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olá! ontem teve especial de natal e hoje é capitulo 2, voces tao com sorte hihi aproveito a oportunidade pra desajar um bom fim de ano! até 2021 💜

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— Não recebi ainda a cobrança pelo seu psicólogo esse mês... Você acha que aconteceu alguma coisa? — minha mãe indagou com certa preocupação. Aquela ligação já durava horas e, ainda assim, dona Ísis continuava a puxar assunto como se não tivéssemos nos visto durante o final de semana.

— Acabou que eu não fui esse último mês — respondi de maneira cautelosa.

Minha mãe não precisava de palavras para me repreender; o silêncio do outro lado da linha era o suficiente para me deixar nervosa.

— Eu só tenho andado ocupada... Muita coisa tá acontecendo, então, eu tô ocupada... E tô bem também — atrapalhei-me ao explicar, receosa com a sua reação. — E eu ainda vou ver o psiquiatra semana que vem — completei rapidamente.

Ouvi-a dar um longo suspiro através do celular e contive um revirar de olhos como se ela estivesse diante de mim. Havia saído da casa de minha mãe fazia quase um ano, mas ela ainda me ajudava com a terapia e os remédios, já que minha renda não era lá essas coisas.

— Você pelo menos está tomando seu remédio direitinho? — perguntou, rendendo-se. A fala me recordou que ainda não havia tomado a dose do dia, o que fez com que eu levantasse do sofá e fosse em direção a cozinha.

— Sim, mãe — respondi em tom amigável, tentando tranquilizá-la. Ao mesmo tempo, abria o armário sobre a pia da cozinha, procurando o pequeno frasco transparente de antidepressivos. — Daqui a pouco acabo me atrasando... Melhor eu ir — disse, porém sabia muito bem que tinha tempo de sobra. Meu horário de entrada no estágio naquele dia era mais tarde, no entanto já estava esgotada daquela conversa e não queria me estressar com dona Ísis.

Nos despedimos e, mais uma vez, escutei minha mãe pedindo para que eu me cuidasse, o que lhe prometi que faria. Quando finalmente desligamos, minha orelha parecia até um pouco dolorida pela quantidade de tempo que havia ficado com o celular pressionado junto a ela.

Com as mãos apoiadas sobre o mármore da pia, pensei no que havia falado para minha mãe. Realmente, a vida estava verdadeiramente uma correria, tanto que mal notei que um mês havia se passado sem as consultas - mal tinha tempo para pensar o quão psicologicamente fodida da cabeça eu era. E, sinceramente, estava conseguindo lidar muito bem com tudo o que estava acontecendo, sentindo até um gostinho de independência por não precisar consultar alguém para cada pequena decisão que precisava tomar. De repente, era o momento de caminhar com as minhas próprias pernas - e um empurrãozinho do meu velho amigo antidepressivo.

Ainda pensativa, dirigi-me a passos lentos até o quarto. Mesmo descalços, meus pés faziam um som mínimo ao se locomoverem pelo apartamento vazio. As manhãs e tardes de sexta-feira normalmente eram assim, tranquilas, já que era o único dia da semana em que não tinha aula enquanto minhas amigas sim. Nesses dias, gostava de fingir que o tempo parava só para me ver me alongando no chão do quarto e escolhendo uma roupa para ir trabalhar. Nesses dias, gostava de fingir que nada era mais importante do que me sentir bem comigo mesma e bonita em frente ao espelho antes de sair de casa.

Após um banho morno e preguiçoso, dei de cara com uma Fab suada e apressada no meio do pequeno corredor que dava para os outros cômodos. Confusa, segui-a enrolada em minha toalha até seu quarto e observei do batente da porta enquanto ela trocava de roupa.

— O que aconteceu? — indaguei finalmente. Não era comum encontrá-la ou encontrar Bianca em casa àquela hora.

— Eu esqueci a minha roupa pra aula de performance e pensei que daria tempo de passar em casa... — contou, percebendo que havia colocado a blusa ao contrário e tirando para vestí-la novamente. — Mas um cara começou a flertar comigo, sabe... A gente ficou trocando olhares e eu perdi o ponto — continuou, inicialmente com um sorrisinho no rosto e depois com um tom irritado.

Lésbica e Desequilibrada ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora