braço para me ajudar, e, enquanto caminhamos - comigo ainda mantendo uma certa distância -, é impossível não notar os olhares de interesse direcionados a ele e os de desprezo, a mim. Nenhuma mulher parecia acreditar que pudéssemos sequer andar juntos, que falta de sororidade...
Esperamos por Jaqueline por alguns minutos em frente a uma das lojas de departamento do shopping. Quando ela aparece, enfim, Juliano acena e a loira vem na nossa direção, toda trabalhada na magreza e elegância. Sinto-me feia e mal vestida perto dela.
- Força, Kellyzinha. A Jaque parece meio esnobe mas é muito boa gente, juro! - Juliano me encoraja baixinho, apertando uma das minhas mãos discretamente.
- Você percebeu? Que...bem, que... - gaguejo, a insegurança batendo forte.
- Que você se sentiu intimidada por ela? Sim. Você começou a hiperventilar, a sua mão tá gelada...eu nem precisava ser muito observador pra sacar, mas, a propósito, eu sou.
- O quê? - pergunto, distraída pela mão grande e quente segurando a minha mais uma vez. Ele é o primeiro homem sem ser o meu pai a me tocar, e eu poderia me acostumar facilmente à sensação.
- Muito observador. Oi, Jaque! - Ele solta a minha mão para cumprimentar a recém chegada. - Há quanto tempo eu não te vejo...posso te apresentar à Kelly?
- Claro! Oi, Kelly, é um prazer te conhecer. - A elegante loira me estende a mão, a curiosidade visivelmente estampada no rosto bonito. - Imagino que você seja a cliente de hoje, estou certa?
Abro a boca para responder, entretanto o meu amigo (e, se Deus permitir, futuro cunhado) se antecipa:
- É sim, Jaque! Seria ótimo se você comprasse algumas roupas com a Kelly e desse alguns toques de maquiagem e cabelo!
- Pacote completo, então? - Juliano responde que sim. - Tudo bem. Eu normalmente marco uma reunião pra conhecer o cliente antes e fazer uma análise cromática, mas posso dar um jeito. Quer começar por onde?
- Pelas roupas, por favor! - ele se antecipa de novo. - E se vocês comprarem alguma, tragam as que ela tá usando pra mim. Quero muito jogá-las no lixo.
- Sempre exagerado, não é, Juli? - Jaqueline ri. - Adoro o seu senso de humor, porém eu acho que você deveria deixar a mocinha falar por si. Por onde você quer começar, Kelly?
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Um Clichê Para Kelly
RomanceKelly Müller sabe que não passa de um clichê, e dos grandes (sem trocadilho): é uma secretária executiva solteira/encalhada, acima do peso, apaixonada por gatos e mais apaixonada ainda pelo chefe, o mulherengo Ricardo Bianchi. Talvez ele a notasse...