Catra não entendia nada da sua nova rotina. Mika era meio que oficialmente responsável por ela, a levava de um lugar para outro explicando as tarefas tipicamente feitas em conjunto por ali. Além disso, ela também fazia questão de traduzir várias das histórias de Tila em suas tagarelices para cima de Catra. Catra confiava nela como ninguém, mas era fato que a mulher se cansava do trabalho extra, sempre querendo ir dormir mais cedo ou escapar das tarefas para ficar com ela.
As pessoas da Vila se levantavam mais ou menos no mesmo horário, faziam o que quer que tinham que fazer e ela tentava os seguir. Mika não parava de rir dela e a ensinava aonde chegar na floresta, como arrumar o fogo à noite, como ajudar a preparar os equipamentos de caça. Quando ela conseguia fazer algo certo, todos comemoravam. Melog também ficou para ajudar em tudo, ele achava boas plantas das quais eles queriam tirar algum ingrediente, caçava e ficava perto do fogo com eles. Mesmo que estivesse fora, rondando a região, na maior parte daqueles dias, indo sabe-se lá onde. Tendo seu desejo suprido de ficar no meio da floresta, ele não tinha mais reclamações, ou palavras. Catra cumpria suas tarefas cada vez melhor e em silêncio.
À medida em que o tempo foi passando e seu cabelo começando a tocar seus ombros pela primeira vez em anos, ela notava mais dos costumes daquele povo. Aprendera algumas palavras, como duas complementares que significavam "perto do lago" e "perto da montanha". A montanha era um pico alto coberto de neve que dava para ver dali. Com as tarefas diárias Catra percebeu que o povo planejava ir para lá, pois não paravam de tecer roupas mais quentes das que o clima justificava. Mika contou que o tempo de seca se aproximava e já há algumas gerações o povoado costumava a ir para lá obter água. A mudança era algo sobre o qual não paravam de falar.
Aliás, eles nunca paravam. Ou estavam tecendo e fazendo equipamentos, ou caçando ou coletando, ou colhendo ou cozinhando, ou... se banhando, ou falando e falando ou cantando e se abraçando. Principalmente à noite, quando faziam isso até que um por um iam para os dormitórios. Catra sentia que os tempos mortos de sua vida estavam preenchidos de nadas, e eram maravilhosos nadas, ou únicos nadas que importavam.
"Como você é forte, Catra", as meninas diziam, tocando-a envolta da fogueira. Ela estava sentada entre as pernas de Mika, e mesmo assim as outras avançavam. Estavam a enchendo particularmente naquele dia, pois Catra havia derrotado um bicho selvagem que ameaçara a vila, o que a deixara chocada. Não sabia que os animais ainda estavam raivosos depois de Adora ter consertado a natureza. Todos haviam morrido de medo e pareciam tão surpresos quanto ela. Ainda estava confusa sobre isso naquela noite. No entanto, ao invés de tentarem desvendar o ocorrido, as mulheres pareciam mais interessadas nela. Mika, no lugar de importar, aumentava a situação.
"Catra costumava a lidar com ameaças ferozes todos os dias, ela é uma felina alerta e rápida. Ela entende o desconhecido melhor que ninguém, vai nos ajudar a nos conectar com Etheria"
Catra riu "Não é como se eu tivesse poderes, Mika"
As mulheres ficaram aterrorizadas e maravilhadas, não importava o quanto ela argumentasse. A verdade é que aquelas mãos cobrindo as bocas e encostando em seus braços, como quem toca em um corpo fenomenal, a fazia se sentir incrivelmente querida, confortável e excitada.
Mesmo assim, ela queria descobrir o que ocorrera com o bicho. Ela sabia como perguntar: eles sempre perguntavam para Tila quando queriam saber de algo extraordinário.
"Tila, por que o bicho nos atacou? Eu achei que eles tivessem se acalmado depois de Adora restaurar a magia de Etheria"
"Às vezes surgem alguns desbalanços na magia do planeta aqui, outros ali, e ficamos irritados e os bichos ficam irritados. O maior desbalanço foi mesmo o da colonização pelos povos de fora do mundo, mas isso sempre teve. Sua Adora conseguiu canalizar um pouco dela, mas gastou energia demais de si mesma fazendo isso. O melhor é deixar a magia rolando solta para que se equilibre logo"
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O que resta de Catra
FanfictionO que resta a dizer sobre Catra? E Adora? Catra tem sido uma personagem muito importante na minha vida e estou sempre criando soluções para os seus problemas na minha cabeça. Eis o que tenho pensado ultimamente.