04 - Ripred.

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     Seokjin finalmente acabara de chorar e Yoongi esperava que o mesmo terminasse dr beber água para poder falar. O assunto era delicado, mas teria que falar, sabia disso. Respirou fundo antes de expor o que tinha em mente.

     — Dohee também está desaparecida desde sexta —  disse calmo mas aquilo fazia seu coração arder como nunca.

     Seokjin encarava-o confuso. Não sabia como reagir.

     — À que horas ela sumiu? — Seokjin perguntou agora mais calmo.

     — Desde sexta pela manhã. Eu não consigo falar com ela, nem com as amigas dela e sempre que ligo, o celular dá fora de área ou desligado. Na hora que chegou estava brigando com a polícia no telefone.

     Seokjin agora estava atônito. Ambos estavam convencidos que alguma coisa estava muito errada. Mas não sabiam exatamente o quê e nem sequer tinham uma base. Estavam um beco sem saída e naquele momento apenas torciam para que suas irmãs estivessem bem.

•••

     Enquanto o que elas chamaram de whistler assobiava pelo cômodo, as garotas mantinham-se escondidas. Jennie sentia-se apavorada naquela situação, era seu maior medo perder o controle da própria situação, tinha medo de não ter um plano B, e naquele momento, ela não tinha. A pessoa procurava por elas enquanto assobiava, um assobio bonito mas medonho, fazia com que todos os pelos do corpo ficassem de pé. Mint tentava conter as lágrimas de medo, chorava silenciosamente ao lado de Jisoo.

     Permaneciam imóveis, sem nada dizer, sem se mover enquanto o whistler passeava pelo quarto. Arrastando uma espada aparentemente amolada recentemente. JMin olhava aquilo com tristesa e repulsa, já sentia falta de Myungji e Dohee e prometeu a sí mesma que vingaria-se por elas. Enquanto estavam distraídas, um barulho estrondoso foi ouvido do outro lado da casa, como algo caindo. Todas prenderam a respiração, haviam assustado-se com aquela situação inusitada. O whistler olhou para fora, com a máscara e foi atrás de quem quer fosse que estivesse lá. Ainda assobiando. Ao longe ainda podia-se ouvir o assobio.

     Estavam tensas mas sabiam que não poderiam sair dali até que aquele assobio parasse por completo. Esperaram. O assobio foi sumindo até que finalmente podiam comsiderar-se livres de seu esconderijo. Uma por uma foram saindo, com medo, apreensivas. Quando finalmente perceberam que estavam apenas elas ali, suspiraram aliviadas, até que...

     — Cadê a Lisa?

•••

     Lisa prendia a respiração, a escuridão somada com a pessoa a segurar sua mão deixava-a nervosa. A outra pessoa suspirou. Lisa encontrava-se imóvel, nem um músculo mexia, nem mesmo dua pulsação podia ser sentida.

     — É só mais um corpo, voltem — ordenou a voz, que Lisa logo reconhecera — Yuqi — e passos puderam ser ouvidos.

     Após perceber que estava sozinha, Lisa finalmente permitiu-se respirar, mas por pouco tempo.

     — Vou ajudá-las a sair daqui, mas precisa fazer exatamente o que digo — a voz de Yuqi fez todos o corpo de Lisa ficar estático. Ainda estava escuro, mas ela sabia de que direção estava vindo.

     — Como posso confiar em você? Nos colocou aqui dentro! — Lisa conseguiu rebater.

     — Porque já estive aqui dentro! E se ainda estou aqui...

     — É porque ganhou o jogo. — Lisa completou.

     Lisa sentiu suas pernas bambearem, estava um pouco aturdida com a informação, mas ainda assim não confiava em Yuqi. Não poderia. Song Yuqi sabia exatamente o que Lalisa estava pensado e também estava de acordo que não era de confiança. Ela sentia-se o rato Ripred, que mesmo mostrando seu melhor lado a Luxa, não ganhou sua confiança até que morresse. Amava aquela história e nunca pensaria que pareceria-se tanto justamente com Ripred um dia.

     — Você sai por aqui — falou enquanto abria a passagem para Lalisa — ainda vou provar que quero ajudar. Mas por enquanto, finja que não sabe.

