23- ALISHA

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UMA SEMANA APÓS O ACIDENTE...

Após o acontecido de sábado passado, Noah sumiu. E não nos falamos mais desde então. Estou no sofá da minha sala, com meu celular nas mãos lendo nossas conversas antigas e checando se está online. Porém nada dele aparecer. Ele não me disse se Travis está bem, nem se ele está bem. Quando passo pelo asilo para visitar uns amigos, não vejo o mesmo lá. Tenho medo de nos afastarmos de novo. E dessa vez, pra sempre...

Hosanna chega na sala e ao me ouvir fungar, indaga:

- Você está bem?

- Estou.- dei um sorriso sem graça, em meio às lágrimas.

- Seus olhos e seu nariz vermelho dizem o contrário.- a garota diz, pegando Tiana no colo.

- É, na verdade eu não estou não.- afirmei, colocando o celular no sofá

- Ele ainda não te mandou mensagem?- sua voz estava um pouco distante porque estava caminhando até o banheiro. Aparentemente para fazer suas necessidades.

- Não? - ela volta, com uma caixa de lenços na mão. Eu apenas indiquei que "sim" e ela me entregou o objeto- Toma. Você vai precisar.

Comecei a limpar minhas lágrimas e as secreções do meu nariz entupido e comecei:

- No dia do acidente...- funguei- Ele se sentiu muito culpado e achou que seu amigo iria morrer. - olhei para ela com lágrimas que brilhavam nos meus olhos

Ela não dizia nada. Apenas me olhava e me ouvia atentamente:

- Ele até brigou com o pai. O cara disse coisas horríveis pra ele. Chamou de irresponsável, de...- suspirei- sem juízo, e muitas outras coisas. Senti também que ele não queria ver o filho comigo. Tenho certeza que ele acha que eu sou uma má influência ou sei lá o que esse homem pensa- abaixei a cabeça e me distrai com meu lencinho molhado do meu choro

- Esse cara é um sem noção. O menino já estava se sentindo mal o suficiente com medo de perder um amigo e ele ainda fica brigando com o filho? - ela parou um tempo e depois soltou um "hum".

Ficamos um tempo em silêncio e eu, já com o rosto seco mas com os olhos ainda inchados, acrescentei :

- Eu só... Espero que ele esteja bem. - suspirei

Infelizmente, ele não estava bem. Sua ansiedade havia agravado desde o acidente e suas crises eram repentinas e frequentes. Era para ele estar se preparando para uma nova fase na sua vida, mas parecia que algo o impedia. O rapaz estava até pensando em voltar a fazer terapia. 

Depois da conversa que tive com Hosanna, fiquei um pouco mais aliviada em desabafar com alguém mas não me sentia totalmente bem. Já estava em minha cama, me mexendo sem parar, já que a insônia havia se convidado para entrar no meu quarto. Decidi que seria uma boa ideia tomar um banho quente então liguei o chuveiro, pus uma música relaxante e deixei meu corpo e mente se acalmarem ao entrarem em contato com a melodia da canção e a reconfortante temperatura da água. Minutos depois, desliguei o chuveiro, me sequei cuidadosamente e coloquei meu pijama de volta, já que estava limpo. Desci com toda cautela até a cozinha para fazer um bom chá para poder dormir e voltei para o quarto com uma caneca cheia de um chá de erva doce com alecrim- É realmente saboroso e saudável- Deitei na cama, liguei o abajur e comecei a ler um livro "Crônicas de Nárnia". Hosanna me indicou e parecia muito interessante. Bebia lentamente o conteúdo enquanto imaginava Nárnia sendo criada pelo Grande Leão Aslam.  Algumas páginas depois, a bebida quente passou a fazer grande efeito e me deu certa sonolência. Fechei o livro, apaguei o objeto de luz e dormi. Aquele tipo de coisa me ajudava de verdade a me sentir melhor. Nem estava tão preocupada mais. Até sonhei que estava na história do meu livro. O sonho era tão bom que não pretendia acordar.

A magia da noite passada durou pouco e o dia logo veio. Logo ao acordar, peguei meu celular e nenhum sinal do rapaz dos olhos verdes. Droga. Me aprontei e fui tomar meu café. Eu e minha família conversamos, falamos sobre a faculdade, o trabalho da mamãe e tudo mais.

- Daqui a algumas semanas vamos voltar a Dunkirk para procurar um apartamento para você. - meu pai se dirigiu a mim

- Sério? Nossa que legal!- por um momento, vibrei. Porém, por outro, me senti mal porque posso ficar longe do Noah. 

