13 - Exorcism

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     Soyeon sentia sua cabeça doer, alternava olhares entre Oyakr e Blake, sentia seu corpo pesar. As memórias vierem rápido demais, antes do jogo... depois do jogo... ganhar o jogo... Até chegar naquele momento. Soyeon encarou as próprias mãos sujas de sangue, como isso aconteceu? Oyakr apenas ria daquela pobre alma corrompida. 

     — Como...? Por quê...? — A garota encarou Blake em busca de respostas. 

     — Diversas pessoas já passaram por aqui, mas o seu grupo foi o único a sobreviver nesse inferno. Em compensação, Oyakr tirou toda sanidade de vocês para poder controlar vocês e manter o jogo ativo — Soyeon encarava-a boquiaberta —, do meu grupo, eu fui a única sobrevivente, por sorte. Não acredito que entidades como Oyakr possam se apaixonar. 

     — Se apaixonar? — Soyeon a interrompeu e virou-se para Oyakr.

    — Sim. Ele apaixonou-se por mim, dizia que iria me proteger se eu me juntasse a ele nesse banho de sangue. Óbvio que recusei, e consegui fugir, quando sai desse inferno pesquisei o que pude para acabar com a raça dele e acabar de vez com esse jogo desgraçado! — Blake vociferou para Oyakr. 

     Tudo passava como um flash na cabeça de Soyeon, lembrou-se de tantas pessoas que havia matado em nome de Oyakr, lembrou-se de suas amigas, das pessoas inocentes das quais tirou a vida, lembrou-se do seu irmão. Desatou-se a chorar como nunva havia chorado antes, a dor no seu peito era imensa, encarou Oyakr com medo, pensou em toda manipulação que passou, as lágrimas não paravam de cair.

     — Eu acho que já chega de conversa, certo? — Blake quebrou o silêncio. Pôs a mão na cintura, exibindo duas armas, uma de cada lado.

     A verdade era que Blake estava disposta a morrer para que tudo aquilo acabasse. Oyakr encarava-a triste, mas estava dispostos a defender-se de qualquer investida. Blake sorriu de lado ao ver que o deus-demônio focou nas suas armas. Tirando do bolso uma turquesa e um quartzo-rosa, segurou cada um com uma mão. Olhando nos fundos dos olhos de Oyakr, começou a cantar. 

Sur la supro de la monto
Protekto ekestas
La turkiso gvidas min
Roza kvarco črkaūas min
Mi vekas nun la Diinon
Lasu bonon superior la malbonon*

     Oyakr encarava-a atônito. 

     — Maldita seja! — Berrou, assustando Soyeon que não entendia o que estava acontecendo.

     — Sua casa inteira, estão espalhadas turquesas e quartzos-rosa. Eu estudei muito Oyakr, muito. Eu não estava brincando quando falei que iria acabar com você — Blake carregou suas palavras. 

     De repente, Soyeon atirou-se sobre Oyakr, com ódio, frustração e repulsa, de si mesma e de tudo que tinha feito. As lágrimas embaçavam sua visão mas ela não se importava, apenas queria sair daquele inferno ou encontrar seu irmão, seja lá onde ele estivesse. Oyakr lançou a longe, seu corpo chocou-se com uma estaca próxima à porta, Blake assustou-se por um instante, ela sabia que não podia baixar a guarda com o deus-demônio. Soyeon era agora mais uma vida tirada pelas mãos de Oyakr, empalada naquela sala, o sangue escorria por sua boca. A luta agora era apenas de Blake. 

     — Agora é você — Oyakr vociferou, seus olhos ficaram vermelhos. Blake sabia que aquela não era sua forma real. 

     Blake pegou as armas da cintura, e encarou Oyakr sem nenhum medo, afinal, aquele era o alimento dele e ela sabia que quanto menos medo ela sentisse, mais vantagem ela teria sobre ele. Enquanto Oyakr aproximava-se, ela retomou o cântico à Deusa, nas armas havia água "ungida" pelo cântico. Quando o deus-demônio aproximou-se o suficiente, Blake disparou em sua direção, duas balas foram suficientes para Oyakr sentir queimar por dentro. 

     Blake correu, havia apenas cinco balas e ela precisava usar estas cinco no tempo do ritual. Ela tinha apenas uma chance de fazer tudo aquilo dar certo. Escondeu-se atrás de uma porta, conhecia aquela casa com a palma de sua mão. Oyakr procurava-a furioso, os cânticos da garota o atordoavam, odiava aquela música. Mas nunca conseguiria odiar Blake. Oyakr sabia que ela estava detrás da porta, aproximou-se devagar imaginando se havia uma chance de estar em vantagem, mas percebeu tarde demais que não.

