Mas o que eram aquelas cartas gigantes afinal?
Eu pensava enquando andava pelos corredores escuros e umidos do sanatório. Tudo que me lembro é de ter acordado suando e sentindo meus pés molhados, na cama de meu quarto.
Lembro do que realmente tinha acontecido naquele quarto noite passada e me sinto mal. A prepotência sempre estava no meu ser, mas naquele momento mais forte do que nunca ela se manifestava. Nunca contaria sobre aquilo a ninguém. Ninguém deve saber, muito menos Olly. Não sei do que ele seria capaz se soubesse e nós , todos os internos, pagariamos depois. Josh não deixaria barato.
— Atenção, ponham-se a caminho do Teatro. – ouvi a frase vinda dos autofalantes e suspirei andando.
O Teatro. Era assim chamado o salão onde a terapeuta do sanatório fazia varias de suas sessões conosco. Era como uma especie de terapia. A médica preferia isso a procedimentos como a lobotomia, infelizmente Clarisse não era assim.
Ao chegar lá mirei os imensos seguranças nas portas e próximos a um palco improvisado.
— Hoje vamos fazer algo diferente, cada um de vocês subirá no palco respondera perguntas "aleatorias". – A terapeuta me disse dirigindo seus olhos enormes para mim – Você podia ser a primeira Alice. Estou aqui para te ouvir e te dar as respostas que você precisa, mas eu, antes de qualquer coisa preciso saber, você sabe do que precisa?
A olhei confusa, o que não era lá tão estranho e fui subindo ao palco. Em instantes parecia que não havia mais ninguém. Só eu, ela e um pequeno palco.
A nossa terapeuta era magra, tinha um rosto gentil e suave, parecia que tudo nela era frágil, como uma xícara de porcelana. Usava óculos e tinha o cabelo longo loiro e preso em um rabo de cavalo.
Dirigiu mais uma vez os olhos azuis para mim e eu olhei meus proprios pés descalços com o cabelo caindo e cobrindo meu rosto.
— Então Alice, como foi a sua noite?– Ela falou alto e em tom de simpatia.
— Boa. – Respondi simplesmente ainda olhando os pés calejados, talvez de tanto ficar de pé fazendo os exercicios (ou tortura, chame do que quiser) que o sanatorio proporcionava nos dias de quarta, ou talvez fosse de andar muito tempo por um certo mundo paralelo.
— E tem tido sonhos?
— Alguns.
— Com o que exatamente?
— Sonhos....confusos. Não lembro exatamente com o que.
Menti . Eu sabia exatamente com o que eu sonhava, se é que sonhava, por mais confuso que fosse ou que minha mente esteja parecendo agora. E eu com certeza lembrava de cada detalhe.
— Ahn...
A porta se abriu e eu pude ver o homem com o paletó cinza e uma mulher com um vestido longo e elegante vermelho e preto.
Clarisse Backward, a diretora do sanatório. A mulher mais cruel que já tive o desprazer de conhecer. A manda chuva.
Ela olhou para mim sobre o palco. Minhas pernas ficaram bambas e meu sangue gelou. Por sorte sua mira foi transferida de mim para Ágata, a terapeuta.
— Ok queridos. Continuamos depois, que tal um intervalo extra? Vão para o pátio. – Ágata sorriu gentil e eu sai do palco receosa.
O que Clarisse havia vindo fazer aqui? Ela sempre comandava as atividades do casarão a distância com a ajuda de Cheshire.
— Isso não me cheira bem – Olly disse vindo ate mim enquando iamos ate a saída.
— Faço de suas palavras as minhas. Isso não parece boa coisa.
— Viu a cara dela? Me dá medo!
— Não só a cara. As ações dela são o que me assusta.
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O sorriso do Cheshire
FantasyTodo mundo tem um anjo. Um guardião que nos protege. Não podemos saber que forma vão tomar. Um dia, um velho. No outro, uma garotinha. Mas não deixe as aparências enganá-lo. Eles podem ser tão cruéis como qualquer dragão. Podem não estar aqui pra lu...