Prólogo

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 A última noite do Vivência Circus causou uma comoção na cidade. Os visitantes se espremiam ao brigar em filas quilométricas na bilheteria. Um trânsito caótico de pessoas amontoava-se sobre uma vozearia orquestrada por uma tradicional marcha circense.

Michaela junto a suas amigas Bruna e Maré, se esgueiravam tentando escapar pelas menores brechas. O barulho parecia ser maior do que a de um estádio e a cabeça de Michaela latejava com os salada sonora que se misturava ali.

– Eu ainda não acredito que concordei em vir. Muito obrigada por nos fazer passar por isso, Bruna. – Gritou Michaela a plenos pulmões.

– Se eu soubesse que seria assim eu não teria chamado vocês. – Respondeu a garota. Seu olhar despistava os de Michaela.

– Precisamos sair daqui. Meus tímpanos vão explodir! – Exclamou Maré fazendo uma careta e tapando os ouvidos.

Michaela apertava os olhos buscando um lugar vazio onde pudesse, ao menos, ouvir seus próprios pensamentos. Em poucos minutos ela achou a alguns metros dali um corredor mal iluminado entre lonas. A garota esgoelou-se, um grito que fez suas veias saltarem, mas que fora abafado pelos gritos eufóricos. Ela meteu as mãos nos bolsos e catou algumas moedas, atirando em suas amigas acertando-as na cabeça. Michaela gesticulou alertando que havia encontrado. Desajeitadas as adolescentes conseguiram atravessar o montão e seguir sua amiga.

– N–nunca... nunca mais me deixem aceitar qualquer convite da Bruna. – Esbravejou Michaela entre fortes arquejos.

– Gente me perdoa. Eu não imaginava que teria tantas pessoas assim. – Bruna alisava o cotovelo enquanto encarava os próprios pés. – Eu vim aqui nos últimos três fins de semana com a minha família. Não tinha tantas pessoas. Não achei que encheria assim.

– Por que você não... disse que hoje era o último dia? Teríamos... evitado todo esse transtorno. – Michaela esfregou seu antebraço na testa secando o suor.

As três amigas sentaram no chão se recostando atrás de uma imensa lona, que pelos urros e aplausos, estava no meio de um espetáculo. Michaela desenfreou-se a reclamar e Bruna sentindo-se culpada, apena se desculpava, porém, Maré encarava o restante do lugar. Apesar de ter visitado o circo em outras oportunidades, aquele cantinho não era familiar. O trio estava mais afastado da multidão, no local menos iluminado e visitado. Maré se levantou e começou a caminhar entre o corredor de barracas vazias. Começou a bisbilhotar o pátio tentando reconhecer onde estava. Seus olhos passearam pelo lugar até achar uma barraca vermelha e desbotada com tiras de tecido rebuçando seu interior.

– Pessoal! – Gritou as chamando. – Vocês já vieram outras vezes aqui, não vieram? – Perguntou Maré agora como se tivessem injetado ânimo em suas veias.

– Sim. – Respondeu Bruna.

– Como você saiu daqui sem eu ver? – Indagou Michaela

– Alguma de vocês já tinham visto aquela barraca? – Maré apontou.

Michaela se aproximou, fez um beicinho e acenou com a cabeça. – Não, nunca vi. Madame Cassandra. – Disse em voz alta ao ler o letreiro. – Pelo nome deve ser algum tipo de vidente.

– Vidente? – Perguntou Bruna ingenuamente. – Será que ela pode revelar nosso futuro?

Michaela revirou os olhos e retrucou:

– É óbvio que não, Bruna. Videntes não existem. Isso é puro charlatanismo.

– Você já se consultou alguma vez? – Questionou Bruna.

– É claro que não. – Vociferou.

– Então como você sabe que videntes não existem?

– Porque se eles existissem, estariam ricos apostando em cavalos ou adivinhando números.

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