Capítulo 01 - O Jovem do Mar Negro

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Tradução: Foxita; Revisão colaborativa: Sr. Raposo.


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Os Criadores colocaram o eixo da Bússola da Criação nos seres humanos; as outras partes foram lançadas no mundo vasto, selvagem e desconhecido.

Com o passar do tempo, civilizações atingiram o auge de sua grandeza e depois despareceram silenciosamente. As previsões dos profetas sobre o futuro infinito, lidas nos espaços entre as estrelas, não aconteceram como esperado, e os projetos que existiam no imaginário coletivo revelaram-se meras fantasias.

Esta foi uma era terrível – no centro da galáxia, existiam apenas três territórios ainda habitados por pessoas; a humanidade experimentara três diferentes períodos de explosivo crescimento populacional, seguidos por uma repentina guerra nuclear, e finalmente a população havia sido reduzida para um total de menos de quinhentos milhões. Os recursos naturais foram totalmente exauridos; enormes dutos de energia percorriam o núcleo da Terra e canalizavam matéria bruta da fissão nuclear, transformando-a em energia. A superfície da Terra se transformou num deserto e o País de Aço ocupava a maior área - a região conhecida nos tempos antigos como "Terceiro Continente".

O Computador Central substituiu governos, órgãos parlamentares e sistemas judiciários, tornando-se a nova máquina governante. Um dia no passado, com o seu despertar, robôs[1] dominaram o mundo. A humanidade foi exterminada, forçada a fugir por suas vidas, ou subjugada...

As formas de vida de aço ocupavam a superfície. A poluição por enxofre decorrente de anos ininterruptos de produção industrial se alastrou pelo céu, fazendo com que a Cidade das Máquinas ficasse sempre encoberta por nuvens amarelas. Embora a superfície estivesse repleta de arranha-céus, todos eles eram gélidas e frias fábricas de aço. Era nas profundezas, sob a superfície, que viviam os humanos. Eles se tornaram escravos das formas de vida de aço e suas vidas cotidianas eram simples e padronizadas: eles se revezavam em turnos para trabalhar e dormir; acordando no horário para trabalharem pontualmente... como se fossem animais enjaulados.

Nosso protagonista, A-Ka, atualmente vivia no mundo subterrâneo da Cidade de Aço. Ele era um dos humanos que moravam na área de habitação conhecida como "Formigueiro".

A-Ka tinha dezesseis anos e ocupava a função de técnico de manutenção na linha de produção. Seu trabalho consistia em atender diferentes formas de vida mecânicas, ajudando-as a ajustar e alterar suas partes, e em testar novas técnicas e peças enviadas pela Central de Tecnologia. Muitos robôs estranhos passariam por ele com pedidos razoáveis ou irracionais.

"Substitua minhas lentes infravermelhas, peça desejada número RM47," mandou um androide.

"Sinto muito, não tem mais no estoque," respondeu A-Ka. "Você vai ter que esperar até o próximo mês."

"Substitua minhas lentes infravermelhas, peça desejada número RM47," repetiu o androide.

"Acabou," falou A-Ka. "Não tem mais no estoque."

"Artigo terceiro da Lei de Controle dos Humanos," falou o androide com sua voz morta e robótica, "Humanos não estão autorizados a rejeitar quaisquer pedidos das formas de vida computadorizadas, ou serão imediatamente exterminados."

A-Ka começou a pensar num jeito diferente de dizer aquilo - o último técnico de manutenção teve sua cabeça explodida justamente por causa desta regra. Ele olhou para baixo, encarando a abertura de laser do cliente, que no momento já começava a esquentar. Ele tinha no máximo dez segundos de vida.

"Contagem regressiva," avisou o androide. " Dez, nove..."

"Por favor, espere um momento," A-Ka respondeu apressado e tirou de sua gaveta uma lente já totalmente polida, trocando-a para o androide; era um pedaço de lixo que ele tinha tirado de outro robô anteriormente.

Xingpan Chongqi [Tradução PtBr]Onde histórias criam vida. Descubra agora