Capítulo 6

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Ele me colocava contra a parede. Sim, ele fazia isso.
Não sabia se tinha noção ou se fazia de propósito.

 

Alisson já havia voltado normalmente para as aulas. Mas não nos falamos naqueles dias. Cada um ficou em seu canto e eu também evitei a todo custar estar próximo a ele. Mas não estava sendo tão simples assim, pois era a última semana para recolhermos o material reciclável da equipe.

Na noite anterior, fiquei surpresa ao ver seu e-mail. Meu coração quase congelou, fiquei com medo do que estava escrito. No entanto, misteriosamente me decepcionei ao ver que era apenas um recado.

Amanda,

Precisamos falar sobre o trote solidário.

Nos encontramos na cantina da faculdade,

depois da aula.

Alisson

Ele foi seco e direto. Mas... Não era isso o que eu queria? Distância? Qual o problema comigo? Balancei a cabeça e deixei pra lá. Era apenas uma reunião entre líderes. Bendita hora em que aceitei ser a líder da sala.

           Então, como combinado no e-mail, nos encontramos depois da aula. Camila ainda estava guardando suas coisas quando Alisson chegou, ele deu um sorriso e entregou uma chave pra ela.

— Aqui, Camila. Vai de carro, depois eu volto a pé.

— Está bem. — Ela pegou a chave e foi embora com um simples tchau, fazendo com que eu novamente ficasse confusa com a relação daqueles dois.

Caminhamos silenciosamente até a cantina. O roxo do olho dele estava menos visível. Acho que deve ter usado um pouco de base para disfarçar ainda mais. Claro que eu não iria perguntar, não queria causar mais nenhum mal-estar entre a gente.

— Estive falando com um colega meu, o Kleiton. O pai dele tem um caminhão de mudança, mas ele só vai poder liberar pra gente no sábado. Como só tem lugar pra três pessoas, vai o Kleiton, eu e você.

— Não seria melhor chamarmos mais gente? Só temos sábado até às três da tarde pra entregar tudo. Desse jeito não vai dar tempo — comentei, enquanto me sentava na cadeira em um canto da cantina
          — Então o que você sugere, dona Amanda? — Ele cruzou os braços, ficando impaciente.

 Olhei firmemente em seus olhos.

 — É simples. Precisamos de mais gente pra levar o lixo até o caminhão pra irmos mais rápido. Pode deixar que vou arrumar um carro cheio de jovens fortes e sarados.

— E onde vai arrumar essas pessoas? Na Casa Dançante? — Me fuzilou com os olhos e finalmente sentou. Não acreditei que ele disse isso. Será que nunca vai esquecer aquela noite?
Respirei fundo e me aproximei dele, coloquei o dedo perto de sua boca.

 — Psiu! É melhor parar com isso, para o nosso bom convívio dentro da equipe.

Fui surpreendida pelo seu sorriso. Ele levantou-se e fez um pedido no balcão. O clima tenso desapareceu e o assunto do trote pelo jeito já havia acabado. Aquilo tudo me pegou de surpresa. Logo a garçonete apareceu com uma porção de batatas fritas e dois sucos.

— Espero que você goste — ele disse, dando um sorriso de lado.

— Para a sua sorte, eu amo batata frita e suco de laranja — disse animada, já pegando uma.
Ele sorriu novamente.

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