Capítulo 2-Fora do comum

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Por aqui temos uma rotina para seguir. Não um rotina que escolhemos seguir, uma rotina que vem impressa em uma maldita folha de papel, decidida pelo governo.

Acordo, tomo café, escovo os dentes, tomo banho, me visto, calço meus tênis, dou um beijo nos meus pais e pego o ônibus escolar.

Lá dentro é estranho. As pessoas ficam todas quietas e olhando para frente. De vez em quando se dirigem as outras. Só tenho conversas mais íntimas com Melany. Nem os meus pais eu me comunico assim.

Sento do lado de uma menina ruiva. O banco é gelado e duro. Isso parece uma tortura.

Fico inquieto a viagem toda até a escola. As pessoas me olham de forma estranha, como se eu fosse um mafioso.

Passamos em várias casas antes de chegar na escola, e uma dessas é a de Mel. É uma casa grande e bonita como todas as outras de Sant Ville. São todas exatamente iguais. Um jardim enorme cobre a área da frente e a casa é pintada de Branco e as janelas de um azul claro assim como a porta. Tudo é muito harmônico. Mas é tudo repetido. Todas iguais. Nenhuma diferença pra variar.

Mel entra no ônibus sem expressão. Toda vez que vejo ela meu coração bate mais forte. Ela revida o olhar e percebo que seu coração também acelerou. Será que ela gosta de mim? Fico sempre preso nesse grande "TALVEZ". E isso me irrita.

Ela se senta junto com um menino chamado James. E percebo que eles trocam olhares preocupados ao mesmo tempo. Eles se conhecem? Porque ele olhou para ela quando se deve manter a postura "Devida"? Sei que Mel é diferente. Mas nunca desconfiei do James. Qual será a ligação deles?

Chegamos na escola, e vejo que a primeira aula é de História. É minha aula favorita. Me faz viajar no tempo sem nem sair da sala de aula. Minha professora se chama Olívia, é magra e alta e muito desconfiada de tudo. Estranho.

Fora isso o resto da manhã na escola foi um tédio, como sempre.

Pego o ônibus escolar novamente, só que dessa vez me sento ao lado de Mel. Ela está muito atordoada. Mas não podemos conversar aqui, no meio de toda essa gente mecanizada. Então finjo que não percebi a sua expressão por enquanto.

Passamos por várias casas iguais. Até que de repente presencio algo inédito. Um assalto. Você deve estar achando que eu sou um mentiroso com toda aquela história de mundo perfeito. Mas estou mais surpreendido que você. Disso tenho certeza.

Tenho pouco tempo para observar a cena, mas consigo ver tudo nitidamente.

Um homem que está em uma moto desce com um objeto estranho nas mãos apontando para uma moça. Ele pede sua carteira e ela entrega. Quando ele sobe na moto e vai embora, ouço ela sibilar pra mim "Quase perfeito" e se vai.

Não entendi a frase. Percebo que ninguém além de mim e Mel viu o que aconteceu. Estava acontecendo do nosso lado e ninguém ao menos notou.

Mel sussura no meu ouvido

-Precisamos conversar urgente! Venha para minha casa de tarde. Ela diz inquieta. -Ok. Respondo sem muita convicção.

Estou cada vez mais confuso.

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