2 meses depois
Era uma noite comum no lar dos King-Holland. A rotina de dormir de Abigail havia sido enfeitada com gritos, choro e protestos contra o banho, o pijama, a escova de dentes e todo o resto. O pequeno e não tão surpreendente assim escândalo de nossa filha durou até que ela finalmente se deu por vencida e deitou a cabeça no ombro do pai, permitindo que ele a ninasse para dormir.
Eu amava cuidar de minha filha porque, por mais que exigisse muita energia, me forçava a esquecer de todos os outros problemas e focar no que realmente importa, mas meu dia de trabalho havia sido particularmente estressante. Era por isso que, depois de acalmar a pequena fera, eu estava refugiada em minha banheira e envolta pela espuma do meu sal de banho favorito. Alguns minutos mergulhada em lavanda e voilá, minha noite de sono não perderia em nada para a da pequena no quarto ao lado, que eu esperava já estar adormecida.
Ouço a porta do banheiro ranger levemente e saio do meu transe, fazendo uma careta ainda de olhos fechados. Dois anos depois e ainda não aprendi a fechar a porta para evitar que Abbie invada o banheiro enquanto estou nele.
一 Mija cadê o papai, ele não tava cantando pra você dormir? A mamãe tá toman...
Paro ao virar o rosto e perceber que não é ela quem está me interrompendo.
一 O papai está aqui. - Tom responde. Ele anuncia a própria presença sorrindo, com uma taça de vinho em uma mão e uma cerveja na outra.
一 Ela dormiu mesmo?
一 Como o verdadeiro anjinho que ela é. - ele assegura.
一 E pra quê as bebidas? - questiono apesar de já saber a resposta.
一 A gente também merece uns mimos de vez em quando não?
Ele repousa as bebidas ali perto e começa a tirar roupa.
一 Ah não. - protesto. - Não, não, não, não, não, nem pensar!
一 Não dá pra tomar banho de roupa Rebecca.
一 Tom esse era o meu banho! - reclamo inutilmente ao mesmo tempo em que ele entra na banheira e se acomoda à minha frente.
一 Ah então é daqui que o seu cheiro vem! Por favor nunca pare de usar isso. - ele nota, cheirando o próprio braço e depois fazendo uma careta. - Mas tenho que admitir que agora estou um pouco confuso porque eu gosto desse cheiro em você, mas não sei se gosto em mim.
一 É por isso que esse era o meu banho com os meus sais. - resmungo pela última vez.
一 Você tá estressada demais, credo. Vem cá.
Ele pega meu pé e então começa a massageá-lo. Não é exatamente a massagem para retirar a tensão nas costas e ombros da qual preciso, mas não consigo resistir e deixo que ele prossiga. O relaxamento é imediato e aproveito o momento para esvaziar minha taça, enquanto ele alterna suas mãos entre meus pés e a cerveja a seu lado. Minutos depois, e já com o humor mais leve, decido surpreendê-lo com uma onda de água e espuma direto no rosto.
Ele me olha chocado, então seu rosto muda para uma expressão marota dois segundos depois.
一 Amor não, meu cabelo...!
Obviamente é tarde demais e um splash atinge meu rosto e parte de meu cabelo preso, o que gera uma pequena "guerra de água".
一 Tá bom Tom, para! - peço, ainda rindo e tentando me proteger. - Olha essa bagunça! Chega!
Fico de joelhos e estendo meus braços em sua direção para tentar pará-lo, mas acabo escorregando e sendo amparada por ele.
一 A culpa é toda sua. - ele sussurra.
E ali estava. Eu sabia exatamente que aquela era a razão pela qual ele havia começado tudo aquilo. Também sabia que o vinho e a massagem não haviam sido aleatórios, porque naquele quesito meu marido não dava ponto sem nó.
E o pior é que tinha funcionado.
Suas mãos, que seguravam meus braços para me impedir de cair de cara na água, descem agilmente até minha cintura e me puxam com firmeza contra seu corpo. Seus lábios rapidamente encontram os meus, num beijo apaixonado.
Sou recebida de volta à consciência pela escuridão do meu quarto. Meu coração está acelerado, apenas uma das reações de meu corpo àquele sonho. Procuro o relógio em minha mesa de cabeceira e constato que são três da manhã. Foi quase uma hora de sono, e eu só tinha mais três horas até precisar estar de pé novamente.
Ótimo.
Suspiro, olhando para cima. Tristeza, medo e principalmente saudade me invadem ao mesmo tempo. Meu coração dói ao lembrar do sonho, desejando com todas as suas forças que tivesse sido verdade. Só que aquilo não poderia ser real, nem agora nem num futuro imediato pois Tom ainda estava desacordado por causa do acidente. E cada dia que passa diminui suas chances de acordar sem alguma sequela.
Ouço as patas de Tessa fazendo seu típico barulhinho pelo piso de madeira da casa e não consigo evitar que meus olhos sejam atraídos para o lugar onde ele deveria estar ao meu lado, mas que permanece vazio. Engulo o nó que se forma em minha garganta.
Os sentimentos são abafados pelo susto que levo quando Tess começa a latir em alto e bom som. Me levanto imediatamente e corro até ela para tentar calá-la, vendo suas duas tigelas vazias e viradas.
一 Tessa, sshhh! - sussurro. - Eu vou colocar sua comida e sua água mas fica quieta!
Apenas dou um passo em direção ao meu objetivo quando meu receio se torna real e o choro de Abbie ecoa pelo corredor. Levo uma mão ao rosto e o esfrego, enraivecida.
一 Tá vendo o que você fez? - ralho com a cachorra como se ela fosse entender algo e parto em socorro de minha filha.
一 Ssshh, tá tudo bem meu amor! Foi só a Tess viu? Sssshhh. - falo, pegando-a em meus braços.
Enquanto ela chora com a cabeça repousada em meu colo percebo Tessa parada na porta do quarto nos observando com atenção, afinal de contas o choro de Abbie também é um alerta vermelho para ela.
一 Papai.
Meu coração diminui até chegar ao tamanho de um grão de areia. Aquela não foi só uma palavra dita aleatoriamente por causa do sono; ela estava chamando por Tom, perguntando por ele.
一 Papai.
Continuo balançando minha filha em meus braços, impedida de falar pelo nó que ressurge em minha garganta. Ela coloca o dedinho na boca e fecha os olhos, ainda choramingando.
一 Você está com saudades dele não é? - sussurro. - Eu também, meu amor. Eu também.
Continuo a andar pelo quarto ninando minha filha, me sentindo sobrecarregada, sozinha, estúpida e com medo. Sobrecarregada por todas as responsabilidades que recaem sobre mim. Sozinha no dever de criar minha filha e cuidar de nossa família. Estúpida por não me achar no direito de sentir aquilo, afinal de contas tenho as melhores pessoas do mundo ao meu lado me ajudando todo dia em literalmente todos os aspectos da minha vida, desde cuidar da minha filha e da minha empresa até arrumar a casa. E com medo. Medo do que o futuro reserva para Tom e para nossa família.
Mas esta é a vida e às vezes o medo fala mais alto; é por isso que finalmente deixo minhas próprias lágrimas caírem, unindo meu choro ao de minha filha.
Permaneço com Abbie em meus braços mesmo depois que ela adormece, testemunhando seu sono e deixando que sua presença e seu cheirinho me acalmem até que minhas lágrimas parem de cair. No final, apesar de exigir cada gota da minha energia, a razão para manter uma atitude positiva estava bem ali em meus braços. É por ela que mantenho nossa vida funcionando da melhor maneira que consigo, apesar de tudo, e essa é uma constante na qual posso confiar pelo resto dos meus dias.
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All By The Way
Fanfiction{REVISADA} Rebecca Ruiz King é CEO de uma empresa em Londres e casada com o ator mundialmente conhecido, Thomas Holland. A vida da pequena família vai muito bem, obrigada, até que um grave acidente vira tudo de cabeça para baixo e ameaça o futuro do...