Aparições inesperadas são mais que bem vindas.

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P.O.V: Zendaya
O clima de Atlanta me atingiu como pequenas facas pontiagudas e cortantes. Particularmente, não me recordava do frio intenso da cidade. Quando gravei Homecoming pela primeira vez aqui, estávamos no verão. O calor era quase palpável. Mas o frio? O frio me matava com mais crueldade.

Como uma cidadã da Califórnia, poderia classificar essa sensação térmica quase insuportável; realmente estados com climas abaixo de dezenove graus não eram para mim.

Darnell ainda estava terminando de carregar o carro com nossas malas, quando avistei o motorista do veículo abrindo a porta e me saudando.

Era Mark, meu agente.

- Você veio!!! – Exclamei.

- Não poderia perder isso por nada, não é? – Ele abriu os braços e eu corri para um abraço apertado.

Mark estava comigo desde No Ritmo. Todos os meus trabalhos foram bem sucedidos graças a ele. Assim que a oportunidade de aparecer em Homem-Aranha surgiu, foi o primeiro a se empenhar para conseguir o papel.

Podia ser considerado meu anjo da guarda, sempre conseguia fazer tudo o que eu precisava. Cresci com sua presença, fisicamente e profissionalmente também.

Ter este rosto conhecido ao meu lado já aliviava o peso que esses dias me trariam.

- Senti sua falta, Daya. – Amava quando me chamava assim. Enquanto pequena, ensinei esse apelido e ele nunca mais me chamou pelo nome inteiro.

- Também senti a sua, Mark. – Falei, me soltando do abraço. – Por onde esteve?
Deu de ombros.

- Ocupado, como sempre.

- E sua mãe?

- Está bem.

A mãe de Mark adquiriu Alzheimer durante esses anos que trabalhamos juntos. No começo da doença, Mark conseguia sair de casa e trabalhar normalmente; mas depois que a situação foi se agravando, ele não pôde mais ficar longe da mãe.

Resolvia as coisas apenas por telefone e vídeo chamadas; quando precisava assinar algo, pedia para que enviasse pelos correios e assim foi nossa parceria durante esse tempo.

É claro que ia visitar ele e sua mãe sempre que podia; era realmente impressionante como se dedicava ao trabalho e à ela ao mesmo tempo.

Porém, a rotina não se sustentou mais. As condições dela foram ficando cada vez mais limitadas e precisou ser internada em uma casa de repouso.

Mark ia para lá todos os dias e a levava para dar voltas nos jardins do grande prédio, mas não era a mesma coisa que morar com ela.

Ele sentia sua falta.

Dava para ver.

- Quanto tempo vai ficar? – Perguntei enquanto Darnell colocava a última mala no porta-malas do veículo.

- Vou acompanhar todo o seu progresso online, pessoalmente poderei ficar até três dias. Meu irmão foi para Virgínia ficar com mamãe enquanto eu me ausentava.

Assenti.

- Entendo. Bom, estou feliz em te ver pessoalmente. E obrigada mais uma vez pelas flores, eu amei o cartão também.

- Tudo pela minha vencedora do Emmy. Você merece o mundo, Daya.

- Obrigada, Mark. Mas não estaria aqui se não fosse você também. Sou eternamente grata.

Ele bagunçou um pouco meus cabelos e entramos no carro. Talvez ficar em Atlanta não seria tão ruim quanto eu pensei.

Chegando no bairro em que ficaríamos, olhei com curiosidade para as casas que eram reservadas ao elenco.

Realmente, eu teria que admitir: Conforto não faltaria a nós durante a estadia, a produtora pensou em tudo.

Quase não reparei no Audi reluzente e preto estacionado em frente à uma das casas.

Quase.

Eu sabia a quem pertencia o carro.

Eu sabia a quem pertencia a casa.

Eu sabia que ele era meu vizinho... Bem, temporário, mas ainda assim...

Desviei o rosto para não permitir que meus olhos começassem a procurar sua figura pelas janelas.

Eu sabia o quanto minha mente ansiava para ver seu rosto mais uma vez.

- O que está olhando? – Darnell perguntou, observando-me pelo espelho retrovisor.

- Nada. – Soltei um sorriso amarelo. – Estou apenas vendo a vizinhança.

Darnell franziu o cenho, mas decidiu não continuar o interrogatório. Ele sabia bem a direção que olhei.

Não pude controlar. Dentro de mim, uma pequena voz ansiava por ver ele, sabia que cedo ou tarde eu teria que encará-lo e isso estava praticamente me matando.

Parecia como um ato de tirar um curativo do local machucado. Queria puxar de uma vez, para que a dor passasse logo.

Mas não seria assim.

O machucado não estava cicatrizado o suficiente para ter seu curativo removido. Se removesse o que me incomodava ali, iria sangrar mais.
Como disse antes: Não sei onde estava com a cabeça em pensar que isso poderia dar certo.

AtlantaOnde histórias criam vida. Descubra agora