No fundo Thomas sabia que seria impossível evitar todo mundo que não queria ver naquele momento, mas conseguiu ao menos se convencer de que tentativas são tão válidas quanto a certeza da derrota.
Por esse motivo, quando avistou Cole Tucker no cruzamento de um corredor, virou automaticamente para o lado contrário ao dele, o que não adiantou de muita coisa, porque acabou encontrando Naomi e Alyssa de braços atados vindo em sua direção. Thomas rapidamente deu meia volta, certo de que conseguiria se safar ileso, porém deu de cara com Hunter, encostado no armário e com aqueles olhos castanhos focados nele.
E a conclusão de tudo isso era a de que seria um longo dia.
Thomas se apressou para chegar à aula de literatura, quase correndo até lá. E não porque gostasse da matéria, ou por ser pontual, mas única e exclusivamente porque queria sumir. Procurou o assento mais invisível da sala e logo estava sentado, esperando até que o resto dos alunos chegassem. A parte boa é que esta seria uma das aulas fáceis, já que a dividia somente com Naomi, que de toda sua lista era a mais fácil de ignorar. E mesmo que toda essa coisa de ignorar não fosse exatamente a escolha certa a se fazer, era a que Thomas mais estava confortável em adotar nesse caótico momento de sua vida.
Mas não se enganem, não era lá tão simples. Enquanto só evitava seus amigos as coisas estavam mais equilibradas, ele conseguia lidar. Entretanto, agora Cole também estava na jogada, e tudo só se mostrava complicado em dose dupla.
Maldito Tucker!
Thomas sequer era capaz de lembrar-se do último momento em que aqueles malditos beijos não o atormentavam. Já era algo tão presente em sua atual realidade, que viver sem as constantes lembranças do ocorrido parecia uma ideia absurda — e altamente desejada. Fazia exatos três dias que tudo o que ele conseguia pensar era Cole; três dias que constantemente se remoía por dentro; três dias sendo torturado pela lembrança de uma ação movida pelo delírio de um desejo.
Delírios estes definitivamente não apaixonados.
Era um martírio indescritível, e não havia nada que ele pudesse fazer para resolver, por isso apenas se lastimava com certa frequência, porque afinal: aonde estava com a porra cabeça quando cedeu àquilo?
Ele acabou por culpar o álcool da noite anterior.
Quando finalmente os últimos alunos chegaram, o sr. Viana fechou a porta e esperou que eles se sentassem, antes de engatar a falar:
— Bom, crianças, hoje vamos organizar duplas para um trabalho que... sr. Steele, por favor, sente-se de uma vez! — E todos olharam para Alex, que bufou ao perceber que os assentos ao lado de seus amigos estavam ocupados.
— Não tem lugar! — ele resmungou, todo choroso.
— À esquerda, junto ao sr. Standall — respondeu o professor, exalando impaciência. Não é como se Alex fosse um de seus alunos favoritos. — Se apresse, o tempo é curto hoje.
Alex logo obedeceu, ainda que contrariado. Colocou suas coisas em cima da mesa e se jogou na cadeira ao lado de Thomas, cujo suspiro aborrecido não foi capaz de segurar.
Que ótimo, passaria uma aula inteira ao lado daquela criatura irritante. Ainda dava tempo de fugir?
— A Letra Escarlate é um livro conhecido por todos aqui, creio eu — começou o sr. Viana novamente, batucando os dedos no birô para atrair a atenção dos distraídos de plantão. — Nós lemos no semestre passado, mas se não conhecerem, tenho alguns exemplares aqui. Vocês farão um seminário, com uma interpretação unicamente da dupla sobre a obra. E isso quer dizer nada de copiar da internet, ok, sr. Adams?
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Delírios Não Apaixonados (romance gay)
Novela JuvenilThomas Standall vive a (in)felicidade do Ensino Médio como qualquer um tem de passar em algum momento, conhecendo seus altos e baixos de perto, porém estando, ainda assim, bastante estável em sua zona de conforto... Até alguém abalar seu coraçãozinh...