Quatro.

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Apartamento de Any, 23:30 da noite

— Se existe massa pronta e eu tenho pouco tempo, porque fazer do zero?

— É muito mais saudável!

— Tem manteiga e chocolate, Josh, não é saudável de qualquer maneira. — A risada de Any preenche sua sala de estar e eu a acompanho.

Voltamos a um silêncio cômico quando a cacheada tomba seu morango dentro do potinho de fondue de chocolate e eu a observo com um pequeno sorriso nos lábios.

A primeira vez que isso ocorreu no começo do jantar, levei um belo sermão sobre o "resgate" do alimento (na hora o pão que caiu no queijo) ser um momento de concentração, ou então ela faria um grande desastre.

Obviamente concordei, mas até agora — a quinta vez que isso acontece— não consegui parar de rir uma só vez.

Gabrielly aparentemente tem a mania de colocar a língua para fora quando quer se manter concentrada em uma tarefa, e o resgate do pãozinho é um desses casos. Inferno de mulher adorável do caralho.

Essa raiva apaixonada grita dentro de mim e vem me consumindo há algumas horas, embora eu pareça estar muito bom no exterior. Penso nisso enquanto ela volta com sua explicação mirabolante sobre comidas nada saudáveis.

Desde que despejei algumas lágrimas enquanto falava com Sabina e também no banho, tento não pensar muito no que de fato aconteceu, mas é quase impossível quando alguém como ela está na minha frente.

Para o meu grande infortúnio, Any Gabrielly é milhões de vezes melhor que Kyara, em todos os aspectos. Pude perceber isso nessas poucas horas que passamos juntos, mesmo que grande parte desse tempo tenhamos permanecido em silêncio.

E esse, para mim, é o grande problema. Ela é tão incrível que transmite isso com seus mínimos gestos, uma preocupação latente com o próximo que de forma alguma se assemelha a pena; Gabrielly simplesmente gosta de ajudar e agradar os outros mesmo quando não pedem ajuda. Ela faz por fazer, não esperando nada em troca.

Deixou um moletom novo e quentinho junto a um chocolate - seu bem precioso, como ela mesma me disse -; fez questão de colocar minhas roupas para lavar e secar para eu ter outro par de roupas e conseguiu, aos poucos, me provar que estou completamente fudido.

Estou nesse momento, comendo fondue e tomando vinho com o rosto de quem me apaixonei, mas uma personalidade ainda mais apaixonante. Preso, por horas até conseguir andar até em casa sem ser engolido pela neve.

Continuo assentindo em silêncio em concordância ao seu discurso que ainda continuava, mesmo sem - apenas naquele momento - não prestar muita atenção.

— Oh, eu também acho que a gente deveria transar loucamente pra se aquecer. — Ela diz com um sorriso ladino nos lábios e eu a encaro de olhos arregalados, me assustando com sua frase.

— O-o quê?

— Ah, então você não estava mesmo prestando atenção, né, Joshua? — Ri da minha expressão confusa enquanto bebe um pouco de seu vinho.

Levanto meu dedo do meio em sua direção e bebo também.

— Any, falando sério agora. — pouso a taça na mesa. — obrigado por me deixar ficar aqui e por me acolher também. E... me desculpe por toda essa confusão. — tento realmente transimitir o que sentia com meu olhar e essas poucas palavras, pois sabia que iria desabar se continuasse naquilo.

Pode ser só impressão minha, mas juro que vi em seu olhar um traço rápido de que ela havia entendido. Então, ela provou ser realmente incrível quando desconversou, dando de ombros.

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