Viver na casa dos meus tios não é assim tão aborrecido. Gosto do facto de ter prateleiras adicionais no meu armário, assim posso esconder os meus pertences preferidos: as minhas tintas de tatuar. Partilho também o gosto de pintar em quadros, não apenas na minha pele.
Encontro-me de momento sentada no chão, encostada ao estrado da minha cama, que ainda nem tem um colchão. Só cheguei ontem e dormi no sofá, por isso ainda tenho de arrumar o meu quarto que vou poder chamar de "meu quarto" por um ano, ano e meio.
Os meus pais pertencem ambos ao exército: o meu pai é militar e a minha mãe enfermeira. Foram ambos em missão para o Afeganistão e, claramente, não me levariam consigo.
Não havia outro sítio ficar sem ser neste cubículo. Vou ter de aprender a lidar com a minha prima, que é uma fala-barato. Assim que cá cheguei, ela informou-me sobre uma festa que será um género duma "despedida das férias". Ela bem sabe que eu não sou muito dada a festas, sou bastante anti-social até. Mas ela continua a implorar para que eu vá. "Vá lá priminha, tu vais gostar de conhecer o pessoal de cá" é o que ela me diz assim que me apanha desprevenida. Se eu não falava com praticamente ninguém da minha antiga escola, como é suposto abordar alguém numa festa? Ela é o completamente o contrário de mim, daí não entender.
Afasto esses pensamentos e começo a olhar ao meu redor. Só vejo caixas e mais caixas por arrumar, mas a vontade de me levantar e fazer alguma coisa é pouca. Puxo a caixa mais próxima de mim e começo a vasculhar. Mesmo em cheio! Estão aqui as minhas tintas de tatuar e, como me sinto com muita pouca vontade para fazer outra coisa qualquer, decido retirá-las da caixa e começar e adicionar um desenho à minha pele.
Começo por enrolar um pouco de corda numa agulha que penso ter-me esquecido de a esterilizar quando a arrumei, mas a probabilidade de ela estar infectada é mínima, por isso salto esse passo. Começo agora por espetá-la um pouco abaixo do cotovelo, continuando ponto a ponto, espeto a espeto, formando uma linha. Não sei o que desenhar, por isso formo outra, ligando-a ao final da anterior.
Nenhuma das minhas tatuagens tem significado, faço-as porque gosto delas. Visto que também não sinto a dor nem ao mais extremo nível, isso dá-me um certo prazer. Nunca sei o que desenhar, por isso tudo depende do meu mood. Continuo a desenhar linhas, ponto a ponto, começando-se a formar algo que mais se parece com um relâmpago, por isso termino-o assim, originando mais uma pequena tatuagem na minha pele.
O meu braço direito está a começar a ficar cheio delas. Mais se parece algo como um caderno onde vou fazendo desenhinhos em cada canto: estrelas, corações, quadrados, formas do género. Mas tenho uma preferida: um arco lançando uma seta. Situa-se um palmo acima do cotovelo e desenhei-a porque acabara de ver um filme que envolvia um anjinho que atirava setas e as pessoas apaixonavam-se. Eu achei essa ideia engraçada, de um certo jeito até bonito. Não é que eu seja uma pessoa romântica, pois na verdade, a última vez que me apaixonei eu devia estar no 5º ou 6º ano, por aí.
O meu "flashback" é agora interrompido pela minha prima, que entra no meu quarto sem pedir sequer autorização.
Holly: Então priminha, ainda não arrumaste o quarto? - ela chuta uma caixa para se aproximar de mim.
Abano os ombros em resposta.
Holly: Queres ajuda?
Eu: Pode ser - não podia rejeitar.
Holly: Mas só te ajudo com uma condição: - mostra um dedo - tens de vir à festa de hoje à noite.
Reviro os olhos, pois ela bem sabe que eu não quero ir, mas ela insiste! A verdade é que eu preciso mesmo de ajuda, tenho bastantes caixas por arrumar e o mais complicado vai ser trazer o colchão até ao meu quarto, os meus braços são bastante finos, logo, eu não tenho força praticamente nenhuma.
Eu: Como queiras - mostro uma expressão aborrecida, derrotada.
Ela pula de alegria e bate palmas.
Holly: Não te vais arrepender! - dá-me um abraço rápido.
