03 - Past and present.

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     As garotas acordaram com o monitor do quarto fazendo um imenso barulho. Todas decidiram dormir em um mesmo quarto no caso de riscos maiores. O monitor mostrava em letras de forma e claras como antes:

SOBREVIVENTES: 6
ELIMINADAS: 2

     O relógio no quarto marcava oito e quinze da manhã, todas estavam cansadas, e famintas. Demoraram um pouco para lembrar onde estavam e porque estavam. A primeira acordar foi Lalisa, que na verdade, sequer havia dormido. Seus pensamentos estavam a mil e cada vez mais Lisa deixava seus pensamentos serem consumidos pela culpa. Rosé parecia ter percebido isso e foi falar com a mesma enquanto J.Min e Jennie preparavam o café.

     — Lisa — chamou cautelosa a garota perdida em pensamentos.

     Lisa virou-se e exibiu um sorriso forçado ao ver Rosé ali. Rosé revirou os olhos, conhecia bem as expressões da amiga e sabia exatamente dizer o que era real e o que não era. Lisa sabia disso mas mesmo assim tentava não preocupá-la. Preferia sentir o peso de seus problemas sozinha a dividir com alguém, assim achava que não incomodaria ninguém mas mal sabia ela que tal atitude incomodava Rosé. A mesma aproximou-se de Lisa sem dizer uma palavra abraçou-a forte.

     — Você não tem culpa de nada, Lisa. Você apenas tinha o sonho de melhorar de vida, como todas que estão aqui. Pare de se culpar por uma coisa que não é nada além de circunstância, okay? — As palavras de Rosé atingiram Lisa em cheio.

     Rosé tinha uma percepção incrivel quando tratava-se de Lalisa, sabia ser compreensiva e agir de acordo com a situação. Lalisa desandou-se a chorar sentindo os braços de Rosé apertarem-a mais forte e sentiu-se abrigada, sentiu-se protegida. Jisoo que assistia a cena escondida desde o momento que foi chamá-las para comer, decidiu dar tempo à elas e voltou para a cozinha sem as mesmas. Sabiam que o jogo começaria às uma e meia. Por isso tinham tempo para descansar e se organizar. Jennie suspirou recostada na bancada com uma xícara na mão, parecia tão calma por fora mas por dentro estava um turbilhão de pensamentos.

     Sempre foi cautelosa, sempre tinha um segundo plano e agora estava ali, e não havia um segundo plano pois aquele jogo era imprevisível. E nada na vida de Jennie abria espaços para imprevistos, até agora. Sentiu-se tola, idiota mas dizia a sí mesma que que não era o momento. Culpas e arrependimentos apenas piorariam mais a situação que estavam. Seu pai ensinara-lhe que as coisas podiam ser previstas, e Jennie cresceu acreditando nisso e naquele momento estava vendo tudo que seu pai lhe ensinara ir por água abaixo.

      — Temos um plano? — J.Min perguntou a todas presentes.

     — Não temos mas precisamos de um. Mas sem que elas vejam — Mint disse apontando para uma das câmeras na sala.

     Suspiraram. Jisoo pensou rápido e pegou o próprio celular, sabia que não teria sinal mas os celulares ainda podiam ser úteis. Geralmente odiava ficar no celular, mas para a própria sobrevivência abriria uma excessão.

     — Liguem seus bluetooth's e coloquem os celulares para vibrar e disfarcem para as a câmeras quando perceberem — falou baixo suficiente para ouvirem. Mesmo sem entender as meninas obedeceram.

     Alguns minutos depois, o celular de cada uma vibrou no bolso. A primeira a ver foi Jennie. Jisoo havia compartilhado uma nota via bluetooth com elas.

"Vamos nos comunicar assim, para podermos enganar as câmeras. E quem nos vigia."

     As meninas consentiram mas nada falaram. Para as câmeras tinham que mostrar o que queriam ver. Lisa e Rosé voltaram nesse momento e logo foram avisadas discretamente sobre a medida tomada. Se o jogo era para tentar sobreviver, todas ali decidiram mesmo sem expor em voz alta que sobreviveriam.

•••

     Kim Taehyung sentia o desespero batendo na sua porta. Odiava aquele lugar porque fazia suas crises de pânico serem quase irreparáveis.

     — Elas irão voltar, hyung* — falava com o medo claro em sua voz - elas irão voltar!

