Wrong Address | beauany

Dois.

Eu sei que vocês vão achar que tem muita narração e pouco diálogo, mas como eu digo, se atentem aos detalhes. Tudo pode ser (ou é) importante! Boa leitura 💜

❄️

@crzeys bloqueou você.

Encaro a tela do celular em pura descrença. O que acabou de acontecer?

Entro no grupo com meus amigos e como Savannah e Nour já haviam contado sobre a caixa misteriosa apenas atualizo o caso.

— Gente, achei o Kyle, mas ele me bloqueou? Mandei mensagem toda educadinha e ele só me respondeu com um "vai pra puta que pariu fake dos infernos" e me bloqueou! O que eu faço agora?

Envio o áudio e segundos depois tenho várias respostas zombando de mim ou dizendo "pega o box pra você então". Grandes amigos. Resolvo deixar aquilo de lado para aproveitar minha noite da melhor forma possível: fazendo uma maratona de Friends.

Segunda-feira, 8:30 da manhã.

"Após três dias de nevasca intensa, a cidade de Nova Iorque amanhece coberta de neve. Escolas e grande parte do comércio permanecem fechados enquanto moradores limpam as ruas para auxiliarem as equipes de limpeza, que trabalham desde às cinco da manhã."

A repórter noticia a situação da cidade e eu olho de soslaio para a caixa que recebi na sexta, suspirando frustrada por não saber o que fazer.

Nos últimos dias tentei fazer contato com o dono pelas contas dos meus amigos mas obtivemos o mesmo resultado: todos fomos bloqueados pelo tal de Kyle.

Levanto-me para deixar minha xícara de café na cozinha, mas algo me chama a atenção quando passo pela janela. Volto alguns passos e vejo que minha rua já estava praticamente limpa da neve, para meu alívio.

Sorrio quando percebi que poderia finalmente ir aos Correios tentar devolver essa budega. Porque sinceramente, por mais que eu queira muito esses livros, não quero pegar o que é dos outros. Mesmo que o "outro" esteja quase me pedindo para ficar com o presente.

E sendo bem sincera, seria maravilhoso não ter que morrer em 200 dólares, mas também seria contra tudo o que eu sou.

Visto meu casaco pensando nisso e em como a Kyara da carta ficaria feliz recebendo o presente que tanto queria. Pego a caixa ao lado da porta e logo estou andando até o correio, com certa dificuldade pela quantidade ainda grande de neve.

Fico por mais de uma hora naquele local, tentando convencer o atendente que devia ter alguma forma de rastrear essa caixa de volta, mesmo que ele me dissesse que não, de novo e de novo.

Volto mais frustrada para casa do que fiquei quando fui bloqueada. Olho para o céu claro e espero alguma resposta divina. O que eu faço com isso?

Deixo a caixa dentro do meu apartamento novamente e decido aproveitar o tempo firme para fazer algumas compras e me preparar para uma outra nevasca, prevista para a quarta-feira.

É igual aquela parábola do esquilo que resolve se preparar para o inverno e o outro que não se prepara e acaba numa... fria. Badumtis. Hilária, eu sei. De qualquer forma, não lembro ao certo da história, mas ela era mais ou menos assim, okay? E na última vez que passamos por uma nevasca e eu não consegui me preparar (lê-se " pura preguiça"), fiquei três dias vivendo única e puramente de miojo e água.

Lição aprendida e dispensa cheia todas as vezes que uma neve minimamente mais forte ameaça cair. Mas como não sou humanamente capaz de levar tudo até em casa, peço para entregarem as comprar em duas horas, tempo o suficiente para eu almoçar e renovar meu guarda-roupa de moletons.