XXII. Com todo o meu coração

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Contar para as meninas foi mil milhões de vezes mais fácil. Disso não havia dúvidas.

Thomas simplesmente estufou o peito, criou coragem, e falou. Sem nervosismo, sem receio, só falou, e as meninas não poderiam ter recebido a notícia de forma melhor. Foi um carinho só, com direito a abraços, beijos, e "ei, estamos orgulhosas de você por contar". Elas até foram contagiadas por gritinhos de entusiasmo, deixando Thomas tão vermelho quanto um tomate. Como já dito: não poderia ter sido melhor.

Alyssa tinha um sorriso enorme na cara, os olhos brilhavam. Se alguém estava alegre com a notícia, esse alguém era ela.

— Eu não sou a única no Vale!

— Hã... o que é isso? — Thomas talvez tivesse a confusão estampada no rosto, num mix de sobrancelhas franzidas e olhos semicerrados.

— Um dia você vai entender, meu caro. — O anjo sorriu, dando batidinhas leves no ombro dele. — Um dia você vai entender.

Naomi e Hunter não evitaram risadinhas ao lado dele.

— O quê? Só eu não sei o que é isso?

— É, seu otário. Você nunca assistiu nenhum filme gay?

— Não, Boyce. Nunca.

Mais risadinhas.

— Tão inexperiente... — Naomi balançou a cabeça de um lado para o outro dramaticamente, reprovando-o. — Mas relaxe, ok? Você aprende rápido. Até lá, nós te guiamos, né, Aly?

— É, eu tenho uma lista de doramas pra te apresentar.

— Pose! Ele tem que assistir Pose — sugeriu Hunter, todo animado. — Até eu amo, e nem tenho nada a ver com o mundo LGBT.

— Comunidade — Alyssa corrigiu. — É comunidade LGBT.

— Isso! Comunidade. Mas isso é o de menos, você tem que assistir Pose, Tommy.

Naomi olhou-o com uma cara engraçada.

— Eu tenho minhas dúvidas com você, hein!

Em resposta, ele deu de ombros. Alyssa e Thomas caíram na risada.

Naquele clima tranquilo demais para parecer verdade, o dia seguiu. A escola não parecia mais tão sufocante, embora ainda houvesse algumas perguntas desconcertantes aqui, e piadinhas sobre Cole Tucker e a relação dos dois ali. As coisas funcionavam melhor assim, sem mentiras, ou omissões; estava tudo perfeito, mesmo que em alguns momentos Thomas quisesse enfiar a cabeça em um buraco de tanta vergonha.

A aula de inglês era a última daquela tediosa sexta-feira, e para encerrar a semana com chave de ouro, o professor passou um trabalho dissertativo cheio de normas tão minuciosas que sequer poderia ser feito individualmente. A entrega era para ser feita na segunda, e as duplas? Sorteadas. Infelizmente.

— Naomi Yamazaki e Alyssa Davis.

As meninas fizeram o cumprimento esquisito e restrito das duas em comemoração, e Thomas se afundou ainda mais na cadeira, esperando pelo pior. Hunter já havia sido sorteado, e Lucas Lindemann também, quem ainda restava mesmo?

— Thomas Standall e... — O professor enfiou a mão na caixinha em cima do birô, tirando um papelzinho todo embrulhado lá de dentro. — Charlotte Tucker.

O garoto suspirou profundamente, deixando o alívio derrubar a ansiedade. Opção melhor não tinha, por isso foi com grande gratidão ao Universo que ele ergueu o braço para acenar para Lottie lá do outro lado da sala. Quando voltou a se recostar na cadeira, pegou olhares todo insinuantes em sua direção.

Delírios Não Apaixonados (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora