04. Sozinhos

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Alicia tamborilava os dedos no balcão de madeira da Alma Adocicada, observando os clientes se deliciando com os quitutes e algumas muitas xícaras de chá. A aura do local estava leve, diferente de todos os seus nervos que se retesavam sempre que checava o relógio cuco no alto da parede.

Seus olhos acompanhavam o pequeno pêndulo balançando de um lado a outro, ritmando as batidas de seu coração, que chegavam a ecoar nos tímpanos. Cici sentia que a qualquer momento todo seu nervosismo a faria entrar em pane.

Aquele era um dia importante, e Margot havia saído às pressas para resolver uma emergência com um carregamento de um dos fornecedores de chá da região, acreditando ser algo rápido. No entanto, não estava sendo tão sucinto como Alicia desejava.

E, a qualquer segundo, o novo possível fornecedor de sua tia passaria pela porta para realizar o teste presencial do cardápio.

As palavras de Margot ecoaram na mente de Alicia, fazendo um nó se formar em sua garganta: "Vai ser como receber um crítico do ramo, estou um pouco nervosa com isso". O que Cici poderia fazer sem ninguém para orientá-la ali?

De repente, o sininho acima da porta de entrada soou, e com a velocidade de um raio movido por esperança, Alicia ergueu o olhar. Ela esperava Margot, mas quem havia entrado também poderia ser, em parte, sua salvação.

— Bash! — ela chamou, em um sussurro meio gritado. O sorriso de Sebastian se alargou momentaneamente quando a viu, mas desapareceu ao perceber o semblante preocupado.

— O que houve, Cici? — ele indagou ao se aproximar, o cenho franzido — Eu vim buscar um lanche para o Sr.Alfredo, mas se você precisar de ajuda, estou a disposição.

Alicia não conteve o suspiro de alívio.

— Muito obrigada! O que aconteceu foi que tia Maggie saiu para resolver um problema e simplesmente não voltou ainda.

— Você está preocupada que algo tenha ocorrido a ela? — o vinco entre as sobrancelhas de Bash aumentou, achando anormal o fato de se preocupar somente por Margot ter saído sozinha. Ela era uma pessoa que não parecia pedir por esse tipo de atitude.

— Não, tia Maggie sabe se cuidar, mas eu não! Não em uma ocasião como essa... — Cici sussurrou a última parte, fechando os olhos com força enquanto considerava suas opções. Lembrando-se da bicicleta de Bash, um plano se formou em sua mente. — Será que você poderia mandar um recado a tia Maggie e...

Cortando as palavras de Alicia feito uma navalha, o sininho soou novamente, mas até o ar que aquela ação carregava foi diferente de quando Sebastian entrou. Dessa vez um senhor de cartola, combinando com o traje vinho que vestia, e bengala adentrou a Alma Adocicada, fazendo o mundo parar aos olhos de Cici.

— Bash, é ele! Só pode ser o produtor de chá! — ela sussurrou em desespero, agarrando-se ao braço do amigo, os dedos apertando de leve — Não sei se consigo, não sei se consigo...

— Ele quem, Cici? E não consegue o quê? — Sebastian segurou a mão dela que estava em seu braço, tentando tranquilizá-la. Depois de explicada a situação em palavras curtas e suspiros longos, ele uniu as sobrancelhas em uma expressão determinada. — Você consegue sim, estarei aqui para ajudar.

— Como assim? — enquanto conversavam, Alicia fazia questão de observar o produtor. Ele havia se sentado em uma das mesas perto da janela, longe o bastante para que não percebesse a comoção dos dois.

— Eu vou atender os outros clientes enquanto você causa uma boa impressão nele. Te observei fazendo algumas vezes, e acho que consigo te dar cobertura.

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