     Namjoon odiava ver o irmão daquele jeito, e ainda mais quando parava para pensar que aquilo tudo era sua culpa. No caso deles.

     — Não se preocupe, um dia você se acostuma — do outro lado da cela, Park Jimin jogou amargamente.

     Era quem estava há mais tempo ali e já havia perdido as esperanças. Fora parar ali quando tinha quatorze anos e hoje estava com dezoito e não muita coisa havia mudado. Era uma cela excepcionalmente grande mas em condições precárias. Estavam presos para serem torturados e Jimin já havia sofrido tanto, que resolveu aceitar que seus destino era aquele, que nunca mais sairia dali. Às vezes pensava na irmã e no quanto ela sofreu e o que estaria sofrendo. Criava um plano de fuga na sua cabeça até, mas quando via uma das mulheres entrando, lembrava-se de onde estava e porquê estava e desistia no mesmo instante. Havia mais uma pessoa na sala, seu nome era Jung Hoseok.

     De todos ali, era o mais calado. Até mesmo quando estava sendo torturado e provocado, não saía uma sequer palavra da sua boca. Apenas gemidos de dor e agonia mas não palavras. Também não falava com os demais presentes, apenas ficava ali, como um animal espera para seu abate, mas sem desespero. Kim Namjoon abraçou o irmão na tentativa de acalmá-lo.

     — Olha, dongsaeng*, não vou deixar que façam nada com você. Não vou deixar que encostem um dedo em você, okay? — Namjoon disse firme ao irmão mais novo.

     Vendo aquela cena, Park Jimin sentiu saudade da proteção da irmã. Do abraço, dos momentos, ao lembrá-los como um filme, começou a chorar em silêncio. Como sentia saudade de Rosé! E aquela saudade doía ferozmente em seu peito.

•••

     — Faz dois dias! Dois dias! — Min Yoongi surtava no telefone com a policia.

     Estava preocupado com a irmã que sumira desde a sexta. E não conseguia falar com as amigas próximas da garota. Sentia que havia algo errado. O oficial do outro lado da minha começava a irritar o garoto, sem querer ajudá-lo. Yoongi desligou o telefone e respirou fundo. Não sabia o que fazer, pensava apenas o pior. Enquanto pensava em alguma forma de encontrar a irmã, alguém começou a bater forte na sua porta. O mesmo conhecia aquela batida desesperada e logo abriu a porta. Era Seokjin entrando desesperado

     — Não consigo falar com a Jisoo!

     Yoongi fez uma expressão confusa.

     — O quê!?

     — Isso mesmo que você ouviu! Ela sumiu desde sexta e não consigo contatar as amigas dela. Liguei para a polícia mas não ajudaram em nada. Yoongi eu não sei o que fazer - Seokjin desabafou desesperado.

     Sabia como aquilo era desesperador para o amigo depois do noivo desaparecer sem pistas. Yoongi aproximou-se do amigo e o abraçou. Não falaria sobre Dohee agora, sobre como ela também estava sumida desde sexta e como ligara para a polícia, apenas deixaria o amigo liberar a dor que sentiu por anos e que agora voltava com tamanha força. Yoongi sabia que precisaria tomar uma atitude e sem a ajuda da polícia.

•••

     O jogo havia começado. As garotas decidiram não se dividirem, onde procurassem, iriam juntas. Todas estavam apreensivos mas procuravam ainda com medo. Enquanto andavam, Mint bateu o braço em uma estante fazendo cair dela um pequeno baú como o que acharam o nome do "tesouro", com um diferencial: havia vários papéis neste. Mint resolveu pegar um e leu em voz alta:

     — Pise fundo e olhe ao céu.

     Outra mais confusas logo foram mostradas, não havia sentido naquelas frases para elas.

     — São dicas? — J.Min perguntou mais a sí mesma que para as outras.

     — É o que parece — Jennie respondeu.

     Estavam distraídos quando um assobio foi ouvido ao longe. Olharam-se tensas. Ninguém precisou falar nada, todos correram para se esconder. Lisa encostou-se na parede atrás da estante e sentiu a mesma sumir das suas costas fazendo-a cair numa escuridão densa. O desespero começou a tomar conta da mesma quando sentiu a mão de alguém segurar a sua. Lalisa já não ouvia mais o assobio mas estava ali, presa com alguém que não fazia ideia de quem era.

The Whistle GameOnde histórias criam vida. Descubra agora