02 - The game continues.

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     As sete meninas encontravam-se em choque. Sabiam que teriam que dar seu melhor para fugir, eram espertas o suficiente para saber que seriam difícil sair dali por mais fácil que pudesse ter sido entrar. A cabeça de Lisa girava em torno da culpa, ela havia persuadido as amigas a participarem daquilo, se Myungji estivesse viva estaria da mesma forma, ou pelo menos, era nisso que ela queria acreditar. 

     A tensão tomava conta de seus corpos, Mint e J.Min já estavam conformadas e transformaram toda tristeza que estavam sentindo em raiva, no entanto, não conseguiam esquecer a cena da amiga sendo morta em um só golpe. Aquela imagem rodava como um filme na sua cabeça, seria algo que se caso saísse viva dali, jamais esqueceria. 

     — Certo! Nós temos que procurar o Kim Namjoon...— Rosé sempre falava suas frases decididamente, mas parecia tensa. 

     — Acham que é o Kim Namjoon, tipo, Kim Namjoon? — Jisoo fez a pergunta que a estava atormentando desde que encontraram o pequeno baú. 

     Todas entreolharam-se sem ter uma resposta. Era bem verdade que moravam em uma cidade pequena, onde quase todos conheciam-se e notícias espalhavam-se rapidamente, mas isso não queria dizer que nomes repetidos não pudessem existir. Como explicar a história de Kim Namjoon? O garoto prodígio de Gwang-du*? Apesar de ser um prodígio, havia muitas histórias com seu nome e uma delas era mais famosa. Kim Namjoon, apesar de ser extremamente inteligente e possuir um QI elevado, também era um tanto atrapalhado.

     O garoto ficou responsável pela parte de som e imagem de um festival anual escolar, tudo estava perfeitamente preparado e o festival, que vale ressaltar — era aberto à qualquer idade — sairia perfeitamente como planejado. Isto é, se o garoto não trocasse o pen-drive escolar com o seu. Ao invés de imagens e vídeos com o tema escolar, no telão do auditório da escola apareciam imagens pornográficas (algumas pessoais do próprio Kim Namjoon), os pais presentes ficaram horrorizados. A escola entendeu como um acidente, pois o garoto havia mostrado sua privacidade sem querer. Mas os pais presentes não. 

     Logo fizeram uma petição para que o garoto fosse expulso e a escola não teve para onde correr. Depois do polêmico ocorrido, Kim Namjoon sumiu misteriosamente, as pessoas na cidade deduziram que o garoto havia mudado de cidade por estar muito envergonhado e logo isso foi deixado para trás. 

     — Ele sumiu desde aquele ocorrido... — Rosé comentou ao lembrar. 

     — Todo mundo some após uma polêmica — Jennie riu seca. 

     Jisoo e Dohee pareceram pensar a mesma coisa e entreolharam-se assustadas. 

     — E se esse for exatamente o conceito, o propósito do jogo? — Jisoo perguntou e todas — exceto Dohee — olharam-na sem entender. Então ela continuou o raciocínio:

     "Kim Namjoon foi apenas o primeiro a sumir. Depois foi o irmão dele, Kim Taehyung, por ter andado na rua nu em protesto por terem expulso o irmão. Todas as pessoas que envolveram-se em polêmica em Gwang-du sumiram!"

     — Aonde você quer chegar com isso? — Lisa a interrompeu. 

     — Bom, — Jisoo suspirou — todas nós aqui temos uma história vergonhosa pra contar e somos má vistas pela cidade por conta delas, certo? 

      "Claro que escolheram o grupo oposto de uma cidade vizinha para que não houvesse reconhecimentos. Mas tenho certeza que elas conhecem o Namjoon e nós conhecemos alguma história da cidade delas. O que quero dizer é que estamos aqui porque vacilamos com a cidade inteira. Nunca parou para pensar que a população da cidade nunca muda? Ou como nossos "polêmicos" casos são acobertados e logo a pessoa some? É como se toda a cidade fosse controlada para manter a imagem de cidade perfeita."