- Sim. Já pode se preparando, mocinha. Porque sua vida está prestes a mudar!- meu pai disse e sorriu. Em seguida bebeu um gole de seu café.

- Vocês estão crescendo tão rápido! Daqui a pouco vou estar segurando um netinho nos braços! - minha mãe exclamou e depositou um beijo no meu rosto.

- Por falar nisso, como estão as coisas com o rapaz lá?... Noah. - meu pai indagou.- Vocês já estão se falando?

- Ainda não.-  mordi minha maçã- Ele não dá sinal em lugar nenhum...

- Que pena, querida! Espero que isso se resolva logo!- minha mãe segurou minha mão e sorrimos

- Bom! Agora preciso ir trabalhar. Tchau minhas princesas. - meu pai depositou um beijo em nós três e saiu de casa.

- É... E vocês duas também têm o que fazer! Vamos, querida. Vou te levar pra escola hoje. - minha mãe seguiu com Hosanna até a porta e se despediu de mim

- AMO VOCÊS! - a porta se fechou, então não deu pra elas me ouvirem.

Aproveitando que tinha o tempo livre até meus afazeres, lavei a louça, ajeitei um pouco a casa e fui estudar.

"Verbos em alemão mais usados" Pesquisei em meu notebook para um resumo que estava fazendo sobre verbos:

Sein (ser)

ich bin

du bist {...}

Transcrevia as palavras em meu caderno enquanto apreciava a voz de Josh Beauchamp com sua mais nova música "Start" *. Até que eu recebo uma notificação de mensagem que me faz para a música. Era Noah.

" Desculpa por sumir de repente. Ultimamente eu não tenho passado bem, preciso de um tempo sozinho."

Essa foi a primeira e única mensagem que recebi do rapaz depois desses dias todos.
Pelo menos você já sabe que ele está vivo, Pensei. Tava tudo bem, daí caiu a ficha. E as dúvidas começaram a aparecer: Ele pode estar vivo agora mas será que por muito tempo? Meu Deus, será que as crises voltaram? Será que ele vai se afundar na ansiedade e depressão, vai sumir das redes sociais e nunca mais vamos nos ver? Comecei a ficar nervosa, pensamentos vindo rápidos demais e eu mal respirava. Calma, Alisha.
Respira. 1..2..3.. Respira. Voltei à realidade, enxuguei algumas gotículas que já caíam dos meus olhos e levantei da cadeira para tomar um ar. Eu não posso deixar esses pensamentos me dominarem. São absurdos! Caminho para fora de casa e começo a andar sem rumo pelas ruas. Observar a natureza, o céu, as folhas caindo, sentir o vento soprando e os raios de sol me aquecendo sempre me fazem bem. Paro para descansar num banco perto de uma árvore e uma senhora senta ao meu lado. Ela percebe minha angústia e diz:

- Eu posso não saber de tudo, mas sei que está sofrendo por amar. Estou certa?

- Sim, está sim.

- Querida- levantou meu queixo com sua mão delicada e cheia de marcas da vida- A dor é necessária. Não há nada que o amor e o tempo  não possam curar. - Por um instante isso pareceu confuso. Mas depois entendi. Parecia que ela sabia o que estava acontecendo. Eu não questionei. Apenas acenti com a cabeça e derramei algumas lágrimas.

- Ei- ela limpou uma lágrima que caía levemente de meu rosto- Está tudo bem. Pode chorar. Você precisa sentir para que a dor se vá.

Eu olhei para a mesma, que sorriu. Quando eu olhei para baixo, e depois levantei minha cabeça e vi ela indo embora. Eu não entendi muito bem o que havia acontecido. Mas sei que alguma coisa mudou em mim a partir daquele momento. Levantei do banco decidida de que não precisava desistir mas, que precisava seguir minha vida e deixar que as coisas aconteçam. Ele já devia estar ferido por muitas coisas. E aí, o acidente só trouxe de volta todos os sentimentos que ele prendia e que precisava se curar com o tempo. E minha função era amar e respeitar. E espera-lo. Para finalmente sermos felizes.
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* Na fanfic, coloquei um dos melhores amigos do Noah na vida real pra ser um cantor solo. Então, a suposta música nova não é real ;)

𝐀 𝐒𝐞𝐜𝐫𝐞𝐭 𝐋𝐨𝐯𝐞 | 𝚗𝚘𝚊𝚑 𝚞𝚛𝚛𝚎𝚊 (✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora