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Um som estridente e ensurdecedor me fez despertar para uma realidade dolorosa e latejante - mais especificamente, nas laterais de minha cabeça. Grunhi com grande irritação, esperando que alguém acordasse e finalmente desligasse o despertador.

— Bia! — gritei, puxando a almofada debaixo de meus pés para uma tentativa falha de acertá-la estirada no tapete da sala. Pelo menos o grito foi capaz de acordá-la e fazer parar com a música que saía de seu celular.

— Não acredito que você esqueceu de desligar essa porcaria — murmurei mais para mim mesma do que para ela.

Ainda com a visão turva, tentei alcançar meu próprio celular por entre o estofado. Os botões da camisa que ainda estava vestindo desde a noite passada incomodaram minha pele à medida que me mexia. Quando finalmente alcancei o aparelho, o puxão que dei para resgatá-lo me fez deslizar pateticamente do sofá onde havia passado a noite para o chão.

—Ai! — Fab reclamou debaixo de mim.

— Desculpa — sussurrei enquanto ela se arrastava para o lado, esticando o braço por cima da Bianca, deitada ao seu lado. Falava e tentava até mesmo pensar baixo para que minha cabeça doesse menos.

Com os olhos apertados por conta da claridade, desbloqueei o celular, tentando entender de onde haviam saído tantas mensagens e ligações perdidas. Minha náusea pareceu ficar mais forte quando li o nome dela na tela e um suspiro alto escapou por entre os meus lábios sem que eu percebesse - incrível como isso foi o suficiente para despertar minhas amigas ainda 20% embriagadas e fazê-las levantar para me olhar.

— Por que esse som? Não gosto desse som — Fab disse com a voz rouca e as sobrancelhas franzidas. Sorri de nervoso. — Foi aquela desgraçada?

Bia não parecia pronta para expressar palavras, mas também me observava ansiosa por uma resposta. E, então, meu celular começou a vibrar. E o maldito nome apareceu mais uma vez brilhando na tela. As meninas se inclinaram sobre o aparelho, apenas para confirmar o que temiam: sim, foi aquela desgraçada.

— Vai atender? — Bianca finalmente se pronunciou.

— Eu não acho que seja capaz de me dirigir a essa mulher infernal nunca mais na minha vida — disse pausadamente, de repente sentindo meu interior ferver de raiva. — Não depois de ontem.

10 HORAS ANTES

— Eu só vou fingir que ela nem tá aqui — disse, enchendo o copo com mais cerveja. Não fazia nem uma hora que havia chegado e meus lábios já estavam começando a ficar dormentes por causa do álcool.

— Ela nem devia tá aqui mesmo, ela nem estuda aqui — Fabrícia disse, ríspida. — É a nossa universidade, não a dela.

— Eu também não sou daqui — lembrou Natasha. — Vocês me odeiam? Eu posso ir embora se quiserem.

— Para de drama — ri entre as palavras. — Eu convidei você então... — expliquei e a vi sorrir para mim, espremendo os olhos pequenos por trás das lentes do óculos. — Os amigos que convidaram ela foram todos eu que apresentei, que ódio.

— Sem falar que vocês finalmente terminaram, sem enrolação, há menos de dois meses — Fab continuou resmungando, parecendo mais irritada que eu. Na verdade, eu não duvidaria nem um pouco que ela realmente estava mais irritada que eu. — Não é como se você fosse aparecer onde ela estuda e perturbar o juízo dela — concluiu, tomando um longo gole de sua caipirinha em seguida.

Ri amarelo, mais uma vez enchendo o copo. Olhei em volta, para as filas em volta dos quiosques que vendiam bebida e para as grandes caixas de som postas pela comissão de veteranos para a recepção de calouros - comissão que, na verdade, eu até fazia, mas não estava muito por dentro do que estava fazendo... Não checava o grupo de mensagens há mais de uma semana.

Lésbica e Desequilibrada ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora