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Ayla

     Caleb manteve a palavra. Faz vinte minutos que chegamos à empresa, e ele não desgrudou de mim, apesar da Ingrid estar implorando por celular para que ele vá almoçar com ela. Eu o fiz prometer que ficaria comigo o dia todo hoje, esse foi o único jeito de levantar da cama e vir trabalhar. Meu humor não está um dos melhores, enchi-me de bebidas alcoólicas ontem à noite com a Ingrid e agora sinto como se meus miolos fossem derreter. Mesmo exausta, levantei hoje de manhã e resolvi comigo mesma em frente ao espelho que trabalhar seria bom para a minha saúde mental, não posso ficar trancada no meu quarto para o resto da vida. Passei três dias dentro do quarto destruindo pacotes de salgadinho para tentar dispersar a tristeza, mas não funcionou muito bem. Andei refletindo muito sobre a ideia de colocar marca-passo, e por mais que isso esteja me incomodando profundamente, eu preciso ao menos escutar o que a médica tem a dizer. Marquei uma consulta com ela para o fim da tarde, disse que não poderia de manhã porque tinha uma reunião importantíssima, mas na verdade eu só estava com medo e estou usando o tempo para colocar essa ideia na minha cabeça como algo positivo.

Caleb está sentado na minha sala vasculhando as minhas coisas, impaciente. Eu disse a ele que sairíamos para almoçar às uma da tarde e que a Ingrid deveria nos encontrar no restaurante japonês que fica do outro lado da rua, mas ele está um pouco bravo por ter sido xingado por ela. Eu não entendo muito bem a relação deles, mas tenho certeza que é mais saudável e apropriada que a minha. No dia que chegamos de viagem eu estava disposta a ter uma conversa com o Stephen, mas de tão desgastada que minha mente já estava eu acabei desistindo quando vi aquela moça... a modelo, toda molhada sentada no sofá enquanto ele sorria para ela muito gentilmente. Eu não tenho motivos para tanta insegurança, mas de qualquer forma, que mulher não ficaria insegura com uma cena dessa? A mulher é fenomenal, nunca vi tão linda. E ela provavelmente não tem todos os problemas que eu tenho, o que facilitaria muito na vida do Stephen, e foi exatamente por isso que fui embora sem me despedir. Eu sou errada em deixá-lo no escuro desta maneira, estou agindo da pior maneira possível e eu admito! Mas e aquele pontinho de insegurança que grita sempre que penso em cirurgia no coração? Eu tenho medo de deixá-lo sozinho, ele é um homem incrível, tem capacidade de encontrar alguém ainda mais incrível que ele.

— Senhorita, Ingrid já chegou no restaurante — Caleb murmura, olhando-me de relance. Ergo a cabeça e percebo que já se passaram vinte minutos desde que tentei iniciar uma análise e não passei da parte inicial. Abaixo os braços — quer que eu diga a ela que não poderemos ir? Ela vai entender.

Pergunta, soando um pouco mais que receoso. Balanço negativamente a cabeça, negando. Eu não vou o prender aqui comigo, por mais que essa seja a minha maior vontade no momento.

— Não, Caleb. Tudo bem, você pode ir almoçar com a Ingrid! Diga a ela que eu estou literalmente atolada em tanto trabalho, não posso sair daqui pelo menos até terminar metade disso e... acredite, eu não estou nem na metade!

— Tem certeza, senhorita? Espairecer um pouco lhe faria bem, você pode se sentir melhor se receber um abraço da Ingrid — Caleb sugere com um delicado sorriso nos lábios. Sorrio de volta e nego outra vez — eu trarei algo para a senhorita comer, então!

— Tudo bem. Obrigada, Caleb.

Estendo as mãos para ele, ele imediatamente toca meus dedos e os beija. É inevitável o sorriso. Eu odeio esse tipo de romantismo, mas as vezes, ou no momento em que me encontro, isso me ajuda a me sentir menos pior. Volto a minha posição anterior e o assisto sair da sala com rapidez para que eu não consiga olhar para a sala da frente. Estratégico! Eu passo o dia todo recolhendo migalhas, até mesmo quando cheguei fiquei entretida com a sala do Stephen por um bom tempo, mas aí Caleb me colocou dentro da minha sala e me impediu de vê-lo quando as portas do elevador se abriram e a voz dele ecoou em todo o salão. Ele está me ajudando muito com isso, eu deixei bem claro para ele que eu não queria e não podia ver o Stephen de qualquer jeito, queria manter distância. Ele está cumprindo o acordo dele de ficar o dia todo comigo para me impedir de cometer loucuras, porque se fosse por mim eu já estaria dentro da sala dele o abraçando ou simplesmente conversando sobre a vida, mas não é assim que as coisas funcionam. Eu preciso de espaço, tudo o que aconteceu me magoou muito, eu não quero ficar desse jeito, e eu sei que se for até a sala do Stephen eu vou cair no choro e as coisas vão piorar ainda mais.

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