     Todas olharam para Jisoo assustadas porque, por mais tempo que morassem em Gwang-du, nunca tinham parado para pensar sobre a cidade em sí. E tudo que Jisoo havia dito, fazia bastante sentido, especialmente para Rosé. A cabeça da garota girava em torno do seu irmão, Park Jimin. Os irmãos Park eram muito travessos, aprontavam de tudo juntos. Rosé era a comparsa fiel de seu irmão, mas houve um dia que ela deixou de ser. Achava loucura, brincadeiras tinham limites, pelo menos para ela. Para Park Jimin, nem mesmo o céu era o limite. 

     A ideia era simplesmente subir ao céu da cidade com um balão de ar quente e ao pegar altura suficiente, jogar-se lá do alto apenas de paraquedas sem roupa. Talvez para aquelas pessoas a única forma de chamar atenção era ficar nu. Mas indo direto ao ponto, após Park Jimin tentar e conseguir tal proeza, ele simplesmente sumiu no auge de seus quatorze anos. Os pais ficaram desesperados, houve buscas por toda cidade e não havia pistas. Rosé acompanhou e sofreu tudo junto dos pais. Após dois anos de busca, Park Jimin foi dado como morto mesmo que nada provasse isso. 

     — Então vamos morrer por uma conspiração? — Rosé perguntou. 

     — Exatamente! 

     — Isso é loucura! — Dohee gritou.

     O desespero começava a tomar conta da garota, ela estava fazendo-se de forte após ver a melhor ser morta, mas não aguentava mais. Seu limite estava ultrapassado ao ouvir tudo aquilo. Não conseguiria suportar, as lágrimas antes seguradas agora estavam espalhadas por seu rosto. Soltou um grito profundo de dor e luto, as outras assistiam a cena espantadas. Jisoo observava a cena atenta no caso da garota querer fazer alguma besteira. Mas não foi necessário, em meio ao surto, Dohee andava pela sala como quem não sabia para onde ir. De fato, Dohee caminhou para a própria morte. 

     Dohee aproximou-se da pequena TV na sala, olhava com raiva, frustração e tristeza.

     — Quem vocês pensam que são? — Gritou para a TV — vocês não são perfeitas! São como todo mundo, cheias de defeitos! — Dohee gritava como se a TV pudesse ouví-la — mas sabem, vocês não são nem sequer humanas! São apenas lixos! São a verdadeira escória da sociedade!

     Após terminar de falar, Dohee respirou fundo ajoelhando-se no carpete, grande erro. O chão abriu-se para um poço com lanças e Dohee caiu para a morte certa. As outras meninas gritaram ao verem a cena.

     — Muito cuidado por onde pisam. — A voz de Shuhua ecoou pelos altos-falantes seguida de uma risada debochada.

     As meninas encontravam-se choque, Jmin e Mint não sabiam como reagir. Lalisa estava paralisada sentindo a culpa a consumindo por dentro. As garotas perceberam que precisavam de um plano para sair dali, mas como fariam isso? Sabiam que estavam sendo vigiadas. Jisoo decidiu assumir a liderança por conta própria, mesmo estando abalada. Começava a anoitecer, as meninas encontravam-se exaustas demais para pensar. 

     — Por hora vamos apenas descansar — Jennie disse por fim e todas concordaram. 

     Ainda tinham comida e água, alimentaram-se e foram dormir ou pelo menos tentar. Tinham de estar atentas a qualquer sinal de perigo. 

***

     — Elas se acham tão espertas — Soyeon disse com desdém — são patéticas. 

     Sentia-se ofendida depois das palavras de Dohee. Odiava quando a ofendiam. Como explicar Jeon Soyeon? Após sofrer tanto, finalmente entregou à insanidade, assim como todas as pessoas presentes na sala. É verdade que pessoas boas sempre carregam alguma cicatriz, mas isso não quer dizer que pessoas ruins também não carreguem as suas. 

     — Não se preocupe muito Soyeon, você sabe que o jogo é sempre o mesmo e não existem falhas. Estamos aqui para matar ou morrer. — Yuqi declarou. 

     Um sorriso surgiu de canto no rosto de Soyeon. 

     — Sim — Soyeon concordou — vamos matar ou morrer. 

     A sala foi preenchida por sua risada, não poderia se sentir melhor. Jeon Soyeon havia entregado-se completamente à insanidade. 

The Whistle GameOnde histórias criam vida. Descubra agora