     Seus olhos sentiram a terceira bala, fazendo-o queimar mais uma vez. Afastou-se alternando entre as suas diversas formas, e corpos que havia roubado. Blake respirava fundo, não podia deixar que Oyakr farejasse seu medo. Aquilo estava deixando-a nervosa, mas ela não podia deixar-se levar por esse sentimento. Correu mais uma vez, escondendo-se em um dos quartos enquanto Oyakr estava em transe. 

     Restavam apenas duas balas, Blake sabia que teria que ser cautelosa. Pediu discernimento e proteção à Deusa. Mas ela sabia que seu destino estava visto apenas até ali. Respirou fundo mais uma vez ouvindo Oyakr urrar de ódio. Blake retomou o cântico, enquanto escondia-se pela casa, Oyakr seguia sua voz com ódio, e o fogo queimando-o por dentro. O deus-demônio sentia-se perdido, como se seus sentidos não funcionassem direito. Amaldiçoou Blake mentalmente por encher a casa de pedras energizadas, isso apenas tornava mais difícil para ele. 

     Parou para pensar na garota pela qual se apaixonou, nunca arrependeria-se de amar Blake. Nem mesmo que isso custasse sua divindade e sua vida, e também a vida dela. Oyakr recuperou o fôlego para ir atrás da mulher, as pedras o atordoavam junto aquela música irritante, odiava tanto aquela melodia. Oyakr não fazia ideia que tudo isso fazia parte de um plano de Blake. Com Soyeon sob seu comando, era fácil sentir-se invencível, a garota descobria tudo antes de acontecer. Oyakr sentia-se tudo que não era, e agora com Soyeon fora da jogada, ele era apenas mais um deus-demônio digno de pena. 

     — Oyakr! — Blake gritou o quarto onde estava. O deus-demônio estava perdido, sem saber que direção seguir. 

     — Maldita! Maldita seja, Blake! — Urrou Oyakr sentindo o ódio dominá-lo por dentro. Odiava a grande Deusa, odiava aquela melodia, odiava pedras energizadas tornando os lugares mais sombrios em lugares puros. Odiava tudo aquilo. 

     — Oyakr, filho Ohtakê — Blake começou ainda escondida no quarto — servo das trevas, devorador de almas e do medo. 

     — Cale a boca! — Oyakr sentia sua cabeça girar, as palavras ecoando no seu ouvido, suas diversas formas alternando entre si. 

     — A grande Deusa tem poder sobre ti, o teu nome não é nada comparado ao dela. Tuas formas nada são além des máscaras. Pois tu és carne podre! Não tens forma e nem vida, e até mesmo a tua vida depende Dela — Blake vociferava as palavras a plenos pulmões — e se tu és nada, nada tornará a ser!

     Uma grande ventania tomou toda a casa, Blake saiu de seu esconderijo e postou-se frente a frente com Oyakr. Mirou a arma na sua direção, as formas de Oyakr deixavam-a nervosa. 

     — E se tu és nada, nada tornará a ser! — Gritou puxando o gatilho. As duas balas finais foram descartadas. 

     Oyakr sentia-se queimar por dentro, tornando-se fogo puro, mas dessa vez queimando-o como nunca. Por um milésimo de segundo, Blake sentiu medo, e o deus-demônio enfurecido, sentiu seu medo. Por menos tempo que fosse, agora Oyakr sabia que ela estava com medo. 

     — Eu irei, Blake, mas eu não irei sozinho. — Oyakr vociferou. Blake arregalou os olhos. 

     Só então dera-se conta que Oyakr havia sentido seu medo, aquilo deixou-a mais nervosa, caindo em si, Blake reergueu a cabeça. Ela mesma disse, mesmo que custasse sua vida, ela levaria Oyakr. Deixou que as lágrimas caíssem, tudo havia dado certo. Mesmo com sua vida no fim, aquele inferno teria um fim. Fechou os olhos lembrando-se das suas amigas, das notícias, todas as pessoas que não conseguiram sair dali que agora poderiam descansar em paz. 

     Oyakr avançou em Blake, fazendo com que suas chamas a envolvessem, Blake queimava viva enquanto Oyakr tornava a ser o nada, vazio e sem forma que sempre foi. 
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TRADUÇÃO:

Do Alto da Montanha
Surge a proteção
A turquesa me guia
O quartzo rosa me envolve
Acordo agora a Deusa
Que o bem prevaleça sobre o mal

The Whistle GameOnde histórias criam vida. Descubra agora