Acidente

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Ethan Giancci

    Alguns dias pareciam passar mais rápidos que os outros e, coincidentemente eram sempre os dias bons. Como foi hoje no restaurante com Nathan. Eu adorava passar um tempo com ele, mas por tudo que aconteceu em nossas vidas não conseguia, pois tinha que trabalhar para nos sustentar. Portanto, por hoje ser seu aniversário de 10 anos achei que ele merecia algo especial depois de seguidos aniversários sem ganhar sequer um presente.
Trabalhei duro nos últimos meses e qualquer grana que sobrava, guardava pra gastar com ele. Tudo que eu mais queria era ver Nathan feliz e se sentindo importante nem que fosse por um dia, mesmo sabendo que ele tinha que se sentir assim sempre.

    Desde que as maiores desgraças de nossas vidas ocorreram tento ser bom para Nathan, mas sei que falho todos os dias e peço perdão a Sofi por isso.

    Nathan tinha 10 anos, mas não levava a vida que toda criança deveria ter, passava a maior parte do tempo em casa com minha avó assistindo TV e só saia para ir a escola. Vovó até tentava ser um pouco ativa com ele, mas aos 70 anos e com alguns problemas de saúde, já não tinha tanta disposição.

    Minha vida era trabalho e contas para colocar em dia a pelo menos 4 anos. Esse era o tempo exato que meus pais haviam morrido em um incêndio em nossa própia casa.

    Eu lembrava perfeitamente desse dia, mesmo que um dos meus maiores desejos fosse esquecê-lo.

    Era uma segunda feira normal, acordei cedo e me aprontei para a faculdade. Tive uma animada conversa no café da manhã com meus pais, Sofia e Nathan que estava agitado para o seu primeiro dia de aula na escolinha.

— Não demorem para o jantar, farei o prato preferido de vocês e o seu bolo favorito, mocinho. — minha mãe diz a Nathan que fica saltitante com a notícia.

Isso significava que teríamos macarronada para jantar e um belo bolo de chocolate para a sobremesa.

— Ethan, vá de carro, leve Sofia e Nathan. Assim economizam tempo. — meu pai me entrega as chaves de seu carro amado, me deixando surpreso pelo empréstimo já que ele era super apegado ao veículo.

— Irei aceitar antes que desista. — pego meus pertences e me encaminho para a saída de casa, sendo acompanhada por Sofi e Nathan.

Nos despedimos deles e fomos cada um para o seu destino sem saber que aquela seria a última manhã em família que teriamos.

   Depois de um longo dia trabalhando e estudando o que eu mais queria era o conforto da minha casa, mas antes que eu pudesse chegar lá meu celular tocou e uma Sofia desesperada do outro lado da ligação, me perguntou aonde eu estava e ao dizer minha localização, mandou eu me apressar. Mesmo sem saber direito o que estava acontecendo atendi seu pedido e o caminho que eu fazia em 15 minutos, fiz na metade do tempo, com certeza levando multas pelo trajeto, mas não me importei no momento. Pela voz de Sofi algo sério estava acontecendo e chegar até ela era o que importava.

    Porém antes que eu chegasse a rua da minha casa fui impedido por caminhões de bombeiro e de ambulâncias que barravam o caminho.

    Não sabia o que tinha acontecido, mas um mal pressentimento fez meu coração bater forte e um medo inexplicável crescer dentro de mim.

    Desci do carro apressado e imediatamente Sofia correu em minha direção. Ela estava com o rosto molhado de lágrimas e suas mãos tremiam.

— Sofi, o que aconteceu?

— Nossa casa, Ethan, tá pegando fogo!

Finalmente olho em direção a nossa residência atrás de tantos veículos e vejo uma nuvem de fumaça forte em cima dela. Estava tão afoito que sequer percebi o cheiro forte de queimado que já devia estar espalhado por todo bairro.

Levo as mãos até a cabeça triste em ver algo que meus pais suaram tanto para conquistar, ser destruído tão rapidamente, mas não poderia me importaria com bens materiais agora.

— Onde está Nathan? — pergunto notando a ausência do pequeno.

— O deixei com Pietro. — me sinto aliviado por alguns segundos.

— E nosso pais? — indago e ela engole seco, deixando mais lágrimas caírem. — Nossos pais, Sofia! Onde eles estão?! — questiono novamente, aflito e com medo de sua resposta.

— Não sei, não encontraram eles ainda, então eles podem estar lá dentro. — sua voz sai baixa.

Corro pra perto da residência e sinto um frio percorrer todo meu corpo quando vejo a chama forte que consumia tudo. Se meus pais estavam em casa, tinham que entrar lá imediatamente.

Ninguém vai fazer nada pra apagar esse fogo?! — grito desesperado para os bombeiros. — Meus pais podem estar aí! Entrem e salvem eles!

   Um dos bombeiros me olhou com pesar, talvez já sabendo que nada poderia ser feito, e pediu pra que eu tivesse calma que eles estavam trabalhando para controlar as chamas. Mas como eu ia ter calma em um momento desse? Só quando eu visse meus pais bem.

Mas infelizmente isso não ocorreu.

As chamas eram forte e demorou muito para que os bombeiros conseguissem controlar e entrar lá dentro para resgatar meus pais, mas já era tarde demais. Eles morreram queimados e nem um velório digno, pudemos dar a eles.

    Desde esse dia minha vida virou de cabeça pra baixo. A casa ficou inteiramente destruída e não conseguimos voltar a morar lá, não que quiséssemos, pois a memória do que aconteceu nos assombraria. Tivemos que começar do zero e nos mudamos para casa da minha vó, era menor do que a que vivíamos, mas já era alguma coisa.

Apesar da dor, aos poucos tentávamos retomar a vida, mas as contas não paravam de chegar. A casa ainda não estava totalmente paga e o valor da pensão dos meus pais era somente para quitar essa dívida. Minha vó era aposentada e tomava bastante remédios. Sofia trabalhava como atendente, mas não ganhava tão bem e muito em breve se mudou para casa de Pietro, subtraindo uma das rendas. Já eu, trabalhava e pagava minha faculdade, mas quando tudo começou a apertar decidi trancar o curso e me dediquei somente ao trabalho. Vivemos bem assim por alguns meses até minha vida virar de cabeça pra baixo pela segunda vez.


Esse e todos capítulos a seguir estão sujeitos a alterações em futuras revisões.

10/10/21

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