     Lalisa agora podia ver seu rosto mas não conseguia decifrá-lo. Assentiu para Yuqi e saiu, voltando ao mesmo lugar onde se escondera, mas suas amigas já não encontravam-se mais ali. O desespero começava a bater na porta de Lalisa quando ouviu a voz de Jisoo.

     — Cadê a Lisa?

     Lisa saiu de trás da estante em que estava. Todas olharam-a aliviadas, por um momento pensaram que haviam a perdido também. Mas agora estavam felizes de vê-la ali, viva.

•••

     — Onde você estava? — A voz de Soyeon era gélida. As outras permaneciam caladas.

     Mesmo que não admitissem, todas ali não aguentavam mais Soyeon, não aguentavam mas sua toxicidade e a forma como a liderança deixava-a egoísta, especialmente seu braço direito: Yuqi.

     — Programando as armadilhas que você mandou — Yuqi respondeu calma.

     O sorriso de Soyeon formou-se quase instantaneamente com a resposta. No passado, Yuqi e Soyeon eram como Hans e Konradin* e agora não passavam de meras colegas de trabalho. Yuqi sentia falta da Soyeon de antes, mas nunca falaria aquilo abertamente. No fundo sabia que sua amiga já havia morrido há tempos e não havia nada que pudesse fazê-la voltar. Yuqi sabia disso, por isso apenas estava ali como uma sina a ser cumprida. Se existisse um inferno — Yuqi devaneava — com certeza seria mil vezes melhor do que estar ali.

     E se existisse um Deus, certamente havia virado as costas para Yuqi no momento em que entrou naquela na casa, em um fim de semana, para jogar. Mal sabia Yuqi, que nesta parte, seu pensamento era uma total verdade. Shuhua levantou-se junto de Soojin, era a vez de ambas de monitorar o jogo. Estavam felizes que sairiam daquela sala, da presença sufocante de Soyeon.

     — Quando isso vai acabar? — Shuhua perguntou enquanto caminhavam.

     — Bom — Soojin suspirou — talvez nunca. Já estamos condenadas de qualquer forma.

     Shuhua já havia aceitado aquilo. Acostumara-se àquela vida de assassina, antes daquelas garotas, tantas outras já haviam passado por ali e — Shuhua sabia — suas mãos estavam sujas de sangue. Mas ela queria que aquilo acabasse logo, alguém tinha que vencer e só então ela e as outras estariam livres. Chegaram na salanonde monitorovam tudo, absolutamente tudo da casa, e sentaram-se.

     — Sabe Shuhua, às vezes fico pensando — Soojin falava pensativa enquanto olhava para um dos monitores — um dia já estivemos no lugar delas. Em um dia tínhamos sonhos e no outro, estávamos presas aqui. É triste pensar assim, não? — Virou-se para Shuhua.

     Shuhua podia ver a tristeza em seus olhos, como quem não soubesse que fazer mas que tinha que manter a postura que lhe era imposta. Por trás da franja, Soojin procurava conter as lágrimas que queriam sair e passear por seu rosto. Shuhua sentiu vontade de chorar por não poder fazer nada, mas ambas sabiam, era proibido qualquer tipo de afeto entre elas. Tudo que remetia afeto era considerado uma fraqueza e ali, fraca era última coisa que pensariam em ser.

     — De quem é o dia T, hoje? — Soojin perguntou para descontrair o assunto.

     — Miyeon e Minnie — Shuhua respondeu. E logo as duas mantiveram-se olhando as câmeras, em silêncio.

     Minnie e Miyeon gostavam daquela parte do serviço. O dia T, era um momento único. Gostavam do que faziam ali. Entraram calmamente na sala que estavam suas três cobaias, o mais novo ainda encontrava-se agarrado com o irmão. Minnie sorriu ao vê-lo, queria fazê-lo sofrer e ver sua reação. Jungkook já as esperava para manter tudo arrumado.

     Jeon Jungkook, um prisioneiro extra de Soyeon, seu irmão mais novo. Sua função era vigiar os encarcerados e manter o lugar limpo, mas apenas para elas. Minnie olhava para Taehyung com o desejo intenso de machucá-lo.

     — Eu quero ele — disse apontando para Taehyung.

     — Você não vai colocar suas mãos imundas no meu irmão! — Kim Namjoon gritou.

     Minnie sorriu, sabia exatamente o que fazer.

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*Hans e Konrandin: referência ao livro O reencontro do Fred Uhlman.

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