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Ayla

     O silêncio do hospital é assustador. Tudo o que posso escutar é o "bip" da máquina de batimentos bem ao meu lado e meus pés batendo contra a esteira onde estou correndo a menos de dois segundos. Eu fui comunicada por minha médica ontem a noite de que tinha sido recolocada na lista de consultas para hoje de manhã e aqui estou eu, com fios conectados em todo o meu corpo enquanto me esforço para correr em uma esteira idiota. A médica está olhando para o monitor enquanto eu corro, e por mais que, de acordo com a esteira, só faça quinze segundos que estou correndo, minha respiração já está começando a falhar e eu sinto que meu coração vai pular do peito a qualquer momento. Sem mais aguentar, pressiono o botão avermelhado da esteira e, completamente frustrada com o meu desempenho vergonhoso, coloco as mãos nos joelhos e soluço baixinho. Eu me sinto patética por não conseguir correr por um sequer minuto, é como se eu já fosse inválida sem ainda ter colocado o marcapasso, ou seja, nada na minha vida vai mudar. A médica ainda não me explicou como minha vida vai funcionar depois que eu colocar o marcapasso, mas eu tenho medo de não poder fazer mais nada do que gosto, tipo dançar ou encher a cara em uma noite qualquer para me distrair dos problemas diários... o que vai ser de mim em ter que sofrer sem encher a cara? Eu não suportaria.

— Tudo bem, querida! Você se saiu bem — a doutora esfrega a mão nas minhas costas e me ajuda a subir na cama enquanto luto contra a minha respiração acelerada. Bem? Eu me sai patética. Até mesmo uma criança de dois anos correria por mais tempo que eu, ou um idoso de oitenta anos — aqui.

Ela me entrega uma garrafinha de água e volta para trás do monitor para escrever algo sobre meu desemprenho horrível na esteira. Eu quase termino com toda a garrafa de água, mas dou uma pausa por mais uma vez ficar sem fôlego. Caleb está encostado no canto da sala em silêncio, ele não abriu a boca desde que chegamos aqui, está agindo como se fizesse parte da decoração ou seja lá o que. Se a doutora não o tivesse visto entrando comigo na sala, ela provavelmente não notaria sua presença. Ainda bem que eu o trouxe, porque se Ingrid estivesse aqui agora, ela estaria rindo do meu desempenho horroroso. Sorrio com meus pensamentos e retomo a vida real quando doutora Sandra respira fundo e se aproxima mais uma vez para finalmente começar a explicar sobre o marcapasso e também sobre a púrpura. Como se já não bastasse ser inteira ferrada, é claro que descobrir uma nova doença estava nos meus planos o ano passado! Agora tenho que tratar disso também para que não piore.

— Então vamos ao que de verdade interessa, não é? — doutora Sandra puxa uma cadeira e senta ao lado da cama para começar a explicar — eu sei que você entende tudo muito bem, mas quero que se tiver qualquer dúvida você pergunte a mim imediatamente e eu poderei responder! Ok?

— Tudo bem.

— O marcapasso escolhido para você é o marcapasso biventricular. E, bem, em um marcapasso biventricular, um eletrodo está ligado ao átrio direito, um no ventrículo direito e um terceiro eletrodo no ventrículo esquerdo. E mesmo que você não entenda muito dessa parte funcional, eu preciso explicar para que você não se assuste muito na hora de assinar os papéis! — ela faz uma pequena pausa ao perceber a minha expressão de puro desespero.

Eu estou com medo, é claro que estou. Minha cabeça virou de ponta cabeça desde a hora que o Stephen voltou para a casa dele junto com a Ingrid e o Caleb foi embora. Eu fiquei sozinha no apartamento, sozinha com meus pensamentos perturbados que não me deixaram dormir. Passei a noite inteira tentando entender o por que da minha saúde ser tão debilitada se meus pais nunca tiveram nenhum tipo de problema de saúde. Eu nasci com o azar do mundo inteiro, tudo de ruim acontece comigo e eu sequer sei o por quê! Não é normal que alguém tenha tantos problemas.

— Tudo bem, pode continuar — engulo a última golada de água restante na garrafa e jogo no lixinho ao lado da cama.

— Eu preciso que saiba que alguns tipos de marcapasso também podem acelerar o ritmo do coração quando você está em atividade ou em exercício físico. Por isso teremos que cuidar muito bem para que isso não aconteça. O marcapasso faz isso usando um sensor especial que reconhece os movimentos do corpo e reage como se o coração estivesse funcionando normalmente, o que sabemos que não é o caso. O sensor vai controlar o ritmo dos teus batimentos e, assim que parar os exercícios, ele também vai fazer com que os batimentos voltem ao normal rapidamente, como um coração saudável faria.

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