Capítulo 7

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As coisas pareciam desmoronar.

Estranho, era a definição daqueles dias.


            Finalmente encontrei Raquelli em casa, mas era uma da tarde, o que era muito estranho, já que nessa hora ela estaria no trabalho.

Deixei minha bolsa em cima da mesa de centro e a observei. Estava sentada no pequeno sofá, com alguns papéis na mão. Ela nem deu bola pra mim, o que me intrigou. Nunca foi de agir assim comigo, porém havia algo em seu semblante que não consegui identificar. Fui pra cozinha, peguei um copo de água e tomei um gole, esperando que ela falasse algo, mas continuou me ignorando. Coloquei o copo na pia e então me aproximei dela.

— O que aconteceu?

— Do que você tá falando? — Ela tirou os olhos dos papéis, me olhando seriamente.

— Quase não te vejo mais e você em casa a essa hora? Está tudo bem?

— Está, sim. — Sua voz estava estranha. Suas palavras não me convenceram.

— Tem certeza? Está tudo bem no trabalho?

Ela suspirou e levantou-se do sofá.

— Claro que sim, só peguei uma folga pra resolver algumas coisas.

— Podíamos dar uma volta ou então tomar um café na casa da vovó, o que acha? — convidei meio hesitante. Minha intuição sentia que algo estava errado.

— Amanda... Não estou com tempo pra isso. — Pelo tom de sua voz, estava começando a ficar impaciente e, mesmo assim, continuei a falar.

— Queria tanto conversar. Você sabe, é a única amiga em quem confio. Poxa, nós devíamos estar mais próximas.

— Amanda! — De repente começou a falar com a voz exaltada: — Eu trabalho e estudo. Quase não tenho tempo e, quando chego em casa de noite, não tem nada pra jantar, e você ainda quer conversar comigo? Você tem tempo de sobra e quase não faz nada aqui em casa. Acorda! Nem tudo gira em torno de você.

— Do que você tá falando, Raquelli? — Fiquei perplexa com aquilo.

— Isso é a VERDADE! Aqui você não é a princesinha, então arregace as mangas e seja adulta, pare de agir como uma adolescente mimada. Aprenda a resolver os seus problemas, sozinha!

Arregalei os olhos. Por que ela estava falando aquilo tudo? Não estava entendendo nada. Ela nunca falou daquele jeito comigo. Aliás, era a pessoa mais calma e tranquila que eu conhecia. Esse comportamento não fazia parte dela. O que estava acontecendo, afinal?

— Aliás... — Ela virou-se pra mim e apontou o dedo. — Você precisa encontrar outro lugar pra morar.

O quê???

— Como assim? — indaguei, nervosa. Não estava acreditando naquilo. Do que ela estava falando? Sair do apartamento? Como?

— A Suellen também vai sair.

— Mas, Raquelli...

— Fim de papo. O aviso já foi dado. Você tem uma semana.

— Ra...

— Chega! — Ela gritou gesticulando e saiu batendo a porta.

Não... Não podia ser verdade. O que eu fiz? Por que ela me tratou daquele jeito? Eu não estava entendendo, alguma parte do quebra-cabeça não estava encaixando. Tudo bem que faz algumas semanas que ela andava diferente, mas chegar a esse ponto? Durante anos falamos sobre morarmos juntas e, agora que estou aqui, simplesmente me manda embora?

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