Pego de imediato na caixa mais próxima de mim, onde se encontram todas as minhas tintas, guaches, gobelés e pincéis, pois não gosto que mexam nas minhas coisas a que dou mais valor. Começo a organizá-los nas prateleiras onde era suposto eu arrumar os meus sapatos no armário, mas prefiro colocá-los de lado ou não tinha outro sítio para as esconder.
A minha prima continua a insistir.
Holly: Tenho a certeza que vais adorar conhecer o pessoal de cá! - começa a tirar camisas e calças dum caixa, encaixando cada peça num cabide e colocando-o no armário - Eles são uns fixes, são bem mais sociáveis que tu - ela provoca-me.
Dou-lhe um empurrãozinho e ela ri-se.
Holly: Não podes negar, Naomi! Não tens de ser tímida, ninguém te vai comer! - exagera.
Eu: Como queiras - rolo-lhe os olhos.
Holly: Se é como quero, então vais passar a ser mais sociável, como eu - goza.
Solto uma risada abafada, pois ela exagera em tudo.
Holly: Não é verdade? Ou não me chamavam de HOLLY WOOD! - solta uma gargalhada bem alto, ao ponto de se engasgar.
Rio com ela. Eu sabia que ela era doida, mas não assim tanto.
Holly: Como eu sou amiga, vou-te ajudar a arranjar um rapazito à escolha - abre agora outra caixa, retirando de lá uns cd's e dvd's, arrumando-os numas prateleiras que estão acima da minha cama - Vou te contar: Tens o Scott, o Andrew, o Kian, o Dominic... oh, mas o Dominic é para mim. Queres ver umas fotos? - tira o telemóvel do bolso.
Nem respondo e ela dirige-se imediatamente até mim, mostrando-me fotos de vários rapazes, rolando o dedo sobre o ecrã para passar à próxima.
Holly: Este é o Scott e eu no último dia de aulas, ele é bem simpático e jeitosinho - passa à próxima - Aqui tens o Kian, esta foi na festa de anos duma amiga nossa. Olha lá bem para os olhinhos deles. - aproxima a imagem - São encantadores, não são? - mostra outra - Este é o Andrew - aponta para um rapazito de cabelos loiros e olhos azuis, foi o que me chamou mais à atenção agora - e o da esquerda é o Dominic, o meu futuro namorado - mostra um sorriso e solta um guincho - Estás interessada em algum?
Eu: O ruivinho é engraçado - confesso.
Holly: Ótimo, ele ontem até twitou que vinha!
Eu: Err... deixa estar, eu não-
Holly: Não deixa nada, Naomi, tu precisas é de um namorado como deve ser. Aqui arranjas bem melhor do que naquelas barracas onde vivias - ofende-me.
Eu: Desculpa?! Naquelas barracas vive gente bem mais genuína do que tu - exalto-me, sem intenção.
Holly: É pois. Vai bugiar - ofende-me novamente.
Mostro-lhe agora o dedo do meio e começo a ignorá-la. Bem me dizem que os irmãos têm discussões por tudo e por nada, mas serão sempre irmãos, e é o que eu sinto agora, apesar de sermos apenas primas, mas vivemos agora juntas, por isso a verei como uma irmã.
Holly: Oh, e esqueci-me de um - ela começa a falar outra vez - conheci um tal de Zayn, acho que era assim o nome dele, mesmo no final do ano. Acho eu vocês fariam um casalinho muito fofo, mas não tenho tanta certeza se tu ias gostar dele. É que ele é um pouco agressivo a falar - justifica - Nem tenho nenhuma foto com ele, se não até te mostrava.
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Isto é apenas uma breve introdução. Não especifica nada do que possa vir a acontecer, mas espero que suscite algum interesse. Apenas o postei porque estava bastante ansiosa para o escrever e gostava de receber algum feedback. Se nenhum interesse for mostrado, irei simplesmente deletá-la.
Já agora, deixo aqui uma fic que acho que vocês possam vir a gostar: Internet Friends, da @90sdrunkniall. É sobre uma moça chamada Charlie que conhece o Niall através do twitter e, como o nome diz, tornam-se amigos (virtuais). A mim despertou-me um certo interesse, por isso penso que vocês também possam vir a gostar. :)
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TATTOOS | z.m.
FanfictionNaomi, uma mera jovem com os seus 16 anos. Uma grande admiradora de arte ou uma fanática, como queiramos chamar. Sofre de um distúrbio que pode ser visto a partir de dois pontos de vista: um distúrbio benigno ou maligno. O seu nome é Síndrome de Ri...